Foram 74 óbitos no país em 2010 contra 184 registrados no ano passado; em Minas, casos de picadas caíram em relação a 2017, mas óbitos aumentaram
O escorpião amarelo – um aracnídeo de apenas 7 cm, mas com um veneno poderoso – foi responsável pelo aumento de 138% no número de casos de picadas por escorpião em todo o país em um período de sete anos. O registro saltou de 52.509 em 2010 para 124.903 no ano passado. A quantidade de mortes também preocupa: o aumento foi ainda maior: de 152%, saindo de 74 em 2010 para 184 em 2017.
Em Minas Gerais – o segundo Estado com mais casos, atrás apenas de São Paulo –, o número de picadas de escorpião caiu no ano passado em relação a 2018. Foram 28.649 em 2017 contra 21.766 casos neste ano. As mortes, no entanto, aumentaram de 28 para 29.
Segundo o médico Adebal Andrade Filho, coordenador da Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII (referência no tratamento de picadas de animais peçonhentos em Minas), os casos são classificados em leves, moderados e graves. E, mesmo que os dois últimos correspondam a apenas 4% do total, todo cuidado é necessário.
“A transição entre esses estados vai depender do organismo da vítima e do tempo para ela ser atendida. O ideal é que a vítima seja atendida até duas horas após o ataque”, afirma.
Segundo o especialista, crianças e idosos são as maiores vítimas. “Aquelas menores de 7 anos ainda não têm o sistema imunológico totalmente formado, diferentemente dos idosos, cujo sistema começa a apresentar limitações”, esclarece.
Em Itapecerica, no Centro-Oeste mineiro, o motorista Jânio Diniz, 63, teve sorte. Graças ao atendimento rápido, ele não precisou tomar o soro. “Eu não percebi que o escorpião estava perto do meu pé até ser picado. A dor foi muito grande. Fui com minha esposa até o pronto-socorro. Fiquei em observação por 24 horas, e eles me liberaram”, conta.
No caso de picada, Andrade Filho explica que a necessidade de se tomar o soro é analisada pelo médico que faz o atendimento. “Ele avalia os sintomas do paciente, que deve permanecer em observação por, pelo menos seis horas. Na maioria das vezes, o tratamento inclui somente analgésicos para tratar a dor local”, diz.
De acordo com Rômulo Toledo, chefe do Serviço de Animais Peçonhentos da Fundação Ezequiel Dias (Funed), os tipos mais perigosos de escorpião no país são o amarelo (o terceiro mais venenoso do mundo) e o preto. “Seus venenos são os mais fatais para os seres humanos, porque podem matar em poucas horas”, explica Toledo.
Orientação. Equipes da Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII se revezam 24 horas por dia para atender médicos e pessoas que tenham dúvidas quanto a picadas de bichos peçonhentos. Basta ligar para o telefone (31) 3224-4000.
Abastecimento do soro está reduzido
A produção nacional do soro antiescorpiônico é realizada por três instituições: Fundação Ezequiel Dias (Funed), em Minas; Vital Brazil, no Rio de Janeiro; e Instituto Butantã, em São Paulo. A distribuição fica por conta do Ministério da Saúde.
Nos últimos anos, o abastecimento nas unidades de saúde do país tem sido reduzido. Desde o ano passado, a Funed está com sua produção interrompida. O serviço é responsável por até 40% do abastecimento nacional.
“Nossas instalações eram muito antigas e já estavam limitando a nossa capacidade de produção. Estamos finalizando a reforma estrutural e a substituição dos equipamentos. A previsão é que, até o fim do próximo semestre, retornaremos às atividades”, diz Rômulo Toledo, chefe do Serviço de Animais Peçonhentos da Funed.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES) de Minas Gerais informou que os estoques estão menores, mas que isso não impediu nenhum tratamento até o momento.