COMITIVA DE SENADORES

Na semana em que a sobretaxa de 50% às exportações brasileiras pode entrar em vigor, uma comitiva de senadores chega aos Estados Unidos para mitigar os danos atrelados à medida anunciada por Donald Trump no início de julho. Carlos Viana (Podemos) é o integrante mineiro do grupo e foi designado como representante do setor industrial nas negociações. Ao Estado de Minas, ele fala sobre a expectativa em relação às agendas que vão desta segunda (28/7) até a quarta-feira (30/7).

Segundo Viana, o objetivo central do grupo formado por oito parlamentares é adiar a entrada em vigor do tarifaço, marcada para 1º de agosto. Entre as aspirações paralelas, o mineiro destaca que o grupo de senadores quer oferecer aos brasileiros uma explicação mais completa sobre o estágio atual da relação diplomática entre Brasil e Estados Unidos além das percepções ideológicas.

Trump justificou a sobretaxa imposta ao Brasil como uma represália ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. A medida nociva para a economia brasileira foi comemorada pelo filho do ex-presidente, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que atua nos Estados Unidos desde abril. No cenário doméstico, a decisão americana alimentou a cizânia entre bolsonaristas, o Judiciário e o governo federal.

Para Carlos Viana, é preciso fugir das versões marcadas pela ideologia. O senador quer uma explicação vinda direta das autoridades americanas sem o intermédio de Eduardo Bolsonaro e critica também o que considera uma postura muito à esquerda por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Leia mais na entrevista abaixo

ENTREVISTA

Qual é a expectativa da viagem dessa comitiva aos Estados Unidos e quais serão os primeiros passos da missão?

Na segunda-feira, teremos a primeira reunião de trabalho com a embaixada brasileira. Queremos entender com clareza o estado dos diálogos diplomáticos entre o Brasil e os Estados Unidos. O embaixador Mauro Vieira já nos disse que eles não estão respondendo, mas a embaixada possui vários setores, inclusive o comercial. Queremos saber deles qual a situação. Cada senador está buscando contatos diferentes: Marcos Pontes (PL-SP) na área de tecnologia, Tereza Cristina (PP-MS) com importadores do agro, e eu estou trabalhando pela indústria. Estou em Miami e me reunirei com três escritórios de advocacia ligados aos Republicanos, que nos ajudarão a buscar contatos. Na segunda, cada um levará um relatório do que conseguiu e da situação atual.

O fato de que existem parlamentares brasileiros se manifestando a favor do tarifaço ou ao menos não questionando as motivações de Trump pode atrapalhar no acesso da comitiva aos políticos americanos?

Os norte-americanos usam uma linguagem mercantil. Trump anuncia sanções, os países negociam e um novo patamar é estabelecido. Queremos entender com clareza o que ele quer: são minerais estratégicos, são novos contratos? Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo estão nos transmitindo informações, mas queremos ouvir diretamente dos Republicanos e da Casa Branca.

Então, além de tentar evitar as tarifas, a comitiva objetiva esclarecer o que há por trás da declaração do Tribunal e da carta?

Exatamente. Temos apenas narrativas. Eduardo Bolsonaro fez uma narrativa dizendo que há um problema com (Jair) Bolsonaro. Queremos ouvir isso diretamente dos representantes oficiais. Se eles querem minerais raros, então vamos sentar à mesa e negociar. Todo investimento é bem-vindo, desde que siga as regras do Brasil. Precisamos entender o que está acontecendo.