Às vésperas da convenção nacional do PSDB, no próximo dia 31, que deve consolidar o poder do governador de São Paulo, João Doria, sobre seu partido, o tucano pregou em discurso para filiados que aqueles que não concordarem com as diretrizes do que ele chama de "novo PSDB" devem deixar a sigla.  

Em evento para filiar sete pessoas na noite de sexta (24), na sede do PSDB em São Paulo, Doria também pregou que tucanos que sejam acusados de irregularidades se afastem do partido para cuidar de suas defesas. Caso inocentados, poderiam voltar à sigla.

Doria afirmou que a discordância é parte da democracia, mas pediu que quem não concorde "peça para sair". A fala foi uma referência ao sociólogo Fernando Guimarães, que coordena a frente Esquerda para Valer dentro do PSDB. O governador paulista tem afirmado que o partido deve ser de centro, sem espaço para o que considera extrema esquerda ou extrema direita. 

"O novo PSDB não apaga seus 30 anos de história. [...] Mas, a partir de agora, o partido não vai viver de história, vai fazer diferente. E aqueles que não concordam, não há problema. [...] Nós não estamos aqui construindo o novo PSDB obrigando todos a concordarem. Não há democracia por unanimidade, só ditaduras advocam unanimidade. Mas os que não concordarem peçam para sair. Tenham dignidade, tenham grandeza de defender seus interesses fora do partido", disse. 

Em relação aos acusados de corrupção, Doria afirmou que devem fazer sua defesa fora do PSDB.

"Se alguém fez coisa errada, que pague por isso, que tenha seu julgamento e o direito de defesa pleno. Nós não vamos condenar ninguém antes. Mas peça licença, tenha grandeza, se afaste. Faça sua defesa, se for isento, volte, será bem-vindo, sera aplaudido, será abraçado. Mas enquanto, neste processo, tenha dignidade e o respeito de fazer a sua defesa na plenitude, mas fora do PSDB", disse. 

A fala de Doria por regras mais rígidas e menos condescendência do partido com atos de corrupção antecede a criação de um código de ética do PSDB, último ato de Geraldo Alckmin (PSDB) no comando da sigla. No dia 31, o ex-deputado federal Bruno Araújo, aliado de Doria, deve assumir a presidência da sigla. 

O documento, que pela primeira vez na história do PSDB definirá punições para filiados que cometerem irregularidades, será finalizado na próxima quinta (30) e será submetido à aprovação na convenção do dia seguinte. 

A última versão do texto, porém, diferentemente do que prega o discurso de Doria, não afasta imediatamente tucanos acusados de corrupção, como Aécio Neves (PSDB-MG), por exemplo. Ele é réu sob acusação de corrupção e obstrução de Justiça por ter sido gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, da JBS. 

"O Bruno Araújo, ao assumir na próxima sexta-feira, ele sabe a responsabilidade que tem daqui pra frente. Nós não vamos mais jogar poeira e coisa suja embaixo do tapete. Vamos ter que ter a capacidade de julgar de forma correta, de forma isenta, e dar a oportunidade de todo peessedebista andar na rua de cabeça erguida", afirmou Doria. 

Já em referência a dissidentes, caso de Guimarães, o governador paulista parabenizou os dirigentes do PSDB da capital paulista, Fernando Alfredo, e do PSDB estadual, Marco Vinholi, por abrirem um processo no Conselho de Ética do partido para expulsá-lo. 

Guimarães está à frente de um movimento suprapartidário de oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), que inclui políticos do PT. Em oposição à velha guarda tucana, Doria vem puxando o partido para o que considera o centro, sem tolerância com a esquerda. 

"[O filiado] só não vai ter direito, dentro do PSDB, de estabelecer uma linha diametralmente oposta àquela que todos que estão nessa mesa tem como princípio a partir de agora", disse Doria. 

"Eu gostei, Fernandão, quando você e o Vinholi tiveram atitude corajosa e altiva. Esquerda pra Valer não tem mais espaço no PSDB. Nem estrema esquerda nem extrema direita. Saia e escolha seu partido. É justo", completou.