EM ALAGOAS

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), foi vaiado nesta sexta-feira (12) pela plateia de um evento do governo federal realizado em Maceió, em Alagoas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que também participava do ato de lançamento de casas populares, saiu em defesa do alagoano e repreendeu os apoiadores. Essa é a segunda vez, em menos de 24 horas, que o petista elogiou o deputado federal.

Lula disse que o comportamento do público com as vaias “incomodava muito”, e declarou que o evento das entregas das residências do Minha Casa, Minha Vida tinha caráter institucional, e não de teor político. O petista falou ainda que o ato não era o momento de “disputa” eleitoral.

“A gente precisa apenas aprender a respeitar quando o ato é institucional. Um ato institucional não tem cor partidária. Senão fica difícil para um presidente da República viajar para inaugurar coisas. As pessoas que vêm aqui são convidadas por nós. E ninguém leva ninguém à sua casa para ser vaiado”, repreendeu o presidente.

“Eu sei das divergências dos partidos políticos que existem aqui, eu sei”, completou. Lula ainda lembrou que o Partido dos Trabalhadores (PT) não tem maioria no Congresso Nacional.  
Lira foi vaiado ao discursar, antes do presidente da República.

Para tentar conter a zombaria, o petista ficou de pé ao lado do deputado federal. Lula chegou a bater palmas para as falas de Arthur Lira e até fez coraçãozinho para a plateia para tentar conter o constrangimento. Irritado com a desaprovação, o presidente da Câmara subiu o tom e defendeu o seu trabalho como parlamentar.

“Mais do que vaias e aplausos, a função do parlamentar é trabalhar pelo seu Estado, continuar aprovando matérias no Congresso Nacional, dando suporte para que tudo aconteça nas políticas públicas. E a Câmara dos Deputados faz o seu papel”, bradou ao microfone com Lula ao lado aplaudindo.

Lira chegou a dizer que as vaias eram uma falta de respeito para com os moradores que estavam recebendo naquele momento as moradias populares. O público também distribuiu vaias e aplausos para o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), e o governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB-AL). Ambos, também são de grupos políticos distintos.


O petista agradeceu a presença do prefeito, do governador, dos deputados e de Lira. “Obrigado, porque senão fossem vocês, mesmo na adversidade, a gente não estaria aqui inaugurando esse conjunto habitacional”, frisou.

Lula e os elogios a Arthur Lira
Essa foi a segunda agenda de Lula em Alagoas em menos de 24 horas. Até então, o petista não tinha visitado o estado nordestino desde que tomou posse em 1º de janeiro de 2023.

Na quinta-feira (9), em São José da Tapera, o petista conseguiu reunir no mesmo palco adversários históricos da política de Alagoas: o deputado federal Arthur Lira, e o senador e ex-presidente do Senado Renan Calheiros (MDB-AL). Na ocasião, Lula fez aceno ao presidente da Câmara dos Deputados.

O petista disse que ele “ajudou muito o governo” ainda na transição, ao articular pela aprovação da PEC da Transição. “Me ajudou muito. Nós começamos a governar antes de tomar posse. Porque foi ele que coordenou, junto com o Rui Costa e o Fernando Haddad, a Proposta de Emenda à Constituição da Transição, que permitiu que a gente tivesse dinheiro para governar em 2023, que a gente tivesse dinheiro para recuperar o Bolsa Família, e que a gente tivesse coragem de anunciar o PAC no meio do ano passado”, declarou.

Naquela ocasião, Arthur Lira também fez afagos ao petista e disse que faz política sem criticar ninguém pelas costas. Apesar da declaração, o presidente da Câmara dos Deputados protagonizou troca de farpas com articulação política do governo federal. No mês passado, ele chegou a chamar o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “desafeto pessoal” e “incompetente”. 

A viagem de Lula a Alagoas é vista como um gesto de paz com Arthur Lira, após série de atritos e rompimento de acordos. O petista e o presidente da Câmara tiveram uma conversa reservada no Palácio da Alvorada para apaziguar os ânimos. Nenhum dos dois revelaram ao público o tom daquela conversa. O petista chegou a minimizar a crise com o Parlamento ao dizer “que nunca teve problema com o Congresso Nacional”.

Nesta sexta-feira, ainda em Maceió, o petista repetiu o discurso de que tem apoio dentro do Congresso Nacional para aprovar as pautas de interesses do Brasil e do Palácio do Planalto. "Nós, até agora, não tivemos um único projeto derrotado, todos foram aprovados".

Lula, no entanto, deixou de mencionar que o Palácio do Planalto teve que entregar os anéis para não perder os dedos na série de análises de vetos presidenciais feitos pelo Congresso Nacional na quinta-feira (9).