Governo começou com pé direito na política e acumulou forças para aprovar suas reformas e projetos; mercado deve reagir com festa nesta segunda-feira
A Bovespa tem motivos para abrir em festa nesta segunda-feira (4): o governo Bolsonaro começou com pé direito no Congresso Nacional, colecionando vitórias e conquistas que devem favorecer muito a aprovação da sua pauta de projetos e reformas. Até agora, o governismo está triunfando no legislativo. Melhor que o esperado.
O governismo venceu as eleições na Câmara e no Senado, com aliados assumindo o comando das duas casas. Ao menos entre os deputados, o Planalto já garantiu a sua maioria com um superbloco de 301 parlamentares liderado pelo partido oficial, PSL, que irá presidir as duas comissões mais importantes: a CCJ (Constituição e Justiça) e a CFT (Tributação e Finanças). Ao todo, partidos governistas irão comandar 15 das 25 comissões permanentes da Câmara. E a oposição está rachada, dividida entre outros dois blocos, cada um com cerca de 100 membros.
Os novos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, devem muito de suas vitórias a méritos e esforços próprios; o deputado é um experiente articulador e o senador um hábil colecionador de amigos. Nenhum dos dois faz o tipo pau mandado. Ambos têm projetos pessoais de poder. E não abrem mão do protagonismo que os seus cargos proporcionam. Eles podem dar algum trabalho ao Planalto, especialmente Maia. Mas, as tensões e os conflitos entre executivo e legislativo são naturais, e até desejáveis, em sistemas mais democráticos.
O relacionamento do governo Bolsonaro com o Congresso não será uma maravilha. Nunca é. Não existe apoio de graça na política; todo projeto para vingar exige negociações intrincadas, não raro com táticas de pressão e jogos de persuasão. Assim como os seus antecessores, Bolsonaro deve enfrentar momentos de forte estresse com deputados e senadores; sua paciência será constantemente desafiada. Nunca contará com uma maioria sólida e firme, principalmente no Senado, uma casa de ex-presidentes e ex-governadores. Mas não se vislumbra nenhuma dificuldade extraordinária, nada que não possa ser superado.
O governo Bolsonaro começou bem e pode continuar assim. Mostrou nas eleições legislativas capacidade para operar a política, nas regras do manual de Brasília. E conta a seu favor com uma característica inerente aos congressistas brasileiros: eles são atavicamente governistas. Nos últimos 30 anos, o Congresso Nacional só não foi governista e se voltou contra o presidente em dois momentos: na deposição de Fernando Collor em 1992 e de Dilma Rousseff em 2015. Os deputados e senadores brasileiros são tão governistas que não sabem ser oposição. Ou apoiam o governo. Ou o derrubam. Para voltarem a ser governistas.
EXPOSIÇÃO A RISCO
O mercado financeiro pode soltar os rojões porque o Congresso, a julgar por sua história passada e decisões recentes, caminha para dar amplo apoio às principais iniciativas de Bolsonaro. A política não deve estragar os planos do governo ou contaminar a economia.
Por que incrível que pareça, o maior risco para o governo no Congresso é o perfil ou biografia de alguns de seus principais aliados, como o novo presidente do Senado. Davi Alcolumbre responde a dois processos no STF por caixa dois e falsificação de documentos na eleição de 2014, quando se elegeu senador pelo Amapá. O grande perigo para o governo é a exposição a mais escândalos, quando ainda não explicou nem superou o imbróglio da movimentação financeira do senador Flávio Bolsonaro.