Doença é a mais incidente em idosos e pode piorar os sintomas do Alzheimer


Com o aumento da longevidade, especialistas alertam que os casos de problemas de saúde relacionados ao envelhecimento aumentarão - entre eles, a demência. Preocupados com esse cenário, pesquisadores britânicos resolveram investigar os mecanismos relacionados à doença dos pequenos vasos cerebrais (DPVC), uma das principais causas da demência vascular em idosos. Eles descobriram que um desequilíbrio em grupo de células neurais está relacionado à enfermidade e conseguiram corrigir a alteração usando drogas já existentes no mercado. Os testes foram feitos em ratos e detalhados na última edição da revista Science Translational Medicine. Para a equipe, os resultados abrem possibilidade até de reversão da demência vascular.

A DPVC também pode piorar os sintomas da doença de Alzheimer, a demência mais incidente no mundo, e é uma das principais causas de acidente vascular cerebral (AVC), representando cerca de um em cada cinco casos. Os pesquisadores britânicos explicam que, até agora, não se sabia como as alterações da DPVC causavam danos às células cerebrais. Eles conseguiram entender esse mecanismo estudando o cérebro de humanos que tiveram a enfermidade.
A primeira descoberta foi a de que o órgão abrigava células endoteliais (ECs) disfuncionais. Agindo normalmente, essas estruturas ajudam a impedir que substâncias e células indesejadas entrem no cérebro. O desequilíbrio, porém, faz com que elas segreguem uma molécula no cérebro que interrompe a produção da mielina, a camada protetora do órgão, o que leva a danos neurais. “Isso nos ajuda a entender por que essa doença ocorre, fornecendo uma ligação direta entre pequenos vasos sanguíneos e alterações no cérebro ligadas à demência”, explica, em comunicado, Anna Williams, autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Edimburgo.

Após detectar a causa da DPVC, os cientistas começaram a buscar formas de reverter os danos neurais causados pela doença. Em experimento com ratos, observaram que drogas já prescritas, como a sinvastatina - usada para para baixar o colesterol -, reverteram as anormalidades após sete semanas de tratamento. “Isso nos mostra que essas mudanças podem ser reversíveis, abrem um novo caminho para tratamentos em potencial”, ressalta Williams. A autora adianta que mais estudos vão testar se o tratamento também funciona quando a doença está mais estabelecida.

Ajuda à prevenção

Cláudio Roberto Carneiro, coordenador de Neurologia do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurologia (SBN), também acredita que os resultados, se confirmados em humanos, têm potencial para ajudar no enfrentamento da doença. “Atualmente, recomendamos atividade física e dietas, mas, ainda assim, o tratamento preventivo é algo complicado”, diz. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, a cada ano, são diagnosticados 10 milhões de casos de demência.

Para o neurologista, a escolha por medicamentos já usados é outro dado animador da pesquisa britânica. “É importante o que eles fizeram - descobrir qual o mecanismo envolvido nessa doença - e é positivo o fato de os medicamentos testados já serem usados. Sabemos que muitos remédios podem ter efeitos múltiplos, servindo para mais de uma enfermidade, o que também facilita testes futuros”, explica.

O especialista acredita que pesquisas seguintes serão necessárias para confirmar as descobertas do trabalho britânico e avaliar se a estratégia também é capaz de reverter casos avançados da doença. “Essas drogas funcionaram em laboratório, mas foi com animais apenas. Seria interessante testar em pacientes com a doença avançada, por exemplo, aqueles que não têm mais nenhuma opção, e ver se esses medicamentos repetem os resultados positivos”, opina.