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Marcado pela campanha de prevenção ao câncer de mama, o mês de outubro deste ano expôs dados preocupantes sobre as mamografias realizadas, neste ano, no Sistema Único de Saúde (SUS). O número de exames feitos na rede pública caiu quase pela metade, de janeiro a julho deste ano, na comparação ao mesmo período do ano passado: 47%. Foram 998.542 procedimentos a menos entre um ano e outro, totalizando 1.132.237 exames nos sete meses de 2020.
O principal motivo da redução apontado pelo Ministério da Saúde foi a pandemia de covid-19. Especialistas alertam que a supressão da demanda pelo exame, considerado essencial para o diagnóstico precoce, pode acarretar casos de câncer de mama mais evoluídos em um futuro próximo.
Essa é justamente a preocupação de Felipe Teles, radioncologista do Hospital Imaculada Conceição e membro titular da Sociedade Brasileira de Radioterapia. O médico acredita que a incidência de casos de câncer de mama prevista para o ano não sofrerá alterações, mas indica que, provavelmente, os pacientes devem descobrir a doença em estágios mais avançados. “O que vamos ver é doenças mais evoluídas, com necessidade de terapias mais agressivas e uma taxa de resultados positivos menores”, ressalta.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, até o final deste ano, 66.280 novos casos da doença serão diagnosticados. O número representa 29% de todos os tumores malignos em pessoas do sexo feminino, exceto o câncer de pele estimados pela entidade. A incidência do câncer de mama é superior à soma da incidência de casos de câncer de pulmão, traqueia, brônquio, colo do útero, colorretal e glândula tireóide.
A médica patologista Marina de Brot, secretária-geral da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e titular do Departamento de Anatomia Patológica do A.C. Camargo Cancer Center, preocupa-se com a falsa pequena incidência de casos de câncer de mama que pode ser revelada neste ano por causa do represamento dos exames.
“A incidência de casos detectada este ano pode ser até que reduza discretamente se a gente não conseguir compensar os números de exames até o final de 2020. Esses números serão falsamente menores e vão repercutir só no ano que vem porque os casos não vão deixar de acontecer”, reforça. A patologista explica que a mamografia é o principal exame de imagem para o rastreamento de tumores malignos nas mamas das mulheres.
“O autoexame é importante no sentido de a paciente estar sempre atenta às próprias mamas. Geralmente, pelo toque, a paciente consegue identificar um nódulo na mama, que, para ser palpável, tem, no mínimo, 1,5cm. Esse provável câncer ainda está em um estágio precoce, mas, para diagnosticar ainda antes, é necessária a mamografia”, indica Marina. Ela explica que, no exame radiológico, é possível identificar o carcinoma de mama “in situ”, que tem origem dentro do ducto mamário e não ultrapassa a sua parede, ou seja, não origina metástase. Por isso, a mamografia é vista como essencial na prevenção do câncer que mais mata as mulheres.
Pandemia
O especialista em gestão em saúde e fundador e CEO da GesSaúde, Roberto Gordilho, alerta que, de uma forma geral, a realização da maioria dos procedimentos caiu em relação ao mesmo período de 2019 por conta da covid-19. Para ele, o exemplo da mamografia é emblemático. “Esse é um exame preventivo fundamental para identificação precoce do câncer de mama. Ele não deixou de existir, apenas deixou de ser diagnosticado”, afirma. Para incentivar a população a retomar os exames, o especialista acredita que a gestão pública precisa restabelecer a confiança da população nas unidades de saúde como locais seguros.
“Em função da pandemia, as unidades de saúde ficaram muito associadas à contaminação de covid e muitas pessoas resistiram e ainda resistem a procurá-las”, pontua. O problema, no entanto, não ocorre apenas no Brasil. Segundo a diretora do Departamento de Atenção Especializada e Temática do Ministério da Saúde, Maira Botelho, cerca de 41% dos países reportaram interrupção de programas de rastreamento.
Campanha
Para Gordilho, outro ponto que deve ser explorado pelo poder público para aumentar o número de mamografias feitas ainda este ano são as campanhas. Na última quarta-feira, o Ministério da Saúde lançou a campanha Outubro Rosa 2020, com o slogan “Cuidado com as mamas, carinho com seu corpo”. A recomendação do ministério é que mulheres sem sintomas ou sinais de doença com idade entre 50 a 69 anos façam a mamografia a cada dois anos. Contudo, a maioria de ginecologistas indica que, depois dos 40 anos, é preciso realizar a mamografia anualmente, a fim de, justamente, evitar o risco de um diagnóstico tardio.
