Pesquisadores temem que atual geração de vacinas, hoje eficazes, deixem de fazer efeito
São Paulo. Desde 2006, a atual geração de vacinas tem dado conta de prevenir a maior parte dos casos de rotavírus, que causa vômitos, cólicas, diarreia e é responsável por 40% das internações hospitalares de crianças no Brasil. No entanto, um sinal amarelo foi aceso com a identificação de duas novas cepas no país, alerta um novo estudo.
O trabalho, publicado na revista científica “Journal of General Virology” e que envolveu pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz (IAL) e do Instituto de Medicina Tropical da USP, mostrou que uma cepa que mistura material genético de vírus equino com vírus humano é hoje a mais comum nas análises (material do Centro-Oeste, Sul e parte do Sudeste) que chegam ao IAL.
O rotavírus equino-humano apareceu no país em 2015. Em 2017, já correspondia a 80% de todas as amostras positivas para rotavírus. Esse tipo de combinação das partes entre as cepas que infectam animais diferentes não é tão raro, afirma a pesquisadora Adriana Luchs, do Adolfo Lutz. Só que, geralmente, os vírus resultantes dessas combinações acabam num “beco sem saída”, infecciosamente falando – eles até são capazes de infectar mamíferos ou aves, mas não conseguem infectar outro animal.
A pesquisa de Luchs e colaboradores, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também identificou um outro vírus, o DS-1-like G1P, encontrado só na Ásia. Essa cepa provavelmente veio daquele continente. Apesar de ter sido um achado pontual, em 2013, tem importância: a partir da cepa G1P que foi formulada a primeira vacina. E ela tem funcionado bem contra todos os parentes que têm esse sobrenome P, que identifica uma das proteínas presentes na superfície do vírus.
Uma emergência desse subtipo poderia indicar que a vacina está deixando de fazer efeito, por isso é importante manter o monitoramento. A transmissão do rotavírus se dá geralmente pela via fecal-oral: o vírus é dispersado pelas fezes.