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A notícia mais importante deste domingo de Páscoa foi publicada pelo colunista Lauro Jardim, no Globo, que recebeu áudios em que o presidente Jair Bolsonaro incentiva seus aliados a atacar o vice-presidente Hamilton Mourão (saiba mais aqui). Já parecia óbvio e ululante, como diria Nelson Rodrigues, que os ataques do "guru" Olavo de Carvalho ao vice e também a outros militares não ocorriam sem o aval de Bolsonaro. No entanto, os áudios agora fornecem uma prova material de que o presidente conspira contra seu vice – o que, de certa forma, contraria a lógica. "Normal", na tradição brasileira, é que vices conspirem contra seus chefes e o exemplo maior de traição na nossa história foi recentemente protagonizado por Michel Temer. Bolsonaro, no entanto, subverte a lógica.
Se não bastassem os ataques do "guru" da Virgínia, Bolsonaro também incentivou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) a pedir o impeachment de Mourão. Ao decidir não puni-lo pela iniciativa, Bolsonaro também deixou claro que aprova suas ações. Não por acaso, o "pastor" Feliciano aproveitou o sábado de Aleluia para malhar seu Judas particular e foi ao twitter para rotular Mourão como "traidor" (saiba mais aqui).
Há, no entanto, alguma evidência de que Mourão esteja mesmo traindo Bolsonaro? Até agora, não. O que existe, objetivamente, é uma tentativa da ala militar do governo de conter movimentos de Bolsonaro que representam uma traição à pátria. Sim, porque embora diga "Brasil acima de tudo", Bolsonaro bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e tenta promover uma política de ataque aos interesses nacionais. Mais do que isso, ele próprio já declarou que chegou para destruir – e não para construir absolutamente nada.
Se dependesse unicamente de Bolsonaro, o Brasil já teria se metido em diversas enrascadas, que atenderiam apenas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos e de Israel. Nosso chanceler trumpista Ernesto Araújo chegou a oferecer um corredor de passagem para tropas estadunidentes, numa eventual guerra contra a Venezuela. Graças a uma viagem de Mourão à Colômbia, no entanto, o risco de guerra no continente foi afastado. Foram também os militares que impediram a insanidade da transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. A solução salomônica encontrada – de um escritório de negócios – foi ruim, mas menos grave do que a transferência da embaixada em si. E foi também Mourão quem fez movimentos de aproximação com países árabes e com a China, que vêm sendo alvo de ataques pela política externa de Araújo – um chanceler que segue a cartilha de Washington.
O que Feliciano classifica como traição, portanto, é a defesa dos interesses econômicos da burguesia nacional, assunto que certamente passa longe das preocupações da bancada evangélica, que mobiliza fiéis pelo Brasil com a promessa de que Jesus Cristo retornará quando o povo de Israel se converter ao cristianismo – uma das maiores fake news já propagadas. Aliás, no que depender dos israelenses, onde o cristianismo é uma religião inexpressiva, Jesus Cristo jamais retornará.
Na sua guerra contra os militares de alta patente, Bolsonaro utiliza diversos instrumentos. De um lado, reforça sua associação com o baixo oficialato. Notícia publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo indica que o Brasil ampliou gastos com pessoal militar, mas reduziu investimentos em defesa – ou seja, mais salários e menos proteção (leia mais aqui). Por outro lado, o "guru" Olavo, que já atacou tanto Mourão como o general Santos Cruz, diz que os militares devem se contentar com os cargos que receberam na máquina pública. A mensagem é clara: não ousem querem impedir o processo de entrega do Brasil aos Estados Unidos. Em paralelo, os filhos de Bolsonaro também mobilizam suas redes sociais contra os "traidores" de farda.
Há, portanto, uma guerra não declarada em Brasília entre o bolsonarismo e as Forças Armadas. Os generais imaginavam que conseguiriam cavalgar Bolsonaro, mas o presidente reage. Ocorre que nenhuma de suas ações terá êxito se ele não conseguir entregar o essencial: empregos, crescimento econômico e paz social. E até agora nada indica que a política econômica de Paulo Guedes e a política externa de Ernesto Araújo tenham qualquer capacidade de fazer o Brasil voltar a crescer. Ou seja: por mais que conspire contra seu vice, Bolsonaro será fatalmente inviabilizado se não conseguir apresentar respostas concretas aos problemas da população que o elegeu.
