ENTREVISTA

Brasil247 – Em entrevista concedida aos jornalistas Leonardo Attuch e Mario Vitor Santos, da TV 247, o ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, afirmou que o governo do presidente Lula aposta na ação direta do Estado para enfrentar a fome, a miséria e a desigualdade. “Um governo como o do presidente Lula acredita é na mão visível, é ir lá dar a mão, dar o apoio”, disse o ministro, ao defender que o chamado “PIB dos mais pobres” é hoje um dos motores centrais da economia brasileira.

Ao fazer um balanço do terceiro mandato do presidente Lula, Dias destacou que o Brasil voltou a sair do mapa da fome, ampliou o Bolsa Família, gerou milhões de empregos formais e impulsionou pequenos negócios. Na conversa com a TV 247, ele reiterou que a estratégia é integrar políticas sociais e econômicas, garantindo renda, qualificação, crédito e proteção para que famílias saiam da miséria, superem a pobreza e ingressem na classe média. “É o PIB dos mais pobres que está sustentando o crescimento econômico, cara pálida, é o PIB dos mais pobres”, afirmou.

Do Fome Zero à volta do Brasil ao mapa da fome

Wellington Dias lembrou que o combate à fome é uma marca histórica dos governos Lula, desde o lançamento do Fome Zero, em 2003, quando ele era governador do Piauí, então o estado mais pobre do país. Naquele período, a combinação de programas de transferência de renda, fortalecimento da segurança alimentar e políticas sociais estruturadas levou o Brasil a sair do mapa da fome da FAO em 2013 e 2014, ao reduzir para menos de 2,5% o percentual de pessoas em insegurança alimentar severa.

O ministro ressaltou que esse avanço foi brutalmente interrompido após o golpe de Estado contra Dilma, em 2016, com o desmonte de políticas públicas que garantiam comida na mesa dos mais pobres. “Além de tirar a presidenta eleita, se tirou também todo o alicerce das políticas sociais”, disse. Ele citou o congelamento da merenda escolar, o fim ou esvaziamento do Programa de Aquisição de Alimentos, do programa do leite e de várias iniciativas que sustentavam baixa desnutrição e subnutrição no país.

Reconstrução no governo Lula 3: cadastro moderno e busca ativa

Segundo Dias, o retorno de Lula ao governo permitiu reconstruir, em tempo recorde, uma rede de proteção social articulada e tecnológica. Ele destacou o papel do Cadastro Único, que hoje identifica com precisão quem está na miséria, na pobreza, em baixa renda e em situação de vulnerabilidade — incluindo população em situação de rua e imigrantes.

“O Brasil faz um feito muito importante porque, em apenas dois anos, já com a experiência que o país tinha, nós conseguimos, com transferência de renda, complemento alimentar e um moderníssimo Cadastro Único, tirar mais de 30 milhões de pessoas da fome”, afirmou. De acordo com o ministro, o governo atua com busca ativa, indo a florestas, favelas, unidades de saúde e periferias para localizar famílias com desnutrição e subnutrição, articulando equipes do MDS, do SUAS e do Ministério da Saúde.

Ele explicou que a primeira pergunta é sempre objetiva: o problema é de renda, de falta de alimento ou de saúde? A partir disso, a rede pública é acionada para garantir atendimento, alimentação adequada e inclusão no Bolsa Família e em outros programas.

Volta de políticas estruturantes e combate ao desperdício

Dias destacou que o governo Lula 3 não se limitou a retomar programas antigos, mas os reorganizou com foco na soberania alimentar e no controle da inflação de alimentos. “Voltamos tudo: programa do leite, programa de apoio ao pequeno agricultor, banco de alimentos, combate ao desperdício”, disse.

 Ele citou a preocupação do governo diante da crise climática no Rio Grande do Sul, responsável por grande parte da produção de arroz no país. Segundo o ministro, o governo atuou diretamente para estimular a produção de arroz em outras regiões, pactuar com produtores e evitar alta generalizada dos preços. O objetivo, explicou, é garantir alimentos da cesta básica a preços acessíveis, com inflação sob controle, especialmente para os mais pobres.

Novo Bolsa Família: renda, proteção e porta de saída

Na entrevista à TV 247, Wellington Dias fez questão de frisar que o novo Bolsa Família foi redesenhado para ser, ao mesmo tempo, um programa de combate à fome, de redução da extrema pobreza e de promoção de mobilidade social. “A gente criou um mecanismo, o novo Bolsa Família, que quando alguém entra no cadastro e entra no Bolsa Família, só sai para cima e nunca mais volta à fome”, afirmou.

