O retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República não garantiu maioria ao PT no Congresso Nacional, e as últimas eleições municipais escancararam que o partido continua longe de seu melhor momento e vê siglas do Centrão e da direita ampliarem espaço nos municípios. Esse cenário amplifica a necessidade de uma autocrítica do partido, segundo análise do deputado Patrus Ananias (PT-MG). 

“É um partido encolhido. A onda da direita é geral, e nós, do Partido dos Trabalhadores e de outras forças de esquerda contribuímos, sim, para esse avanço com nosso silêncio”, afirma. “Não nos colocamos à altura, e espero que a gente se coloque nos próximos meses, nos próximos anos, que a gente faça uma autocrítica vigorosa e retome o caminho de interlocução”, acrescenta. 

Penúltimo prefeito eleito pelo PT em Belo Horizonte, ministro de Dilma Rousseff e deputado por quatro mandatos, Patrus avalia que o partido se distanciou do diálogo direto com a população e com os movimentos sociais e também se afastou de pautas estruturais que são a identidade da sigla. 

“É fundamental para o PT, hoje, colocar propostas. Pautar a questão da função social da propriedade. Direito da propriedade, sim, mas não o direito sagrado, absoluto e intocável”, disse. “Também uma proposta vigorosa no campo pedagógico desde a educação infantil até a universidade pública. Uma proposta de escola pública de qualidade, remuneração digna, discutir os conteúdos, o que queremos nas escolas”, completou. 

O retrato, para ele, é semelhante em Belo Horizonte, que não elege um prefeito do PT há 19 anos. Na última eleição municipal, em outubro, o candidato do partido foi o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), que terminou o pleito em sexto lugar com 55 mil votos — cerca de 4,3%. 

“Essa eleição agora foi razoável. Não fomos bem com o Rogério, que eu apoiei intensamente, mas a vitória do atual prefeito [Fuad Noman, do PSD] impediu a conquista da direita”, disse. “Agora, também fica a questão das abstenções, que mostram uma descrença em relação à política. É muito grave e ameaçador para a democracia”, analisou. 

Ele pontua também que é hora do PT recorrer ao período que antecipa as eleições para dialogar com a base e apresentar projetos que têm ligação com a identidade partidária. “Estamos virando um partido burocrático discutindo coisas elementares, vivendo um pouco em função das eleições. E temos que ir para as eleições com propostas, prioridades”, avaliou. 

Ainda que admita a necessidade de uma posição mais propositiva por parte da bancada do partido, Patrus analisa que o PT foi obrigado a adotar uma postura mais defensiva — principalmente na Câmara dos Deputados. Ele lidera a bancada da sigla na Comissão de Constituição e Justiça, hoje majoritariamente ocupada por deputados da oposição, entre eles a presidente Caroline de Toni (PL-SC), e do Centrão. 

“Ali temos uma linha mais defensiva. Somos minoria, e estamos em uma posição de defesa dos nossos valores”, declarou. As propostas da bancada não têm tido espaço nas sessões da comissão, o que se aplica, inclusive, ao Projeto de Lei (PL) que aumenta a punição para crimes ambientais — relatado por Patrus. 

Ele culpa Caroline de Toni e a configuração do colegiado pela lentidão na tramitação dessa proposta. “Há uma divergência política muito profunda. Vivemos um clima de sectarismo mais pesado, muitas vezes com agressões, ameaças de violência e provocações, e nenhum espaço para diálogo e construção de consensos”, analisou.