*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247
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Se não bastassem os ataques do "guru" da Virgínia, Bolsonaro também incentivou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) a pedir o impeachment de Mourão. Ao decidir não puni-lo pela iniciativa, Bolsonaro também deixou claro que aprova suas ações. Não por acaso, o "pastor" Feliciano aproveitou o sábado de Aleluia para malhar seu Judas particular e foi ao twitter para rotular Mourão como "traidor" (saiba mais aqui).
Há, no entanto, alguma evidência de que Mourão esteja mesmo traindo Bolsonaro? Até agora, não. O que existe, objetivamente, é uma tentativa da ala militar do governo de conter movimentos de Bolsonaro que representam uma traição à pátria. Sim, porque embora diga "Brasil acima de tudo", Bolsonaro bate continência para a bandeira dos Estados Unidos e tenta promover uma política de ataque aos interesses nacionais. Mais do que isso, ele próprio já declarou que chegou para destruir – e não para construir absolutamente nada.
Se dependesse unicamente de Bolsonaro, o Brasil já teria se metido em diversas enrascadas, que atenderiam apenas aos interesses geopolíticos dos Estados Unidos e de Israel. Nosso chanceler trumpista Ernesto Araújo chegou a oferecer um corredor de passagem para tropas estadunidentes, numa eventual guerra contra a Venezuela. Graças a uma viagem de Mourão à Colômbia, no entanto, o risco de guerra no continente foi afastado. Foram também os militares que impediram a insanidade da transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém. A solução salomônica encontrada – de um escritório de negócios – foi ruim, mas menos grave do que a transferência da embaixada em si. E foi também Mourão quem fez movimentos de aproximação com países árabes e com a China, que vêm sendo alvo de ataques pela política externa de Araújo – um chanceler que segue a cartilha de Washington.
O que Feliciano classifica como traição, portanto, é a defesa dos interesses econômicos da burguesia nacional, assunto que certamente passa longe das preocupações da bancada evangélica, que mobiliza fiéis pelo Brasil com a promessa de que Jesus Cristo retornará quando o povo de Israel se converter ao cristianismo – uma das maiores fake news já propagadas. Aliás, no que depender dos israelenses, onde o cristianismo é uma religião inexpressiva, Jesus Cristo jamais retornará.
Na sua guerra contra os militares de alta patente, Bolsonaro utiliza diversos instrumentos. De um lado, reforça sua associação com o baixo oficialato. Notícia publicada neste domingo pela Folha de S. Paulo indica que o Brasil ampliou gastos com pessoal militar, mas reduziu investimentos em defesa – ou seja, mais salários e menos proteção (leia mais aqui). Por outro lado, o "guru" Olavo, que já atacou tanto Mourão como o general Santos Cruz, diz que os militares devem se contentar com os cargos que receberam na máquina pública. A mensagem é clara: não ousem querem impedir o processo de entrega do Brasil aos Estados Unidos. Em paralelo, os filhos de Bolsonaro também mobilizam suas redes sociais contra os "traidores" de farda.
Há, portanto, uma guerra não declarada em Brasília entre o bolsonarismo e as Forças Armadas. Os generais imaginavam que conseguiriam cavalgar Bolsonaro, mas o presidente reage. Ocorre que nenhuma de suas ações terá êxito se ele não conseguir entregar o essencial: empregos, crescimento econômico e paz social. E até agora nada indica que a política econômica de Paulo Guedes e a política externa de Ernesto Araújo tenham qualquer capacidade de fazer o Brasil voltar a crescer. Ou seja: por mais que conspire contra seu vice, Bolsonaro será fatalmente inviabilizado se não conseguir apresentar respostas concretas aos problemas da população que o elegeu.
*Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247