Executivos da J&F teriam revelado detalhes que envolvem o presidente no inquérito relacionado ao Decreto dos Portos



Um novo capítulo das investigações da Polícia Federal que apuram o suposto pagamento de propina na edição pelo presidente Michel Temer do Decreto dos Portos foi revelado. Em depoimentos ocorridos nos dias 15 e 16 deste mês, Joesley Batista, dono da J&F, e Ricardo Saud, ex-executivo do grupo, apresentaram detalhes no inquérito que apura se Temer beneficiou a empresa Rodrimar com a edição do decreto que prorroga os contratos de concessão no porto de Santos.

Em documentos revelados com exclusividade pelo Jornal Nacional, os dois delatores falam de uma fazenda que poderia ser de propriedade do presidente, além de uma medida de Temer para beneficiar a J&F no Porto de Santos. Segundo a reportagem, a J&F comprou uma área da Rodrimar para construir um terminal de cargas e escoar a produção da Eldorado Celulose.

A obra do terminal estava atrasada e tinha sido embargada pela Companhia Docas de São Paulo (Codesp). O ex-executivo, então, disse que procurou Temer em Brasília. Contou que o então vice-presidente tomou nota de detalhes e disse que ligaria para a Codesp para ver o que estava acontecendo. Saud disse, então, que poucos dias depois um diretor da Eldorado informou que a obra havia sido liberada e estava “a pleno vapor”.

No depoimento à PF, ainda segundo o JN, o ex-executivo também contou que o deputado federal Paulinho da Força, do Solidariedade, comentou com ele que Temer possui uma fazenda no interior de São Paulo em nome da Argeplan ou mesmo do coronel Lima. A Argeplan é a empresa do coronel reformado da PM de São Paulo João Baptista Lima Filho, amigo do presidente.

Saud disse que, inclusive, Paulinho da Força disse a ele que Temer havia lhe telefonado solicitando auxílio quando da invasão da fazenda de “um amigo” em questão pelo movimento dos sem terra (MST). Segundo o JN, Joesley também falou da fazenda em seu depoimento. Disse que “se recorda que Paulinho da Força comentou o depoente que existe uma fazenda no estado de São Paulo, em nome do coronel Lima ou da Argeplan, mas que na verdade seria de Temer. A fazenda, que seria a "Esmeralda", tem cerca de 1,5 mil hectares e foi invadida pelo MST em 2017.

Na semana passada, o delegado da PF Cleyber Malta Lopes, responsável pelas investigações, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prorrogação do inquérito por 60 dias. Caberá ao ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso, analisar o pedido. O ministro já pediu um parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre a prorrogação. A PGR informou ao JN que “por iniciativa própria”, já pediu a ampliação do prazo de quebra do sigilo bancário e fiscal de “vários investigados, pessoas físicas e jurídicas”, inclusive de Temer.

A Secretaria de Comunicação da Presidência declarou ao JN que Temer não possui nenhuma fazenda e que o presidente jamais teve reunião com Saud para tratar sobre a Eldorado, nem interferiu a favor da empresa na Codesp. Paulinho da Força disse que em nenhum momento afirmou que a propriedade era de Temer.

A investigação foi alvo de polêmica nas últimas semanas, depois que o diretor-geral da PF, Fernando Segovia, sinalizou possível arquivamento do inquérito que cita Temer. A declaração foi divulgada em entrevista à agência de notícias Reuters. A declaração levou Barroso a intimar o delegado a depor. Segovia negou ter dado a declaração, alegando que foi mal interpretado.