O deputado federal Nikolas Ferreira (PL) denunciou, em novembro do ano passado, a também deputada federal Duda Salabert (PDT) por suposto uso indevido de recursos do fundo eleitoral. Para fazer a denúncia, ele se baseou em um dossiê elaborado pelos presos da Operação Rejeito, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na semana passada para apurar supostas fraudes na concessão de licenças ambientais concedidas em Minas Gerais.

Diálogos interceptados pela PF indicam que a denúncia de Nikolas protocolada na PF contra Duda foi elaborada pelo ex-deputado estadual João Alberto Lages com a ajuda do delegado federal Rodrigo Teixeira, ambos presos pela operação. Quem também participou do esquema para tentar incriminar a deputada, vista como inimiga pelo grupo devido a sua atuação contra a mineração na Serra do Curral, foi Gilberto Carvalho, apontado na operação como sendo o lobista do esquema de fraude e corrupção no licenciamento ambiental. Nas interceptações, Lages e Gilberto se referem a Duda de maneira pejorativa, com adjetivos como “travecão” e “travestida”.

 

 

Aliado de Nikolas Ferreira e muito ligado a figuras importantes do PL mineiro, Gilberto Carvalho recebeu de Lages, em outubro passado, conforme print das conversas que constam no inquérito, a missão de dar andamento na distribuição da documentação contra Duda. “Vou entregar essas informações para pessoas capacitadas, que você sabe muito bem quem é”, diz Gilberto Carvalho.

As interceptações também revelam que Lages compartilhou com Rodrigo Teixeira o protocolo da denúncia contra Duda, cerca de uma hora depois de os dois conversarem pelo telefone. De acordo com a PF, tudo indica que Lages teria pedido e recebido orientações de Teixeira sobre como proceder a denúncia que seria feita por Nikolas.

O documento protocolado pelo deputado federal do PL foi elaborado pelo seu assessor jurídico, Thiago Rodrigues, citado em outro trecho da denúncia em conversa com Carvalho sobre uma mineração que seria apresentada para empresários interessados em investir no ramo.

Gilberto Carvalho foi apontado pela investigação da PF como responsável pela articulação junto a órgãos ambientais para obtenção ilícita de licenciamento ambiental para mineradoras. Ele aparece também em outra interceptação manobrando para impedir a aprovação pela Assembleia Legislativa do projeto de tombamento da Serra do Curral. 

Nas mensagens grampeadas, ele afirma a Lages que iria solicitar ao deputado Bruno Engler (PL) que pedisse vista do PL na intenção de atrasar sua tramitação. No entanto, o deputado não pediu vistas. 

Gilberto foi assessor na campanha de 2024 para a Prefeitura de Belo Horizonte da coronel Cláudia Romualdo, que foi vice de Engler, e também trabalhou no gabinete do vereador de Belo Horizonte, Uner Augusto (PL), que foi suplente de Nikolas na Câmara Municipal de Belo Horizonte, quando exerceu o seu primeiro cargo eletivo. Engler e Uner afirmam desconhecer a atuação de Carvalho no suposto esquema de fraudes. Nikolas também foi o principal cabo eleitoral de Gilberto Carvalho na última eleição para a presidência do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de Minas Gerais (Crea-MG).

 

O assessor jurídico de Nikolas disse que recebeu no gabinete do deputado a denúncia contra Duda – sem citar quem a fez – e que encaminhou para os órgãos competentes, como o gabinete faz com todas que chegam “sobre pessoas de toda sorte”. Ele também afirmou que advoga para o setor de mineração e que chegou a discutir com Gilberto Carvalho sobre uma área que poderia ser vendida para exploração minerária. “Então eu apresentei para alguns interessados, porque como advogado eu posso intermediar a venda da área normal. Até já fiz isso”. O advogado também afirmou ter ficado surpreso com a prisão de Carvalho. “Mas acredito que ele vai conseguir provar sua inocência”.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos presos. O espaço segue aberto para manifestações.

Contas aprovadas 

Na denúncia feita contra Duda, Nikolas afirma que ela teria usado recursos da campanha eleitoral para pagar ex-assessores. Procurada pela reportagem, Duda Salabert afirmou que suas “contas de campanha foram todas aprovadas, sem nenhuma irregularidade”. Segundo ela, essa denúncia foi feita pela “máfia da mineração” na tentativa de intimidá-la em função das denúncias feitas por ela há anos contra irregularidades no setor. “Há anos eu denuncio o roubo de minério na Serra do Curral. E após essas minhas denúncias, eu sofri algumas ameaças de morte dessa máfia da mineração. Minha família também foi ameaçada de morte por esses criminosos”, destacou a deputada.