Os presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e Arthur Lira (PP-AL), fizeram um aceno de união e cobraram a coordenação do presidente da República Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia. "Essa união significa um pacto nacional liderado por quem a sociedade espera, que é o senhor Jair Bolsonaro, já com a compreensão de que medidas precisam ser urgentemente tomadas", disse Pacheco.

A declaração foi feita no Palácio da Alvorada, onde eles se reuniram nesta quarta-feira, 24, com Bolsonaro e chefes dos demais Poderes, ministros e governadores aliados do governo. O agravamento da pandemia da covid-19 foi o tema do encontro na residência oficial de Bolsonaro. O encontro durou menos de duas horas.

Lira e Pacheco disseram que a reunião foi uma expressão do que a sociedade brasileira espera dos Poderes no enfrentamento da pandemia. Os dois participaram, na segunda-feira, 22, de um jantar com empresários na capital paulista, na residência do dono da Gocil, Washington Cinel. Entre os participantes estavam signatários da carta divulgada no fim de semana para cobrar do governo federal vacinas e uma avaliação sobre a necessidade de um lockdown.

Pacheco também disse que a liderança técnica dessa união deve ser feita pelo Ministério da Saúde, nas mãos de Marcelo Queiroga. "Os Poderes da República são independentes, mas devem ser harmônicos", disse. "Hoje é um exemplo de civilidade e boa relação", disse. Para ele, as divergências devem ser "dirimidas à luz dos procedimentos democraticamente".

"É um momento que impõe responsabilidade e união no enfrentamento da pandemia", disse Pacheco. No comitê que deve ser criado para o combate à pandemia, Pacheco ficou responsável por ouvir as demandas dos governadores.

Lira ressaltou que foi significativa a participação dos chefes dos Estados e ministros na reunião desta manhã e repetiu o que falou na Câmara ontem sobre a necessidade de se "despolitizar a pandemia". "Desarmar os espíritos e tratar como um problema de todos nós", disse.

Para o deputado, a reunião foi uma demonstração de diálogo e de união para que os Poderes passem a falar uma "linguagem só" para assistir à população. Lira seguiu para uma reunião com lideranças da Câmara. Ele quer pôr em votação ainda hoje um projeto para tentar disponibilizar mais leitos à população com a participação da iniciativa privada.

Isolamento social

Após reunião de chefes de Poderes com o presidente Jair Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), defendeu medidas de isolamento social em "situações críticas" para conter o avanço da covid-19. A declaração de Caiado, que é médico e aliado de Bolsonaro, vai na contramão do discurso feito até o momento pelo chefe do Planalto contra as ações de Estados e municípios.

Após a reunião, no entanto, Bolsonaro não citou as medidas de lockdown, como fez em falas anteriores. Coube a Caiado fazer a defesa pelo isolamento. Da reunião, participaram apenas governadores aliados do presidente da República, conforme lista divulgada pela assessoria do Planalto. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, será o responsável pela interlocução com os Estados no comitê de crise anunciado hoje.

 

"(Vamos) pedir a todos que entendam que, em situações delicadas, em situações críticas como a que estamos vivendo, muitas vezes se faz também necessário o isolamento social", afirmou Caiado. O governador reforçou que a responsabilidade de todos é "salvar vidas" e disse que o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, terá as credenciais para adotar ações técnicas e habilitar leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

STF

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, afirmou que a Corte não vai participar do comitê criado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro para combater a covid-19. O ministro, porém, reforçou que o STF buscará estratégias para diminuir a judicialização da pandemia. O recado já havia sido dado quando a reunião foi chamada, na semana passada.

A declaração foi feita em frente ao Palácio da Alvorada após reunião. Ontem, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, rejeitou uma ação apresentada por Bolsonaro para derrubar decretos dos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul que impuseram "toque de recolher" à população.

"O Supremo Tribunal Federal, o Poder Judiciário, como último player para aferir a legitimidade dos atos que serão praticados, não pode participar diretamente desse comitê", afirmou Fux. "Entretanto, como esse problema da pandemia exige soluções rápidas, nós vamos verificar estratégias capazes de evitar a judicialização, que é um fato de demora na tomada dessas decisões."

Fux tentou expressar otimismo com a reunião. Para o ministro, o encontro teve um resultado importante, resumido por ele em duas palavras: "exemplo e esperança". O presidente do STF começou o discurso manifestando solidariedade com as famílias de vítimas da covid-19 e com os profissionais de saúde na linha de frente. Nesta terça-feira, o Brasil registrou pela primeira vez mais de 3 mil mortes em função do novo coronavírus em um único dia e deve atingir hoje 300 mil óbitos acumulados.