O secretário de Atenção Especializada à Saúde, Luiz Otávio Franco Duarte, minimiza a queda no número de exames neste ano e a classifica como um “desnível temporário”. “Com a política bem formada e utilizando a informação, poderemos suplementar esse desnível temporário”, afirma.
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O principal motivo da redução apontado pelo Ministério da Saúde foi a pandemia de covid-19. Especialistas alertam que a supressão da demanda pelo exame, considerado essencial para o diagnóstico precoce, pode acarretar casos de câncer de mama mais evoluídos em um futuro próximo.
Essa é justamente a preocupação de Felipe Teles, radioncologista do Hospital Imaculada Conceição e membro titular da Sociedade Brasileira de Radioterapia. O médico acredita que a incidência de casos de câncer de mama prevista para o ano não sofrerá alterações, mas indica que, provavelmente, os pacientes devem descobrir a doença em estágios mais avançados. “O que vamos ver é doenças mais evoluídas, com necessidade de terapias mais agressivas e uma taxa de resultados positivos menores”, ressalta.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que, até o final deste ano, 66.280 novos casos da doença serão diagnosticados. O número representa 29% de todos os tumores malignos em pessoas do sexo feminino, exceto o câncer de pele estimados pela entidade. A incidência do câncer de mama é superior à soma da incidência de casos de câncer de pulmão, traqueia, brônquio, colo do útero, colorretal e glândula tireóide.
A médica patologista Marina de Brot, secretária-geral da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e titular do Departamento de Anatomia Patológica do A.C. Camargo Cancer Center, preocupa-se com a falsa pequena incidência de casos de câncer de mama que pode ser revelada neste ano por causa do represamento dos exames.
“A incidência de casos detectada este ano pode ser até que reduza discretamente se a gente não conseguir compensar os números de exames até o final de 2020. Esses números serão falsamente menores e vão repercutir só no ano que vem porque os casos não vão deixar de acontecer”, reforça. A patologista explica que a mamografia é o principal exame de imagem para o rastreamento de tumores malignos nas mamas das mulheres.
“O autoexame é importante no sentido de a paciente estar sempre atenta às próprias mamas. Geralmente, pelo toque, a paciente consegue identificar um nódulo na mama, que, para ser palpável, tem, no mínimo, 1,5cm. Esse provável câncer ainda está em um estágio precoce, mas, para diagnosticar ainda antes, é necessária a mamografia”, indica Marina. Ela explica que, no exame radiológico, é possível identificar o carcinoma de mama “in situ”, que tem origem dentro do ducto mamário e não ultrapassa a sua parede, ou seja, não origina metástase. Por isso, a mamografia é vista como essencial na prevenção do câncer que mais mata as mulheres.
Pandemia
O especialista em gestão em saúde e fundador e CEO da GesSaúde, Roberto Gordilho, alerta que, de uma forma geral, a realização da maioria dos procedimentos caiu em relação ao mesmo período de 2019 por conta da covid-19. Para ele, o exemplo da mamografia é emblemático. “Esse é um exame preventivo fundamental para identificação precoce do câncer de mama. Ele não deixou de existir, apenas deixou de ser diagnosticado”, afirma. Para incentivar a população a retomar os exames, o especialista acredita que a gestão pública precisa restabelecer a confiança da população nas unidades de saúde como locais seguros.
“Em função da pandemia, as unidades de saúde ficaram muito associadas à contaminação de covid e muitas pessoas resistiram e ainda resistem a procurá-las”, pontua. O problema, no entanto, não ocorre apenas no Brasil. Segundo a diretora do Departamento de Atenção Especializada e Temática do Ministério da Saúde, Maira Botelho, cerca de 41% dos países reportaram interrupção de programas de rastreamento.
Campanha
Para Gordilho, outro ponto que deve ser explorado pelo poder público para aumentar o número de mamografias feitas ainda este ano são as campanhas. Na última quarta-feira, o Ministério da Saúde lançou a campanha Outubro Rosa 2020, com o slogan “Cuidado com as mamas, carinho com seu corpo”. A recomendação do ministério é que mulheres sem sintomas ou sinais de doença com idade entre 50 a 69 anos façam a mamografia a cada dois anos. Contudo, a maioria de ginecologistas indica que, depois dos 40 anos, é preciso realizar a mamografia anualmente, a fim de, justamente, evitar o risco de um diagnóstico tardio.
O secretário de Atenção Especializada à Saúde, Luiz Otávio Franco Duarte, minimiza a queda no número de exames neste ano e a classifica como um “desnível temporário”. “Com a política bem formada e utilizando a informação, poderemos suplementar esse desnível temporário”, afirma.