Presidente é alvo de inquérito que apura suposta propina na edição do decreto dos portos. Após decisão do STF, Planalto informou que Temer dará 'total acesso' às informações do extrato bancário.

Por Fernanda Calgaro, G1, Brasília

O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse nesta terça-feira (6) que considera "anômala" a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de quebrar o sigilo do presidente da República, Michel Temer.

Padilha, porém, ressaltou que o presidente não tem "absolutamente nada a esconder".

A quebra do sigilo de Temer foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, relator do inquérito que apura o suposto pagamento de propina na edição de um decreto sobre o setor de portos.

Após a decisão ser divulgada, o Palácio do Planalto afirmou por meio de nota que Temer dará à imprensa "total acesso" às informações do extrato bancário dele.

"[É uma decisão] Anômala porque é a primeira, nunca houve essa decisão. O presidente da República nunca teve, até hoje, o sigilo quebrado", afirmou Padilha.

O ministro disse ainda que a decisão, recebida com "surpresa" pelo governo, também é "singular" porque, segundo ele, não partiu de um requerimento da procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

"O governo recebeu com surpresa, porque é uma decisão singular, inédita, não tínhamos ainda a quebra de sigilo de um presidente da República no exercício do mandato. Ela é singular também porque não foi um requerimento da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Mas, de outra parte, o presidente encarou com normalidade, tanto que resolveu oferecer o seu sigilo bancário", disse.

Padilha reconheceu, entretanto, que a medida não "agrada".

"De certo, não é algo que agrada, mas, de outra parte, como não tem nada a esconder, [Temer] resolveu franquear, independentemente do que decidiu a Justiça", ressaltou.

O chefe da Casa Civil afirmou ainda que a decisão faz parte do "quadro político atual", em que, segundo ele, quando há um fato "altamente positivo, acaba aparecendo um negativo".

"Acho que é um fato, em que pese ser anômalo, ele está compreendido nesse quadro político atual, de que, quando o governo tem um fato altamente positivo, acaba aparecendo um negativo", afirmou Padilha.

Decisão 'abusiva'

Pouco depois da entrevista de Eliseu Padilha, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, classificou como "abusiva" e "desnecessária" a quebra do sigilo de Temer.

Responsável pela articulação política do governo, Marun afirmou que o presidente decidiu não recorrer da decisão de Barroso e que manterá o compromisso de divulgar seus extratos bancários à Justiça e à imprensa.

“Não obstante o caráter abusivo e até absurdo desta decisão, o presidente decidiu a princípio não recorrer dessa decisão e mantém, já que não tem nada a esconder, a decisão ontem tomada, de abrir o seu sigilo bancário à população brasileira através da imprensa”, afirmou.

De acordo com o ministro, o posicionamento de Temer de não recorrer tem como objetivo não dar “munição à hipocrisia” dos adversários do governo.