A decisão do presidenciável do PDT, Ciro Gomes, ontem, de suspender sua pré-candidatura em função dos 15 votos dados pelo seu partido a favor da PEC 23/21, a PEC dos Precatórios, foi recebida com surpresa pela bancada federal do partido em Minas. A PEC dos Precatórios foi aprovada na noite de quarta-feira (3) por 312 votos, apenas quatro a mais que os 308 exigidos para uma mudança constitucional. Dos 21 deputados do PDT, 15 votaram com o governo e somente seis acompanharam a oposição. Os dois deputados do PDT de Minas – Mário Heringer e Subtenente Gonzaga – estão entre os que votaram com o governo. A posição do partido motivou Ciro a suspender sua pré-candidatura.

A matéria deverá ser apreciada em segundo turno na próxima terça-feira (9). Até lá, o PDT estará, conforme definiu Mário Heringer, consumido em reuniões e trocas de telefonemas em busca de uma saída para o impasse. O esforço visa encontrar uma solução que seja o menos desgastante para a bancada, mas que ao mesmo tempo preserve o projeto de lançar Ciro para presidente. “Esses dias serão para conversar e resolver de maneira partidária, buscando uma decisão conjunta para evitar um agravamento dessa questão. Existe, claro, a possibilidade de revermos nosso voto no segundo turno”, afirmou. Heringer disse que, no que depender dele, o nome de Ciro está mantido para 2022. “Fiquei muito surpreso com a reação do Ciro, mas sou fã dele e voto nele mesmo que ele não queira. Ainda não conversamos, mas espero muito que ele reveja a decisão”, afirmou.

Já o deputado Subtenente Gonzaga não vê tanta margem para mudanças. Segundo ele, seu voto na terça-feira será o mesmo, ou seja, a favor da PEC 23/21. “Meu voto está mantido. Conversar a gente sempre conversa, reuniões acontecem até informalmente, mas a minha posição será a mesma”, declarou. Para ele, Ciro “precipitou” ao anunciar a suspensão da candidatura. “Não posso falar nem responder pelo Ciro, até porque ele não nos comunicou nada a não ser pelo Twitter que postou”, disse, referindo-se à forma que o ex-governador do Ceará escolheu para comunicar sua decisão. Gonzaga acredita que o dilema está criado, mas evita dar um prognóstico. “Todo processo legislativo tem potencial de crise e esse não é diferente. São posições, há divergências, interesses diferentes. Na minha opinião, a única coisa diferente dessa vez foi a manifestação do Ciro em relação à sua candidatura”, disse.

Votos decisivos

A PEC 23/21 estabelece um limite anual de R$ 44,5 bilhões para pagamento de precatórios (dívidas da União já julgadas em última instância e na fila para quitação), que passarão a ser reajustados pela taxa Selic, e muda o cálculo do teto de gastos. A oposição acusa o governo de, com a alteração, promover um “calote” nas dívidas da União, já que o valor inicial para essa finalidade era de R$ 89,1 bilhões, além de manobrar para “furar” o teto de gastos. O governo se defende com o argumento de que foi a solução fiscal encontrada para viabilizar o pagamento do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, que destinará R$ 400 para as famílias inscritas.

Contrário à PEC 23, o ex-ministro Ciro Gomes postou pela manhã em seu Twitter a decisão de suspender sua pré-candidatura à Presidência da República, motivado pelos votos dados pelos deputados do PDT a favor da matéria. Dos 21 votos do PDT, 15 foram a favor e 6 foram contra. A PEC passou por 312 votos, apenas quatro a mais que os 308 exigidos. Ao tomar a decisão de deixar “em suspenso” sua pré-candidatura, Ciro Gomes disse que “não pode compactuar com a farsa e os erros bolsonaristas”.

“Há momentos em que a vida nos traz surpresas fortemente negativas e nos coloca grandes desafios. É o que sinto agora, neste momento, ao deparar-me com a decisão de parte substantiva da bancada do PDT de apoiar a famigerada PEC dos Precatórios. A mim, só resta um caminho: deixar minha pré-candidatura em suspenso até que a bancada do meu partido reavalie a sua posição”, disse Ciro Gomes, no seu perfil no Twitter.