Josias de Souza

UOL

Prestes a assumir o governo de São Paulo no lugar do tucano Geraldo Alckmin, que deixará o cargo para disputar o Planalto, Márcio França (PSB) prepara o lançamento de um programa que vai dar o que falar. Consiste no “alistamento civil” de 100 mil jovens de 18 anos —uma legião equiparável ao contingente da Polícia Militar paulista. Receberão remuneração, uniforme e treinamento para trabalhar nas ruas por um período de um ano.

O alvo do programa, disse o futuro governador ao blog, é a juventude em situação de “vulnerabilidade” social. Deseja-se oferecer aos jovens refugados no alistamento obrigatório do Exército, da Marinha e da Aeronáutica a opção de prestar “serviços gerais” no asfalto —de primeiros socorros ao fornecimento de informações turísticas.

França estima que cada “alistado” custará ao Estado R$ 1 mil por mês. No total, R$ 100 milhões mensais. Como que antevendo as críticas que trovejarão sobre sua cabeça, o virtual substituto de Alckmin sustenta que os gastos resultarão em economia de verbas públicas em outras áreas.

Nessa versão otimista, o programa de alistamento civil evitaria que jovens pobres fossem recrutados pelo crime organizado. Com isso, acredita Márcio França, cairiam os índices de criminalidade e todas as despesas dele decorrentes: desde os gastos com o sistema prisional até os custos com o Sistema Único de Saúde.

Exceto pelo vocábulo “civil” que traz enganchado no nome, tudo no projeto de Márcio França exala um aroma militar: o alistamento, a farda, a disciplina, a convocação de PMs aposentados para atuar como tutores dos jovens… Mas a analogia não parece incomodar o autor da iniciativa.

França disse ter implantado o mesmo programa em São Vicente, no litoral paulista —cidade da qual foi prefeito por dois mandatos, de 1997 até 2004. Ali, o alistamento foi batizado de Jepom, sigla de “Jovens em Exercício do Programa de Orientação Municipal”. A iniciativa foi inspirada numa ideia do tucano José Gregori, que foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso. O viés militar rendeu muitas críticas a França. Mas ele dá de ombros.

Márcio França declarou que promoverá um “rearranjo político-administrativo” no governo de São Paulo. Candidato à reeleição para o cargo que ainda não assumiu, ele compõe uma coligação partidária sem o PSDB, que optou por participar da corrida ao Palácio dos Bandeirantes com um nome próprio.

O tucanato paulista não perde nada medindo forças com o substituto de Alckmin, exceto o pescoço. França informa desde logo que aguarda pelos pedidos de demissão dos tucanos que ocupam cargos de confiança no governo. “Quem tem ética, não fica no governo de alguém, para depois trabalhar por outro candidato”, afirmou o quase-governador, que deseja acomodar seus apoiadores nos cargos que ficarão vagos.

De zero a 10, qual é a chance de o PSB apoiar a candidatura presidencial de Alckmin?, quis saber o repórter. Márcio França saiu-se com uma resposta, digamos, tucana: “…Alguma coisa em torno de cinco.” Na sequência, o entrevistado enumerou tantas alternativas que acabou realçando o fosso que separa o seu partido do projeto presidencial de Alckmin.

“Hoje, há grande parte das pessoas que preferem não ter nenhum candidato” à Presidência”, afirmou França, antes de enfileirar os nomes que estão sobre a mesa: Ciro Gomes, Joaquim Barbosa, Aldo Rebelo, Beto Albuquerque… Vai Abaixo a íntegra da entrevista com Márcio Fança.