PANDEMIA

Durante a 4ª semana da CPI da Covid-19 foram ouvidos mais dois nomes importantes. Primeira a depor, a secretária de Gestão de Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, a “capitã cloroquina”, permaneceu com posicionamentos alinhado ao governo Bolsonaro, mas apresentou informações que colocaram em xeque falas do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Já o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, além de um discurso técnico, revelou a falta de interesse do governo federal pelas 60 milhões de doses da Coronavac oferecidas no ano passado.

Em um cenário de calamidade, onde o país já ultrapassou mais de 450 mil mortes pela Covid-19, Dimas Covas, em seu depoimento, nesta quinta-feira, revelou informações que atestam a falta de comprometimento do governo federal na obtenção de vacinas para os brasileiros e brasileiras. Adotando um discurso “técnico”, como avalia o cientista político Bhreno Vieira, Covas esclareceu pontos considerados importantes para o desenrolar da Comissão. 


O processo de obtenção da vacina Coronavac pelo Ministério da Saúde(MS) foi um dos principais pontos abordados.  De acordo com o diretor do Instituto Butantan, a falta de interesse do presidente Bolsonaro impediu que o Brasil fosse o primeiro país do mundo a iniciar as vacinações, visto que, segundo declarações do depoente, o governo federal  não demonstrou interesse pelo recebimento de 60 milhões de vacinas Coronavac (com entrega até dezembro de 2020),  oferecidas em 30 de julho e 18 de agosto de 2020 pelo Instituto ao MS. 


Além disso, comprometendo relações diplomáticas com a China e apelando para uma disputa político-ideológica com o governo Doria, em algumas oportunidades Bolsonaro chegou a chamar as vacinas Coronavac de  “vachina”. “ Então, obviamente, isso se reflete nas dificuldades burocráticas, que eram normalmente resolvidas em 15 dias e, hoje, demoram mais de mês para serem resolvidas.”, afirmou Covas sobre os entraves gerados com o país asiático. O contrato de fornecimento dos imunizantes só foram assinados pelo governo federal em janeiro de 2021.  


Na oportunidade, o relator da CPI, Renan Calheiros,  chegou a reproduzir um vídeo em que o presidente Jair Bolsonaro demonstra o não interesse pela vacina. “Ninguém vai tomar tua vacina na marra, não, tá okay? Procura outro. Eu que sou governo, o dinheiro não é meu, é do povo, não vai comprar tua vacina também. Procura outro para pagar por sua vacina aí”, disse Bolsonaro em recado ao seu rival político e governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Analisando as falas apresentadas por Covas, o cientista político Rodolfo Marques diz que “foi um depoimento muito mais assertivo [...] Ele (Covas) trouxe muito mais informações relevantes, dados, menos opiniões, conseguiu avançar no debate temático em relação ao enfrentamento da pandemia, enquanto que o depoimento da Mayra foi mais alinhado ao governo, que é caracterizado pela desinformação”.


Primeira depoente na 4ª semana da CPI da Covid-19, Mayra Pinheiro apresentou informações que reafirmaram seu alinhamento ao governo federal, como a defesa do tratamento precoce (procedimento que não possui aval científico), mas também repercutiu algumas contradições que, de acordo com o cientista político Rodolfo Marques, “podem enfraquecê-la”. 


Durante seu depoimento, Mayra expôs informações que se chocaram com outras apresentadas anteriormente pelo ex-ministro Eduardo Pazuello, como o colapso de oxigênio em Manaus e o aplicativo TrateCOV. Pazuello havia informado anteriormente que soube do agravo da situação em Manaus no dia 10 de janeiro, informação rebatida por Mayra que informou a data oito de janeiro.


Outro assunto polêmico diz respeito ao TrateCOV.  Em oitiva, o ex-ministro Eduardo Pazuello direcionou à Mayra a responsabilidade pela criação da plataforma. A secretária negou a versão e, em um primeiro momento, concordou com a tese do “hackeamento” do aplicativo, mas voltou atrás e dizendo que se tratou de uma “extração indevida de dados”. 


Expondo informações divergentes, mas também alinhadas com o governo federal, Bhreno Vieira diz que a atuação de Mayra, bem como dos demais nomes aliados ao presidente Bolsonaro, dialoga com um fenômeno conhecido no meio acadêmico por "banalidade do mal”. “É quando você se nega a pensar em um bem comum, banaliza determinadas ações em torno de uma estrutura ideológica, uma estrutura de poder”.