O diretor administrativo da ASPRA/PMBM (Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militar de Minas Gerais), subtenente Heder, afirmou que a categoria avalia que o governador Romeu Zema (Novo) e o vice-governador Mateus Simões (Novo) podem estar segurando as recomposições salariais dos policiais para liberar recursos apenas em 2026, em pleno ano eleitoral, quando estarão em disputa cargos de presidente, vice, governador, vice, deputados e senadores. O governo, por sua vez, alega que a situação fiscal do Estado impede até mesmo a correção inflacionária dos últimos anos nos salários da categoria. A declaração foi dada ao programa Café com Política, do canal O TEMPO, exibido nesta quarta-feira (18 de junho). 

“A gente não sabe o que acontece lá nos grandes bastidores, mas o que corre a boca miúda, o que a gente imagina, é que esse é um contingenciamento que vai ser feito esse ano para que no ano que vem as torneiras estejam abertas”, avaliou. 

“Nós estamos discutindo é 2026. Todo dia nós ouvimos o nosso governador dizer que se quiserem ele é candidato à Presidência da República, que o vice-governador já é candidato ao governo do estado. Ou seja, neste momento eu te sacrifico, neste momento eu te imponho cortes excessivos, mas no ano que vem concede 5% de recomposição, 6% ou 10%, e nós vamos ver como é que a coisa vai ficar”, afirmou, lembrando que Mateus Simões é pré-candidato na disputa pelo Executivo estadual, enquanto o partido de Zema o apresenta como pré-candidato a presidente. 

“O maior prejudicado nesse campo todo é a sociedade. O servidor é na perspectiva financeira dele, mas do ponto de vista de execução, é a sociedade. E eu estou falando só da Polícia Militar, mas tem o bombeiro militar, o sistema prisional, a Polícia Civil com as suas mais diversas facetas de atuação no campo. Então a segurança é uma área extremamente sensível, que não dá para brincar, não dá para fazer contingenciamento”, frizou o líder da associação da categoria. 

Para ele, a falta de valorização gera consequências no serviço oferecido pelos militares. “Uma viatura não vai deixar de atender uma ocorrência quando houver chamado do 190. Mas quando é que o policial militar atua de iniciativa? Quando ele está passando em algum lugar e vê qualquer coisa, ele para de iniciativa, às vezes até à paisana. Ele para a viatura e faz uma abordagem. Quando o governo atua dessa forma com a categoria, isso que gera ônus. O sentimento gera direito? Não, mas te motiva. Então, se ele não tem mais aquele sentimento de que ele é valorizado, ele vai deixar de agir por iniciativa”, afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de uma “greve branca” — já que, pela Constituição, policiais não podem entrar em greve —, o subtenente Heder afirmou que a categoria deve “se dar conta” da insatisfação quando perceber que o vale-alimentação, concedido pelo governo Zema em março, não é pago a servidores licenciados ou aposentados. “Ainda que ele esteja licenciado, ele vai deixar de comer? Não.  Ele vai receber o salário dele, que é o salário sem qualquer recomposição das perdas inflacionárias”, criticou. 

Articulação na ALMG

O diretor da ASPRA avaliou que o governo “joga dos dois lados” ao culpar diferentes atores pela dificuldade nas negociações salariais.  “A sensação que eu tenho é que o governo faz birra, é picuinha. Não vou conceder a recomposição para mostrar para vocês que eu não vou ceder, porque esse cidadão aqui me enche a paciência. Então, eu vou castigar a segurança pública, em especial a Polícia Militar, por conta desses representantes na Assembleia Legislativa. Essa é a sensação que nós temos. Olha, se se ele está usando a categoria para prejudicar quem está no Parlamento mineiro, a ação é mais covarde ainda do que podia se imaginar. Porque não espera se isso de um governador de estado", afirmou. 

“Eles dizem com a gente que os parlamentares são elementos que dificultam. Aí, certamente, quando eles estão com os parlamentares, dizem que quem dificulta isso são as entidades de classe. Então, ele joga dos dois lados e não assume a responsabilidade”, avaliou o líder da categoria.