Ele explicou que o benefício parte de um valor mínimo de R$ 142 por pessoa, mas com adicionais para famílias com crianças, gestantes e adolescentes. Segundo o ministro, isso permite chegar, em média, a cerca de R$ 230 per capita, acima da linha internacional utilizada para definir extrema pobreza. “É para a pessoa sair da extrema pobreza e ter um dinheiro para comprar o alimento, a comida e complemento alimentar”, explicou.

Ao mesmo tempo, o programa funciona como uma espécie de “colchão de proteção”: quem melhora de vida, consegue emprego ou abre um pequeno negócio continua no Bolsa Família por um período de transição, e permanece no Cadastro Único. Se perder o emprego ou se o negócio não der certo, volta automaticamente ao benefício, sem fila. “Depois que entra, repito, só sai para cima”, sintetizou.

4,8 milhões de empregos e o protagonismo dos beneficiários

Wellington Dias apresentou números que, segundo ele, desmentem o preconceito de que beneficiários de programas sociais não querem trabalhar. O ministro celebrou os dados do Caged e ressaltou o peso decisivo do público do Bolsa Família na nova fase de crescimento econômico.

“O Brasil está comemorando porque agora saiu o Caged de outubro: nós fomos para 4,8 milhões de novos empregos a mais. Quer saber? 83,3% é o povo do Bolsa Família, do Cadastro Único”, afirmou. Para Dias, o dado mostra que a população de baixa renda responde rapidamente quando surgem oportunidades consistentes de emprego digno. “O povo quer trabalhar. Agora, quer emprego decente, um emprego duradouro, um salário adequado”, enfatizou.

Ele relatou experiências de qualificação profissional articuladas com grandes empresas, como redes de supermercado e a própria Amazon, que está formando centenas de milhares de profissionais para trabalhar com computação em nuvem, com salários que podem chegar a R$ 8 mil. Segundo o ministro, há um esforço para conectar o mundo do trabalho ao universo dos beneficiários, com cursos desenhados sob medida para as necessidades das empresas.

Explosão de pequenos negócios e histórias de transformação

Além dos empregos formais, o ministro destacou a expansão de pequenos negócios no país, em grande parte impulsionados por beneficiários do Bolsa Família e por políticas de microcrédito. “O Brasil está comemorando 4,8 milhões de novos empregos a mais do que lá no Bolsonaro. Mas são 11 milhões de pequenos negócios a mais. Sabia disso?”, disse.

Wellington Dias contou histórias de beneficiárias que saíram da pobreza pelo empreendedorismo, como a mulher de Aracaju que, com um pequeno financiamento, saiu de uma banquinha de artesanato no sol para se tornar dona de quatro lojas, com funcionários com carteira assinada. Outra história citada foi a de Patrícia, do Ceará, que passou pelo Bolsa Família, fez curso na área de beleza e montou seu próprio salão. “Antes eu era Patrícia do Bolsa Família, fiz o curso, passei a ser conhecida como Patrícia Cabeleireira. Eu agora sou a empresária Patrícia, dona de um salão”, relatou a beneficiária, em fala reproduzida pelo ministro.

Para Dias, essas trajetórias exemplificam como qualificação, crédito e assistência técnica produzem mobilidade social real. Ele lembrou que muitos beneficiários já têm formação. “Dez por cento do povo do Bolsa Família tinha curso superior ou técnico ou estava fazendo”, apontou, criticando o preconceito contra os mais pobres.

Desigualdade, salário mínimo, imposto de renda e classe média

Na entrevista à TV 247, o ministro ressaltou que a agenda econômica do governo Lula combina crescimento com redução da desigualdade. Ele citou os avanços em indicadores de miséria, pobreza e distribuição de renda e fez referência ao aumento real do salário mínimo e à nova política de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

“Imagine imposto zero para quem ganha até R$ 5.000. Eu estou falando de professor, comerciário, um monte de gente”, disse. Segundo Dias, milhões de trabalhadores que pagavam 10% de imposto sobre a renda deixarão de ter essa dedução e, na prática, ganharão um aumento de 10% no salário líquido. “É isso que vai acontecer, com a lei sancionada e entrando em vigor agora no começo do ano”, explicou.

Ele afirmou que essas medidas colaboraram para levar o Brasil ao mais baixo patamar de pobreza e desigualdade da série histórica. De acordo com o ministro, a pobreza, que havia subido para cerca de 37% após o golpe de 2016, caiu para 20%, e o índice de desigualdade, medido pelo coeficiente de Gini, recuou de 0,544 para 0,506. Dias também destacou o caso do Piauí, que saiu da condição de estado mais desigual para registrar índice de Gini menor que a média nacional e elevou seu IDH de 0,4 para 0,73.

