Decidido, até então, a entrar novamente na disputa para o governo do estado em 2026, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PDT), deve apostar em ações que considera importantes na sua gestão municipal como diferencial em relação aos demais concorrentes. A pré-candidatura ainda não foi lançada, mas a campanha, que começa no ano que vem, já tem uma ideia inicial de slogan, caso ele seja mesmo candidato: “coragem para fazer, coração para cuidar”. 

A estratégia é unir as duas palavras, coração e coragem, associando a feitos de sua gestão na cidade e tentando se mostrar um candidato forte para a gestão do estado. Um deles, por exemplo, é um projeto lançado em 2021, com foco em vilas, favelas e conjuntos habitacionais de Belo Horizonte, com o objetivo, à época, de ampliar o acesso à internet em regiões mais carentes da cidade.

Outra propaganda que pretende usar, caso seja mesmo candidato, são as ações para construção de bacias de contenção de águas de chuva. Durante a gestão como prefeito, anunciou obras para evitar, por exemplo, enchentes na avenida Vilarinho, na região de Venda Nova. Por diversas vezes, se posicionou com firmeza em relação às responsabilidades da prefeitura.

Em um episódio específico, em Venda Nova, afirmou que a culpa por duas mortes era do prefeito: "chega de paliativo, chega de assassinato. O prefeito é culpado por duas mortes e uma pessoa desaparecida. Vocês não sabem como dói no coração do prefeito uma responsabilidade dessas", disse, em 2018, no segundo ano da primeira gestão, durante uma coletiva após uma mulher de 45 anos e uma menina de dez terem morrido em Venda Nova.

Essas obras de contenção já foram usadas como estratégia na campanha do deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos), que teve o apoio de Kalil para tentar a prefeitura em 2024, mas perdeu, sem chegar ao segundo turno. Em uma das agendas na rua, Tramonte citou que a bacia feita por Kalil em Venda Nova poderia ser levada para outros bairros.

Como carta na manga, o ex-prefeito também deve utilizar na futura campanha o funcionamento do Hospital do Barreiro (Hospital Metropolitano Dr. Célio de Castro). Durante a última disputa para o governo de Minas, em 2022, essa instituição de saúde chegou a ser motivo de ‘briga’ com o atual governador Romeu Zema (Nova), que venceu no primeiro turno. Kalil acionou a Justiça contra Zema, com pedido de direito de resposta sobre o uso do hospital como propaganda.

Outras ações que também devem estar no radar do futuro candidato são intervenções no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, como a construção da área de escape, na descida próxima ao bairro Bethânia. A alternativa utilizada para conter veículos em alta velocidade com dificuldades de frenagem no Anel também foi motivo de briga de Kalil, pela ‘paternidade’, com o ex-prefeito Fuad Noman, durante a última campanha para a Prefeitura de BH. Em um dos momentos tensos da disputa, Kalil chegou a afirmar que era “piada de salão” dizer que o sucessor fez qualquer obra desde que assumiu o cargo.

Mandato
Alexandre Kalil, também ex-presidente do Clube Atlético Mineiro, foi prefeito de Belo Horizonte por dois mandatos, de 2017 a 2022. Em 2016, ainda filiado ao antigo PHS – venceu em 2º turno, após derrotar o deputado estadual João Leite (PSDB). Já em 2020, foi reeleito, ainda em 1º turno, com 63,36% dos votos, desta vez filiado ao PSD.

Em março de 2022, renunciou ao segundo mandato para entrar na disputa ao governo de Minas. No seu lugar, ficou o vice Fuad Noman, que era do PSD e faleceu em março deste ano de 2025, em consequência de complicações de um câncer, depois de vencer as eleições em 2024.

Pesquisas
Sobre 2026, Kalil disse a O TEMPO há dois anos, em uma entrevista exclusiva, que estaria na disputa se as pesquisas indicarem que ele tem chances de vencer. Depois disso, em outras duas entrevistas concedidas a O TEMPO também repetiu o discurso. Na última, em julho de 2025, disse ser a terceira via para o governo de Minas.

Recentemente, o ex-prefeito, que estava sem partido desde o ano passado, se filiou ao PDT já com a intenção de colocar o nome para o jogo novamente. Nesta quinta-feira (6/10), o presidente nacional do PDT e ex-ministro da Previdência Social do governo Lula, Carlos Lupi, tem presença confirmada em um ato político do partido em Belo Horizonte, com a presença de Alexandre Kalil. Embora tenha dito que não pretende repetir a aliança com o presidente Lula (PT), em 2026, o ex-prefeito tem sido cortejado pelo Partido dos Trabalhadores.

Ao deixar o cargo de prefeito, em 2022, e anunciar sua renúncia para disputar o estado pela primeira vez, Kalil exaltou sua administração e ainda citou o compositor e cantor Cartola: “Digo sem medo que nós fizemos o que devíamos fazer: servimos, e servimos muito bem. Inicio um novo caminho. Como diria Cartola, ‘deixe me ir, preciso andar’. Sou um cara de trabalho. E dele não tenho medo”, afirmou o então prefeito de Belo Horizonte, em 2022. Agora, deve seguir para mais uma disputa em 2026.

Até então, tem como possíveis adversários o vice-governador Mateus Simões, que se filiou ao PSD recentemente e deixou o Partido Novo, para aumentar as chances de vitória; o senador Cleitinho (Republicanos), que ainda não anunciou oficialmente, mas é cotado para a disputa; o ex-vereador e atual presidente do MDB em BH, Gabriel Azevedo, que lançou a pré-candidatura na segunda (3/11).

E duas incógnitas ainda: o senador Rodrigo Pacheco (PSD), pré-candidato do presidente Lula (PT), mas que ainda não se decidiu, e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL), que também não se pronunciou oficialmente e lançou uma espécie de "brincadeira" nas redes, recentemente, para ouvir a população.

Além dos adversários, o ex-prefeito tem ainda o desafio de vencer um processo que corre na Justiça por improbidade administrativa, que já teve uma condenação em primeira instância, retirando direitos políticos, mas ainda cabe recurso. E, também, o desafio de convencer a população, em 853 municípios, de que os "feitos" em Belo Horizonte e as novas propostas a serem construídas o credenciam para ser o escolhido para governar o estado.