ELEIÇÃO 2024

Linhas de ataque, marcação cerrada e muita atenção aos movimentos dos adversários. Pode parecer um jogo de futebol, mas é a pré-campanha eleitoral em Belo Horizonte. O estádio, ao menos até o início da propaganda em rádio e televisão, em 16 de agosto, são as redes sociais.

Pelo cargo que ocupa, o prefeito da capital, Fuad Noman (PSD), que deverá disputar a reeleição, não sai da retranca, enquanto outros pré-candidatos se concentram em atacar a administração, com repertório de jogadas que vai desde críticas a carros abandonados nas ruas a transporte público e à construção de moradias populares.

O lance mais recente foi da deputada federal Duda Salabert (PDT). Em 30 de abril, a parlamentar, ao lado da sucata de um veículo abandonado em uma rua da capital, falou dos riscos que a carcaça levava para a população, como a possibilidade de se transformarem em criatórios do mosquito Aedes aegypti.

Sem citar nome de ninguém, a prefeitura, publicou três dias depois em seu site que, em dois meses, a administração municipal retirou 200 carros abandonados das ruas da cidade, “trabalho que faz parte das ações de combate das ações de combate à dengue, zika e chikungunya”, que são as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.

O presidente da Câmara Municipal, Gabriel Azevedo (MDB), outro pré-candidato, também fez sua investida contra o prefeito, criticando o programa de construção de moradias populares do governo municipal.

Em 15 de abril, ele fez um discurso na Câmara dizendo ser contrário a esse tipo de projeto em áreas como uma existente no bairro Castelo, exatamente onde, em parceria com o governo federal, a prefeitura quer erguer residências do Minha Casa, Minha Vida. O vereador apoia a mobilização de moradores do bairro, que são contrários ao projeto com a alegação de que uma área verde seria utilizada para a construção das moradias.

O prefeito, em post publicado em suas redes sociais cinco dias depois, junto a um trecho de entrevista que concedeu à rádio FM O TEMPO 91,7, afirmou que o município vai construir moradias populares por toda a cidade, e que áreas de preservação ambiental não serão destruídas para a edificação das moradias.

Já o senador e pré-candidato à prefeitura Carlos Viana (Podemos) usou a frota do transporte público da capital para tentar marcar contra o prefeito. Em 17 de abril, disse que os ônibus da cidade estão sucateados, têm pneus carecas e circulam sem ar condicionado.

A resposta foi mais demorada que as anteriores, mas, também, mais elaborada. Em 30 de abril, Fuad publicou nas redes sociais um vídeo em que um homem, tendo em mãos um microfone no qual se lê “repórter BH”, faz perguntas sobre o transporte público da cidade a usuários do sistema que encontra pelas ruas.

O “repórter” pergunta se os ônibus precisam melhorar, as pessoas respondem que sim, e o entrevistador completa dizendo que a prefeitura também acha que tem melhorar. Em seguida, afirma que o município realiza todas as semanas blitzen para conferir a conservação dos ônibus que circulam pelas ruas da capital.

A pré-candidata do Novo Luísa Barreto, secretária de Estado de Gestão e Planejamento, vestiu a camisa da “necessidade de experiência” e, em vídeo publicado em 4 de abril, avançou contra o prefeito afirmando ser isso que falta para a cidade. Um dia depois, o prefeito publicou em suas redes sociais vídeo de visita que fez ao bairro Taquaril, na região Leste da capital. “Viemos aqui, diferentemente de muitas pessoas, mostrar o que nós já fizemos”. A declaração foi sobre obras de urbanização.

A construção de uma ciclovia na avenida Afonso Pena, na região central, que acabou suspensa, também virou motivo de carga contra o prefeito. O senador Carlos Viana, em vídeo publicado na segunda, 29, com uma marreta em mãos, mostra o equipamento e afirma que “será isso” que vão ter ciclovias criadas em pontos nos quais o parlamentar considera que não devem ser construídas.

“Gosto de bicicleta, de ciclovia, mas é onde as pessoas possam andar. Não é aqui, atrapalhando o trânsito”, diz no vídeo. As obras haviam sido suspensas 13 dias antes, mesmo após a Justiça negar um pedido para a suspensão feito pelo Ministério Público.

A pressão contra o prefeito nesta pré-campanha gerou até uma espécie de slogan dele. Desde o final de março, Fuad cita constantemente a expressão “estou prefeitando”, para falar sobre o que vem fazendo na cidade. Fuad não quis se posicionar sobre os recados de outros pré-candidatos.

O advogado e integrante da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) Lucas Neves afirma que os ataques concentrados contra o ocupante do cargo em disputa são comuns em pré-campanhas.

“É preciso ressaltar, porém, que a legislação proíbe ataques que possam diminuir o capital político do possível concorrente. Falar sobre o buraco da rua, tudo bem, mas ninguém pode chamar ninguém de ladrão, por exemplo”, explica Neves.

As regras para a realização das pré-campanhas estão previstas na Lei 9.504/97. O advogado lembra ainda que não só a produção, mas a divulgação de fake news, também é crime. “O limite da liberdade de expressão é a lei”, afirma. Também podem ser punidos pré-candidatos que façam declarações com teor homofóbico, racista ou que envolvam etarismo.

A estratégia do “todos contra um” só acaba no segundo turno. “Nesta fase os candidatos ficam cara a cara e aí é um contra o outro”, diz. O primeiro turno das eleições será em 6 de outubro. O segundo turno, caso ocorra, está marcado para 27 do mesmo mês.

 

Fonte: otempo.com.br