A saída de Igor Eto do Partido Novo gerou um mal-estar na legenda em Minas Gerais e atrapalhou a montagem das chapas com os candidatos que vão concorrer a deputado estadual e federal em 2026. Eto se filiou ao Avante para presidir o diretório estadual da sigla no estado na última semana. Antes da mudança, o ex-secretário de Governo na gestão de Romeu Zema era tratado como o principal candidato do Novo a uma cadeira na Câmara dos Deputados. 

O presidente estadual do Novo, Christopher Laguna, demonstrou insatisfação com a mudança e afirmou que, até então, Eto era uma pessoa de muito crédito no partido. “A saída dele não estava sendo esperada por nós. Inclusive, como presidente estadual, eu não fui nem avisado. Ele simplesmente saiu e fiquei sabendo da notícia de que ele iria para o Avante ser presidente lá pelos jornais”, disse Laguna.

O discurso foi endossado pela vereadora de Belo Horizonte, Fernanda Pereira Altoé (Novo). Em entrevista ao Café com Política, de O TEMPO, a parlamentar, que será uma das candidatas do partido a um mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), reforçou a insatisfação. “Isso foi uma surpresa, pelo menos para mim. E eu tive notícia através de jornais e, para mim, foi uma decepção. Eu acho que alguém que fez parte durante tantos anos do Novo, do governo, e sair dessa forma e para mim foi uma decepção”, disse Altoé. 

Nos bastidores, O TEMPO apurou que há um descontentamento amplo dentro do Novo com a saída de Eto. Alguns quadros citam que o agora presidente do Avante mineiro teria utilizado, como filiado ao Novo, da estrutura do Palácio Tiradentes para se projetar politicamente. Após sair do governo Zema, Igor Eto assumiu a vice-presidência de Relações Institucionais no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

O último posto ocupado na instituição foi o de secretário de Assuntos Municipais, posição que teria sido articulada por Zema para que Eto pudesse estreitar a relação com prefeitos já visando a campanha à Câmara dos Deputados, conforme mostrou O TEMPO. Ele pediu dispensa do BDMG ao aceitar o convite para presidir o Avante em Minas.

À reportagem, Eto minimizou as críticas e relembrou a trajetória enquanto esteve filiado à sigla. “Ao longo dos últimos 10 anos, ajudei a construir o Novo em Minas quando o partido não tinha nenhum representante eleito. Também estive ao lado do governador nas duas campanhas vitoriosas e em todo o primeiro mandato dele, e em parte do segundo mandato. Dei minha contribuição ao partido com trabalho e dedicação, e agora sigo avançando compartilhando os mesmos princípios e valores em um partido diferente”, comentou.

"Agora sigo para o Avante com gratidão pela trajetória construída, pelos valores que ajudei a consolidar e por tudo o que aprendi ao longo desse período. Com a convicção de que essa nova etapa representa um avanço na caminhada política, em um partido comprometido com a formação de lideranças e o desenvolvimento de Minas", concluiu.

Mudança de rota

Com a saída de Igor Eto, o Novo manteve os mesmos cálculos visando atingir a cláusula de barreira: eleger três deputados federais e cinco deputados estaduais. Para 2026, a Justiça Eleitoral estabeleceu que os partidos devem eleger pelo menos 11 deputados federais, distribuídos em pelo menos nove estados diferentes ou obter pelo menos 2% dos votos válidos para deputado federal em todo o Brasil, também em pelo menos nove entidades da federação, com no mínimo 1% dos votos válidos em cada um desses locais.

Para Brasília, as principais apostas do Novo, agora, estão em torno do prefeito de Divinópolis, Gleidson Azevedo, e do vereador de Belo Horizonte, Bráulio Lara. O parlamentar acredita que o diretório mineiro é o mais forte do Novo do país. “A gente sabe da responsabilidade que temos para contribuir e bater a cláusula de barreira nacional. E a performance em Minas Gerais vai ser fundamental para essa construção. É uma meta desafiadora, mas sabemos do trabalho que é feito diariamente para isso”, disse Lara. 

Outro nome bem avaliado internamente é o de Juninho Sinonô, que concorreu à prefeitura de Sete Lagoas nas eleições de 2024. Ele encerrou o pleito na terceira colocação com quase 22 mil votos. A nível estadual, o Novo monta uma chapa que deve ter como principais candidatos a vereadora Fernanda Pereira Altoé, reeleita em Belo Horizonte com quase 19 mil votos em Belo Horizonte em 2024. No interior, o partido trabalha para lançar o empresário João Pedro Flecha, que tem forte ligação com o agro na região de Unaí e é filho do diplomata Paulo Tarso Flecha Lima.

Falecido em 2021, ele foi secretário-geral das Relações Exteriores do Itamaraty em 1985. Outro nome que surge internamente é do também empresário Reginaldo Ferreira, da região de Salinas, que está sendo cortejado pelo Novo. O partido também tenta atrair secretários e integrantes do governo de Romeu Zema, em uma articulação que tem tido, inclusive, a participação do vice-governador Mateus Simões, que deixou o Novo nas últimas semanas para se filiar ao PSD.