ELEIÇÃO


Principais candidatos à Presidência da Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL) já montaram as suas bases de apoio para a disputa que ocorrerá em fevereiro, mas concentrarão esforços, neste período que antecede a eleição, para garantir que não serão surpreendidos com traições. Apesar de ser uma tarefa difícil, em especial pelo fato de o voto ser secreto, os deputados tentarão manter os seus blocos mobilizados com a promessa de dar poder para os parlamentares indicarem cargos na administração dos seus estados ou na do governo federal.


Respaldado por todos os governadores do Nordeste, Rossi visitou, nesta semana, estados como Piauí, Ceará e Bahia, ao lado do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para negociar com os gestores locais e bancadas parlamentares. A figura do democrata pode ser um ponto a favor do emedebista, pelo menos na região, por conta da força política de Maia e, sobretudo, da oposição de quase todos os governadores nordestinos ao presidente Jair Bolsonaro, que apoia a candidatura de Lira.


Por sua vez, o deputado do PP tenta usar a influência do chefe do Planalto para obter vantagem. A equipe de Lira promete fazer jogo duro com quem votar contra ele, e os rumores são de que o parlamentar poderia “penalizar” quem tem cargos no governo, eliminando os postos desses deputados, caso eles desertem para a chapa adversária.


E essa estratégia deve servir não apenas para segurar votos, mas, também, para que Lira consiga atrair parlamentares do bloco que prometeu endossar o nome de Rossi, pois algumas funções na administração pública federal são de apadrinhados de MDB, DEM e PSDB, partidos que, em tese, votarão no rival de Lira. O líder do Centrão entende que quem não estiver do seu lado também não pode estar dentro do governo.


Por trás dessas costuras políticas, Rossi deve enfrentar um problema que nem a negociação de cargos pode lhe garantir todos os votos do grupo formado por PT, Cidadania, PV, DEM, PSDB, MDB, PCdoB, PSB, PDT, Rede e PSL: o nome dele não é unanimidade entre os 286 parlamentares das legendas, como no PSL, um dos principais redutos bolsonaristas na Câmara e que já demonstrou estar rachado para a eleição do mês que vem.


Outro exemplo é o PT. Apesar de ter decidido apoiar a candidatura do emedebista, só o fez depois de uma apertada votação interna (27 deputados foram a favor e 23, contra). A legenda ainda não aceita o fato de, em 2016, Rossi ter votado pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, o que levou Michel Temer, também do MDB, a assumir o Planalto.


Levantamento


Essa desconfiança em torno do nome de Rossi não acontece com Lira. As traições, portanto, serão inevitáveis e podem definir a eleição logo no primeiro turno. Um levantamento feito, nesta semana, pela Eurasia Group — empresa de consultoria e pesquisa de risco político — constatou que “as deserções dentro do campo de Rossi devem ser generalizadas”. Segundo a instituição, 15 deputados do PSB, 14 do PSDB, 14 do DEM e, ao menos, nove do PDT tendem a votar em Lira. “Rossi precisaria reduzir o nível de rejeição à sua candidatura em vários partidos de sua coalizão para virar a disputa a seu favor”, destacou a entidade.


A estimativa mais conservadora da consultoria indica que o deputado do PP tem grandes chances de obter, no mínimo, 260 votos, três a mais do que a quantidade necessária para vencer a disputa sem a necessidade de segundo turno. Contudo, a Eurasia Group diz que o líder do Centrão pode receber os votos de mais de 300 deputados.


“Os resultados reforçaram a probabilidade de uma vitória de Lira, possivelmente, por uma ampla margem. A maioria dos deputados e funcionários consultados viram Lira como o favorito — com vários graus de confiança —, embora alguns considerem a corrida muito próxima”, frisa a entidade. “Todas essas consultas, tomadas em conjunto, sugeriram que a vantagem de Lira cresceu desde dezembro e, agora, ele é um claro favorito para vencer.”


Novo lança Van Hattem


Com uma bancada de oito deputados, o partido Novo lançou a candidatura de Marcel Van Hattem (RS) para a Presidência da Câmara. Essa será a segunda vez que o parlamentar vai concorrer ao cargo. Em 2019, ele obteve 23 votos. Hattem terá o apoio oficial de seu próprio partido, que tenta reforçar uma imagem de independência na Casa. “Temos convicção de que o Brasil merece mais e, por isso, estamos decididos a enfrentar esse enorme desafio, em uma eleição em que o que mais conta é a posição individual dos parlamentares”, disse o político.