AGRONEGÓCIO

Uma pesquisa recentemente divulgada na revista científica ‘Desenvolvimento e Meio Ambiente’ revelou que as vendas de produtos orgânicos no Brasil cresceram quatro vezes entre 2003 e 2017. Em 2020, registraram uma expansão de 30%, movimentando R$ 5,8 bilhões. Além disso, o estudo destacou um aumento de 75% no cadastro de produtores orgânicos no país de 2017 a 2022.

Na cidade de Montes Claros, Norte de Minas, 50 produtores estão focados em produtos agroecológicos, como a agricultora Maria Suely Santos Pereira Silva. Embora não tenham o selo de produção orgânica, esses produtos se aproximam dessa categoria, utilizando métodos naturais no combate a pragas. “Já tentamos até, mas esbarramos em algumas situações burocráticas e financeiras que não cabem ainda no nosso orçamento”, lamenta. 

Maria Suely compartilha sua experiência de transição para métodos mais naturais, destacando a resistência inicial do mercado, que hoje está mudando. “Teve uma época em que as pessoas não consumiam esse tipo de alimento, porque eles gostavam de ver um alimento bonito. Comiam com os olhos, como dizem, e como o da gente é mais feio, menor, não vendia. Não entendiam que o produto que não é queimado pelo sol, leva muita química. Mas está mudando. As pessoas estão entendendo que o que é bonito na agricultura, tantas vezes, não é saudável”, enfatiza.

Ela conta que tem clientes que estão com ela desde que começou a sua produção familiar. “Eles não abrem mão dessa vida saudável. Temos também clientes que são nutricionistas que indicam as clientes delas pra gente, para a nossa horta. Então, isso pra gente é motivo de muito orgulho, né?! É muito gratificante pra gente, saber que a gente coloca um produto de qualidade na mesa das pessoas. E o bom é que no início precisava a gente incentivar isso, agora não. Basta a pessoa consumir o produto pra ela saber o quanto o produto é bom, pra ela saber que vale a pena”, diz satisfeita a produtora. 

Desde que começou a produção, Silva explica que aumentou as vendas, e com isso as entradas subiram 80%. “A medida que vai aumentando a demanda, a gente tem que aumentar a produção, né? E incrementamos a lista com mais variedades de produtos. Hoje vivemos com o que vendemos sem problemas”, informa. 
 
MAIS SAÚDE

Consumidora convicta é a nutricionista Rosana Lins que há muitos anos consome produtos naturais. “Opto por consumir produtos orgânicos devido à ausência de agrotó-xicos, que considero veneno. Além de serem mais saudáveis, esses alimentos têm maior quantidade de nutrientes e não estão contaminados. A escolha por produtos orgânicos contribui para a saúde, durabilidade dos alimentos e apoio à agricultura familiar. Ao incentivar essa prática, cria-se uma demanda crescente, tornando os produtos mais acessíveis para todos”, explica. 

Para Lins, o aumento das doenças está relacionado ao consumo excessivo de alimentos altamente processados, que contêm muitas vezes contaminantes. “Mesmo ao tentar minimizar esses riscos, é difícil evitar completamente a contaminação de verduras e legumes, contribuindo para um elevado índice de câncer”, informa. 

ESCOAMENTO

Os produtos dos agricultores familiares de MOC são distribuídos tanto na própria cidade quanto no município vizinho, Bocaiuva. Para o extensionista da Emater de MOC, José Carlos Dias Santos, o que se tem no município são agricultores nessa transição do convencional para o produto agroecológico. 

“A grande parte desses produtos são sim produzidos sem veneno, mas não podem ser considerados como orgânicos só por falta de um selo. Mas são naturais, sem veneno”, explica. 

Apesar do crescimento na região, não há dados precisos sobre arrecadação e produção, segundo informa Santos. “O número de agricultores adotando práticas sem veneno está aumentando, impulsionado pela compreensão da viabilidade econômica e pela demanda do mercado. A região está em transição da produção convencional para a agroecológica, com perspectivas de uma possível mudança para a produção orgânica no futuro”, informa. 

Santos ressalta também o comportamento do cliente/consumidor, em relação ao preço. “Nós temos um problema sério que é quanto ao valor agregado ao produto orgânico. Ou seja, nós consumidores queremos comprar um produto agroecológico, um produto sem veneno, pagando pelo mesmo preço de um produto com veneno”, destaca.

Fonte:onorte.net