RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - O prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (Republicanos-RJ), afirmou nesta segunda-feira (12) que a ameaça de retirada de sua mulher, Daniela Carneiro (União Brasil-RJ), do Ministério do Turismo é resultado de falhas na articulação do governo Lula (PT).

Um dos raros prefeitos a apoiar o presidente na eleição do ano passado na Baixada Fluminense, região em que Jair Bolsonaro teve mais de 60% dos votos, Waguinho afirma que será um erro tirar uma aliada mulher, evangélica que ajuda o governo a entrar numa área bolsonarista.

"É muito ruim trocar uma mulher, evangélica e mais votada no Rio de Janeiro, que defendeu Lula num estado bolsonarista. Pior é colocar um homem e ainda por cima bolsonarista no lugar. Esta troca não está certa", disse o prefeito.

Daniela Carneiro anunciou pedido de desfiliação da União Brasil em abril, com o marido. Sua saída do ministério está em discussão por pressão de partidos no Congresso, onde o governo ainda enfrenta dificuldades de formar uma base fiel. A União Brasil tem demandado o cargo, enquanto o PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), cobiça a Saúde.

Waguinho, que está em Brasília, disse que aguarda o chamado para conversar com o presidente Lula. Ele vê a pressão sobre o governo como resultado de uma "articulação política que não consegue entregar o que fala".

"Parece haver uma guerra interna. O ministro Alexandre Padilha [Secretaria de Relações Institucionais] tem boa vontade. Atende e promete as nomeações. Mas não é ele que é dono do DO [Diário Oficial]", disse.

Questionado se a crítica era direcionada ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, responsável por assinar as principais nomeações, ele confirmou: "É o Rui Costa. Há uma guerra interna muito grande e o governo não consegue se alinhar."

As principais críticas do prefeito miram a União Brasil, partido que deixou após uma briga interna, e, principalmente, o deputado Celso Sabino (União Brasil-PA), cotado para substituir Daniela no cargo.

"Sabino fez de tudo para ganhar a Integração Nacional, as Comunicações, mas não quis bater de frente com o Juscelino [Filho, ministro], Elmar [Nascimento, deputado] e o [senador] Davi Alcolumbre. Agora partiu para dentro da Daniela. Covarde, machista. Ele esqueceu que ela tem marido. Não enxergo mulher como cota, mas como prioridade", disse o prefeito.

Ele também questionou se a troca em discussão dará ao governo o retorno em votos no Congresso prometido pela União Brasil.

"O [presidente da União Brasil, Luciano] Bivar, o [vice-presidente do partido, Antônio] Rueda e o Sabino estão mentindo. Eles têm a Integração Nacional, Comunicações, Codevasf e vários outros cargos importantes, e não conseguem entregar votos. Vão conseguir agora com um ministério que tem R$ 19 milhões de orçamento e praticamente sem cargos?", questionou Waguinho.

O prefeito disse que o Republicanos está disposto a apadrinhar a manutenção de Daniela no governo. "Mesmo não sendo da base, o Republicanos hoje entrega mais votos de sua bancada do que a União ."

Apesar da contrariedade com a articulação política do governo, o prefeito afirma que não deixará de apoiar o presidente Lula. "Fui Lula 1, Lula 2, Dilma 1, Dilma 2 e Lula 3. E serei Lula 4".

Ponderou, contudo, que o PT poderá ver o enfraquecimento do arco de alianças no estado.

"O Ministério do Turismo é muito representativo para o Rio de Janeiro. O enfraquecimento dessa aliança não vai ser culpa nossa. É um estado bolsonarista, com um governador bolsonarista, com um número de evangélicos imenso. E a gente acaba ficando sem instrumentos."