Decreto do presidente interino, general Hamilton Mourão, publicado hoje no Diário Oficial, acaba, na prática, com a Lei de Acesso à Informação editada em 2011, no governo de Dilma Rousseff.
Principal instrumento da sociedade para se informar sobre o que os governos querem esconder, a LAI era muito utilizada por jornalistas investigativos, uma raça em extinção.
Com as novas regras baixadas pelo decreto do general, sob o pretexto de “atualização por conta das mudanças de nomes de ministérios”, mais servidores poderão classificar documentos como sigilosos, e por mais tempo.
Mourão criou agora os documentos “ultrassecretos” para manter documentos sigilosos por 25 anos, renováveis pelo mesmo período.
Ou seja, para que nunca se tornem públicos.
A ampliação do grupo de servidores com poder para classificação de documentos, relata o Estadão, era uma antiga reivindicação das Forças Armadas e do Itamaraty, ainda durante a elaboração da Lei de Acesso à informação.
Na prática, qualquer servidor classificado como DAS-6, do segundo ou terceiro escalão, agora pode decidir sobre o sigilo de documentos por 15 ou 25 anos.
Esta nova modalidade da velha Lei da Mordaça dos governos autoritários ressurge um dia após o cancelamento da entrevista coletiva do presidente Jair Bolsonaro, em Davos, na Suíça, que deixou perplexos os jornalistas dos principais veículos do mundo (menos os brasileiros).
Em lugar da coletiva, o presidente achou por bem dar mais uma entrevista exclusiva à Record, uma das emissoras chapa-branca do governo, para defender seu filho Flávio Bolsonaro, alvo de variadas acusações sobre suas movimentações financeiras e ligações com as milícias:
“Não é justo fazer isso com o garoto para me atingir”, queixou-se o presidente.
Agora, com a Lei Mourão, vai ser mais difícil tornar públicas denúncias como, por exemplo, as de relatórios do Coaf sobre movimentações financeiras “atípicas” na Assembléia Legislativa do Rio, que revelaram para o mundo o gênio do motorista financeiro Fabrício Queiroz, um ex-PM e ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Amanhã volta todo mundo de Davos e tem final da Copinha entre São Paulo e Vasco.
Vida que segue.