Ele disse ainda que a classe média, que havia encolhido para cerca de 43% dos domicílios, voltou a crescer e já alcança 50,1%. “Não tem menos de 3 milhões, nas minhas contas, da nova classe média brasileira que vieram do Bolsa Família”, estimou.

Golpe de Estado contra Dilma e disputa de modelos de país

Ao longo da entrevista, Dias vinculou a volta da fome e do desemprego a um projeto político que, em sua visão, favorece os mais ricos e abandona os mais pobres. “Se a gente olha para o golpe contra a Dilma, de certa maneira foi um golpe dos ricos contra os pobres”, afirmou, em diálogo com Leonardo Attuch e Mario Vitor Santos.

Para ele, o modelo defendido por setores neoliberais aposta na “mão invisível” do mercado e produz desigualdade estrutural. “Se um país como o Brasil deixar que a mão invisível resolva, nós vamos ter o que tem no Brasil e em muitos lugares: os mais ricos cada vez mais ricos, os mais pobres cada vez mais pobres”, afirmou. Em contraste, ele definiu a estratégia de Lula como o oposto: “O governo do presidente Lula acredita é na mão visível, é ir lá dar a mão, dar o apoio”.

Aliança global contra a fome e liderança internacional do Brasil

Wellington Dias também falou sobre a Aliança Global contra a Fome, aprovada no G20 sob presidência do Brasil, a partir de uma proposta de Lula. Ele lembrou que, apesar dos compromissos assumidos na ONU em 2015, a fome aumentou no mundo, passando de cerca de 600 milhões para 750 milhões de pessoas entre 2015 e 2022.

Diante desse cenário, a ideia da aliança é reunir experiências bem-sucedidas, como a alimentação escolar brasileira, fundos garantidores para pequenos negócios e programas integrados de transferência de renda e qualificação. “Não vamos resolver o problema da fome e nem da pobreza no mundo se os mais ricos não ajudarem os que estão em desenvolvimento”, relatou Dias, ecoando a posição de Lula.

Ele citou parcerias com países africanos, como Moçambique, para implantação de programas de alimentação escolar, com apoio de outros países e fundos privados. Segundo o ministro, o Brasil está oferecendo seu conhecimento acumulado e cobrando participação de grandes fortunas globais. “Eu estou conversando com aquele povo lá dos 500 bilionários mais ricos do mundo. Ei, bora ajudar aqui. Nós estamos precisando é de dinheiro. Vamos ajudar”, disse.

Política de cuidados e envelhecimento da população

A entrevista à TV 247 também abordou a situação dos idosos, muitos deles pobres e endividados, especialmente mulheres que assumem responsabilidades familiares. Dias explicou que o governo Lula criou uma política de cuidados específica, coordenada pela professora Laís Abramo, para enfrentar o envelhecimento da população e fortalecer a chamada economia do cuidado.

O ministro ressaltou que milhões de pessoas em idade economicamente ativa deixam de estudar ou trabalhar para cuidar de idosos, pessoas com deficiência ou crianças, muitas vezes sem qualquer remuneração. “O não fazer é mais caro. Não dar o peixe é mais caro, mas tem que ensinar a pescar e dar a condição dos equipamentos”, afirmou.

Entre as iniciativas, ele citou a criação de “cuidadotecas”, espaços onde cuidadores podem deixar seus familiares para estudar ou trabalhar, e arranjos com o Ministério da Saúde para ampliar o atendimento domiciliar, evitando o rompimento de vínculos familiares e o isolamento em instituições de longa permanência.

Da miséria à classe média: um projeto de país

Ao final da entrevista, Wellington Dias resumiu a estratégia do governo em uma espécie de escada social: tirar da fome, tirar da miséria, tirar da pobreza e levar à classe média, sem permitir retrocessos. Ele relacionou essa visão à própria trajetória de Lula e de milhões de brasileiros. “Quando a gente está aqui entre a miséria e a pobreza, a diferença não é tão grande. Quando você vai para a classe média, que pode fazer o churrasquinho, que pode comprar um tênis, uma camisa, chega lá, mete a mão no bolso e paga do suor do meu trabalho”, disse.

Para o ministro, o povo brasileiro é capaz de grandes transformações quando tem oportunidade. “O povo brasileiro é um povo extraordinário”, afirmou, defendendo que o Estado siga atuando com força para reduzir desigualdades e consolidar uma grande classe média.

Dias concluiu com uma mensagem de confiança no rumo adotado pelo governo Lula. “Eu quero dizer que o Brasil está no rumo certo”, afirmou, destacando a importância de um presidente com a experiência de Luiz Inácio Lula da Silva, de um vice-presidente como Geraldo Alckmin e de um time que trabalha em integração com governadores e prefeitos de diferentes partidos, sempre com o foco em um país sem fome e com mais justiça social.