Com deputado Marcelo Álvaro Antônio no Turismo, partido bolsonarista ganha competidor de peso para disputar PBH e musculatura para se projetar no estado

Logo após o anúncio do seu nome para ministro do Turismo, o deputado Marcelo Álvaro Antônio (PSL) negou que a escolha tivesse um caráter partidário ou regional. “Minha indicação foi feita pela frente parlamentar em defesa pelo turismo. Não contempla nenhum partido e nenhum estado”, afirmou. Se assim ele diz, assim deve ser. Mas, inegavelmente, a nomeação tem fortes implicações político-partidárias em Minas. Bolsonaro frustrou grupos mineiros que pressionavam por outros ministeriáveis. Ao optar pelo deputado mais votado no estado, e ainda por cima dirigente do PSL, o presidente eleito faz um movimento político calculado e pragmático: ele está dando ao seu próprio partido nome e musculatura para construir um projeto de poder no 2º maior colégio eleitoral do país.

Dizem veteranos no meio que um político, logo que vence uma eleição, já começa a pensar na próxima. Com 07 mandatos parlamentares, Bolsonaro não foge à regra. E precisará de bases em Minas para ter vida longa no Planalto. O comandante das tropas bolsonaristas mineiras ficou definido lá atrás, quando Marcelo Álvaro Antônio assumiu a coordenação regional da campanha presidencial. A indicação para ministro só confirma o deputado como ponta de lança do bolsonarismo e do PSL no estado.

SONHO DE FAMÍLIA

O ministério cacifa Marcelo para o seu maior projeto até aqui: ser prefeito de Belo Horizonte, terra natal e base eleitoral. Trata-se de um sonho de família. O pai Álvaro Antônio Dias disputou a PBH em 1988, depois de exercer mandatos de vereador, deputado e vice-prefeito. O filho vem seguindo os passos paternos na carreira e na imagem; batizado como Marcelo Henrique Teixeira Dias, ele adotou o nome do pai ao entrar na política, numa decisão destinada a facilitar a primeira eleição mas também reveladora de apreço à herança política paterna. Marcelo carrega no próprio nome o ideal de governar a capital.

O deputado já disputou a PBH em 2016 pelo PR. Ficou no penúltimo lugar entre 12 nomes. Então, o PSL era nanico e Bolsonaro semidesconhecido. Nas próximas eleições, Marcelo terá a chance de fazer nova tentativa, desta vez com uma campanha robustecida pelo apoio do governo federal e de um partido em franco crescimento. Em Minas, o PSL saiu do nada para se tornar uma grande força emergente, elegendo a 4ª maior bancada na Assembleia Legislativa (06 deputados) e a 2ª na Câmara Federal (06). Na Câmara de BH, o PSL já tem dois vereadores.

ALIADO OU ADVERSÁRIO

Impossível dizer hoje se o futuro ministro do Turismo irá ou não disputar a PBH em 2020, contra o atual prefeito Alexandre Kalil, candidato natural à reeleição. Marcelo apoiou Kalil no 2º turno contra o tucano João Leite. E se mantém aliado ao prefeito. O deputado possui afilhados em vários cargos na PBH, segundo comentam os vereadores. O PSL que dirige em Minas é a legenda do líder do governo Kalil na Câmara Municipal, Léo Burguês. Em suma, a dúvida sobre a nova candidatura de Marcelo Álvaro Antônio em BH é de ‘timing’: ele pode preferir adiar o projeto e fazer um acordo com Kalil, para apoiar o prefeito em 2020 e ser o seu sucessor em 2024.

Com 44 anos, Marcelo Álvaro Antônio tem tempo para aguardar a sua vez. Já Bolsonaro, com 63 anos, tem pressa para consolidar seu projeto de poder nacional. O presidente eleito pode querer ou mesmo exigir que o PSL tenha candidato a prefeito nas principais capitais, posicionando-se para a eleição de governadores e a própria reeleição em 2022. Marcelo se tornou peça chave na estratégia bolsonarista para Minas. E seu futuro está condicionado a isso, assim como o seu passado foi moldado pela imagem paterna.

No primeiro momento, a ascensão do aliado Marcelo pode ser positiva para Kalil, que ganha um interlocutor no mais alto escalão em Brasília. Hoje o prefeito não tem muita gente para ajudá-lo no governo federal. No médio prazo, porém, as ambições maiores de Bolsonaro podem afastar o deputado do prefeito e transformar o aliado em um forte adversário.

Fonte:https://osnovosinconfidentes.com.br