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Uma definição incorreta sobre o que realmente significa comorbidade pode estar fazendo com que muitas pessoas sejam imunizadas contra o coronavírus sem que haja realmente um quadro de saúde que justifique a prioridade. O alerta é do epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) Paulo Lotufo.
Comorbidades, segundo ele, são relacionadas a doenças crônicas, situações que persistem ao longo da vida, diferentemente das doenças agudas, que duram apenas um intervalo de tempo.
Comorbidade é quando duas ou mais doenças estão relacionadas. A classificação "diagnóstica" ocorre quando as manifestações da doença associada forem similares às da doença primária; e comorbidade prognóstica ocorre quando existem doenças que predispõem o paciente a desenvolver outras doenças.
"Por exemplo, um fumante pesado que tem bronquite crônica e adquiriu problemas cardíacos. Ou como acontece com diabetes e depressão: pessoas deprimidas têm mais chance de ter diabetes, e diabéticos muitas vezes apresentam a depressão. São doenças que podem ter as causas diretamente relacionadas ou não", explica Paulo Lotufo.
O que vem sendo feito no enfrentamento da pandemia no Brasil, nas palavras do especialista, é "um erro crasso que terá consequências". "O correto é vacinar os setores com exposição constante e elevada e, não quem é hipertenso", postou o médico no Twitter.
Conforme Lotufo, se faz necessário que o critério de comorbidade, que ele considera esdrúxulo, seja redifinido para "doenças prévias graves".
São questões que vão além de uma simples confusão em relação a terminologias. Isso tem feito com que pessoas que não são dos grupos de risco passem na frente de outras, que precisam mais, na fila da vacinas.
"Uma coisa é apresentar um documento que comprova um tratamento de câncer, outra é utilizar uma receita de um hipertensivo, o que vem sendo aceito. Vêm sendo aceitas, inclusive, receitas médicas datadas de até dois anos atrás", constata.
"Será a insolvência do programa vacinal com uma demanda inflacionada por atestados e receituários verdadeiros, ou não, de hipertensão e doença cardíaca. Hipertensão nem é doença, é um fator de risco para outras", critica Paulo Lotufo.
Em sua opinião, um indivíduo que trabalha em um supermercado ou em uma padaria, mais exposto, e com um serviço considerado essencial, por exemplo, deveria estar entre as prioridades. "São fundamentais para a sociedade", acrescenta.
No caso de uma doença infecciosa aguda como a COVID-19, o epidemiologista diz que o termo não se aplica.
"Não se fala em comorbidade para uma doença aguda, é uma doença que acaba. A prioridade deve ser para indivíduos em situações de saúde que podem se agravar caso aconteça o contágio pelo coronavírus, como pacientes em tratamento oncológico ou transplantados, por exemplo. O raciocínio que está guiando a vacinação agora, quanto a isso, é um absurdo", pontua o professor.
A vacina, quando se pensa em comorbidade, deve ser orientada para quem pode ter uma sobrevida melhor com ela, priorizando casos em que a COVID altera menos a história natural da doença. "Não é porque a pessoa é cardíaca que tem mais chance de ter a COVID-19. Se tiver tido um infarto, com a COVID a chance de sobrevida é menor. Está invertido", conclui Paulo Lotufo.
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Comorbidades, segundo ele, são relacionadas a doenças crônicas, situações que persistem ao longo da vida, diferentemente das doenças agudas, que duram apenas um intervalo de tempo.
Comorbidade é quando duas ou mais doenças estão relacionadas. A classificação "diagnóstica" ocorre quando as manifestações da doença associada forem similares às da doença primária; e comorbidade prognóstica ocorre quando existem doenças que predispõem o paciente a desenvolver outras doenças.
"Por exemplo, um fumante pesado que tem bronquite crônica e adquiriu problemas cardíacos. Ou como acontece com diabetes e depressão: pessoas deprimidas têm mais chance de ter diabetes, e diabéticos muitas vezes apresentam a depressão. São doenças que podem ter as causas diretamente relacionadas ou não", explica Paulo Lotufo.
O que vem sendo feito no enfrentamento da pandemia no Brasil, nas palavras do especialista, é "um erro crasso que terá consequências". "O correto é vacinar os setores com exposição constante e elevada e, não quem é hipertenso", postou o médico no Twitter.
Conforme Lotufo, se faz necessário que o critério de comorbidade, que ele considera esdrúxulo, seja redifinido para "doenças prévias graves".
São questões que vão além de uma simples confusão em relação a terminologias. Isso tem feito com que pessoas que não são dos grupos de risco passem na frente de outras, que precisam mais, na fila da vacinas.
"Uma coisa é apresentar um documento que comprova um tratamento de câncer, outra é utilizar uma receita de um hipertensivo, o que vem sendo aceito. Vêm sendo aceitas, inclusive, receitas médicas datadas de até dois anos atrás", constata.
"Será a insolvência do programa vacinal com uma demanda inflacionada por atestados e receituários verdadeiros, ou não, de hipertensão e doença cardíaca. Hipertensão nem é doença, é um fator de risco para outras", critica Paulo Lotufo.
Em sua opinião, um indivíduo que trabalha em um supermercado ou em uma padaria, mais exposto, e com um serviço considerado essencial, por exemplo, deveria estar entre as prioridades. "São fundamentais para a sociedade", acrescenta.
No caso de uma doença infecciosa aguda como a COVID-19, o epidemiologista diz que o termo não se aplica.
"Não se fala em comorbidade para uma doença aguda, é uma doença que acaba. A prioridade deve ser para indivíduos em situações de saúde que podem se agravar caso aconteça o contágio pelo coronavírus, como pacientes em tratamento oncológico ou transplantados, por exemplo. O raciocínio que está guiando a vacinação agora, quanto a isso, é um absurdo", pontua o professor.
A vacina, quando se pensa em comorbidade, deve ser orientada para quem pode ter uma sobrevida melhor com ela, priorizando casos em que a COVID altera menos a história natural da doença. "Não é porque a pessoa é cardíaca que tem mais chance de ter a COVID-19. Se tiver tido um infarto, com a COVID a chance de sobrevida é menor. Está invertido", conclui Paulo Lotufo.