Ex-governador prestou depoimento nesta sexta-feira

Num depoimento emocionado, três dias após conhecer o neto na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) afirmou nesta sexta-feira (8) que não soube se conter diante do poder obtido em duas décadas de carreira política.

Ele reconheceu "promiscuidade" com empresários, disse ter adotado prática "desonestas" e assumiu ter tido "soberba" em sua carreira política ao eleger aliados para diferentes cargos. Ainda assim, mudou pouco a linha de defesa, afirmando que nunca pediu propina, mas se apropriou de sobra de caixa dois de campanha.

"Foi nessa promiscuidade [com empresários] que eu me perdi, que eu usei dinheiro de campanha para fins pessoais. [...] Eu não soube me conter diante de tanto poder e tanta força política. De uma maneira vaidosa querer fazer prefeitos nas cidades, vereadores, deputados, usar recursos...", declarou o ex-governador.

O emedebista admitiu que arrecadou cerca de R$ 500 milhões para campanhas próprias e de aliados, tendo usado cerca de R$ 20 milhões para uso pessoal.

Cabral voltou a afirmar que ajudou campanhas de aliados e "até da oposição". Mas, mais uma vez, se negou a nomear os beneficiários do caixa dois que arrecadou.

Provocado pelo juiz Marcelo Bretas, ele disse ter interesse em reparar financeiramente os crimes que confessou, entregando bens.

"Abra mão de seu patrimônio e demonstre de forma prática seu arrependimento", disse o juiz Marcelo Bretas.

"Qual a importância de patrimônio estando longe dos filhos?", disse ele, que afirmou que vai oferecer os valores à Justiça.

O discurso mais humilde foi adotado na semana em que Cabral conheceu, com autorização de Bretas, seu primeiro neto, filho de Marco Antônio Cabral (MDB).

"De uns dias para cá venho refletindo sobre os erros que cometi. A história vai dizer meus acertos e meus erros como governante, parlamentar. Mas sem dúvida, o senhor me permitiu no início dessa semana fazer eu olhar para mim mesmo para o meu passado presente e futuro", disse ele.

Antes da audiência, Bretas defendeu a autorização dada e afirmou ser "humano antes de juiz".

"Só não bateram em mim por ter autorizado o encontro com seu neto, porque houve algo mais importante, a conversa com o ex-presidente. Não abro mão. Independente da ignorância de algumas pessoas, prefiro pecar pelo excesso de gentileza. Não veja em mim um inimigo", disse o magistrado.

O emedebista foi ouvido na ação penal em que é acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas por meio dos doleiros Renato e Marcelo Chebar. Contudo, voltou a falar de modo geral sobre as acusações de cobrar 5% sobre grandes contratos durante sua gestão. Com informações da Folhapress.