Protagonista da mais recente crise política no governo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, ganhou uma sobrevida no cargo. Interlocutores do presidente Jair Bolsonaro afirmam que a intenção é mantê-lo no posto por enquanto, apesar de ter suas funções esvaziadas e de pressões no Palácio do Planalto e na Esplanada para que seja demitido. A permanência de Onyx é avaliada por aliados como importante porque o ministro é hoje um dos poucos nomes no governo com boas relações no Congresso, após conseguir aparar arestas com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e ser muito próximo do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Embora a articulação política do Planalto tenha passado para a Secretaria de Governo, comandada pelo general Luiz Eduardo Ramos os militares enfrentam dificuldades para se relacionar com os congressistas. No ano passado, Ramos chegou a ser hostilizado em uma reunião na Câmara. Onyx tem a vantagem de acumular cinco mandatos como deputado.

O ministro antecipou o fim das suas férias e retornou ontem dos Estados Unidos. O motivo da volta foi a crise política que levou à demissão de Vicente Santini, ex-secretário executivo da pasta, por uso de avião da Força Aérea Brasileira (FAB), e a perda do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que cuida de privatizações de estatais e concessões, uma das vitrines do governo.

O programa havia migrado para a Casa Civil como uma espécie de "prêmio de consolação" após Onyx perder a articulação política do Planalto, no meio do ano passado. Agora, foi transferido para o Ministério da Economia, comandado por Paulo Guedes. Sem o PPI e sem a articulação política, Bolsonaro deixou a Casa Civil esvaziada.

O enfraquecimento ocorre após o comportamento de Onyx incomodar não apenas o presidente, mas colegas de Esplanada, que o acusam de fazer a velha política, ao usá-los para atender a demandas do baixo clero do Congresso, e de ter indicado para o governo nomes que viraram dor de cabeça para seu chefe, como o ministro da Educação, Abraham Weintraub.

Segundo interlocutores, Bolsonaro, porém, reconhece que Onyx é um aliado fiel, que o acompanha desde quando seu projeto presidencial era embrionário, e não pretende abandoná-lo por enquanto.

Reunião

Após desembarcar pela manhã, Onyx participou de reunião convocada por Bolsonaro no Palácio da Alvorada para tratar da epidemia de coronavírus. A crise envolvendo a Casa Civil não foi abordada. A questão deve ser tratada em uma reunião só com os dois hoje.

No encontro, ficou acertado que Onyx levará a mensagem presidencial ao Congresso na segunda-feira, na cerimônia que marcará o início do ano legislativo. O gesto foi interpretado por aliados de Bolsonaro como uma sinalização de que o ministro mantém algum prestígio.

Em conversa com jornalistas após a reunião, Bolsonaro se negou a falar sobre Onyx. "Já que deturpou a conversa, acabou a entrevista", disse ele ao ser questionado sobre o tema.

Ao G1, Onyx afirmou que "ninguém está cogitando qualquer tipo de saída".

Antes do encontro no Alvorada, Onyx passou o dia percorrendo gabinetes de ministros palacianos para angariar apoio à sua permanência. Ele se reuniu com Ramos, com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e com o titular da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira.

Também recebeu importantes manifestações públicas para ficar no cargo. Em evento no Rio, Maia disse considerar "ótimo" que Onyx fique no governo. "Se o presidente resolver mantê-lo, será uma decisão boa. Se exonerá-lo, é um problema do governo, nós não vamos pautar a nossa Casa porque o governo nomeia ou exonera algum funcionário", afirmou.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também expôs seu apoio ao publicar nas redes sociais vídeo de Onyx ao lado do escritor Olavo de Carvalho.