OPERAÇÃO REJEITO

Troca de mensagens interceptadas pela Operação Rejeito, deflagrada nessa quarta-feira (17/9) pela Polícia Federal (PF) para investigar um esquema de corrupção no setor de mineração no estado, revela que um dos presos, Gilberto Henrique Horta de Carvalho, ligado ao PL mineiro, atuou junto à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para barrar o Projeto de Lei 1449/23, de autoria da deputada Beatriz Cerqueira (PT), que tombava a Serra do Curral, tornando o local monumento natural.

Apontado como lobista político do esquema investigado, Gilberto Carvalho trocou mensagens com o ex-deputado João Alberto Paixão Lages, ambos presos, sobre a tramitação do PL, cuja tramitação está parada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) desde 27 de fevereiro de 2024. 

Um dia antes, Lages alerta Carvalho que o PL entrou na pauta da CCJ e pede a ele que interceda junto ao deputado estadual Bruno Engler (PL), integrante da CCJ, para que o parlamentar do PL peça vista do relatório, caso o texto fosse apresentado pelo relator Charles Santos (Republicanos). O lobista então informa ao ex-deputado que vai no dia seguinte ao gabinete de Engler. Lá do gabinete, Gilberto Carvalho avisa a Lages que está com o parlamentar. “Já tô aqui no Bruno”, avisa, depois não há mais mensagens sobre esse assunto no despacho. 

No mesmo dia, o próprio relator requer informações sobre o PL para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Semad) e a matéria nunca mais entra na pauta, que é feita pelo presidente da CCJ, na época o deputado Arnaldo Silva (União Brasil). Ontem, depois da deflagração da operação, a relatoria foi distribuída para o deputado estadual Jean Freire (PT). 

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Troca de mensagens entre o ex-deputado João Alberto Paixão Lages (JAPL) e o assessor parlamentar Gilberto Carvalho pedindo para ele atuar junto aos deputados estaduais Bruno Engler (PL) e Charles Santos (Republicanos)Reprodução

Nas conversas interceptadas, Gilberto Carvalho afirma que o PL da deputada “mataria” todos os planos de exploração da mineração na área da Serra do Curral. “O tamanho do parque mata todos os projetos. Pega até Sarzedo”, afirmou o lobista na conversa com Lages.

Gilberto Carvalho recebeu, por meio de sua empresa de consultoria, a GH Sustentabilidade, R$ 700 mil da Fleurs, mineradora que obteve, em agosto do ano passado, autorização do governo do estado para operar na Serra do Curral. A mineradora, uma das investigadas na operação, já atuava na região da serra e da bacia do Rio das Velhas, por meio de termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), apesar de seu histórico de irregularidades.

Muito ligado ao PL, Gilberto Carvalho teve como cabo eleitoral para a última eleição do Crea-MG (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais) em 2023, quando disputou a presidência do órgão, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em suas redes sociais, ele se apresenta como cristão e de direita e aparece em diversas fotos ao lado de figuras importantes do PL mineiro, como os vereadores de Belo Horizonte, Pablo Almeida e Willi, ex-assessores de Nikolas e Engler, inclusive em viagens a passeio. Gilberto Carvalho foi também, até o começo deste mês, assessor parlamentar de outro integrante do PL, o vereador Uner Augusto, e  também assessorou a candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada por Engler para a disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), coronel Cláudia Romualdo (PL).

Engler disse, por meio de uma nota, que recebeu “com surpresa a informação sobre a prisão do Gilberto” e que desconhecia “qualquer vínculo dele com práticas irregulares”. “Da minha parte, não houve pedido de vista nem qualquer tipo de ato para atrasar a tramitação do projeto citado”, afirmou o deputado.

Charles Santos foi procurado pela reportagem em seu gabinete, mas não retornou o pedido de informações. O espaço segue aberto.