BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Criticado por líderes partidários do Congresso, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, entrou em choque com o presidente Jair Bolsonaro. Auxiliares passaram a defender mudanças na articulação política.

O general da ativa, considerado um dos ministros de maior confiança do presidente, adotou atitude que desagradou Bolsonaro na negociação do acordo para a divisão do Orçamento impositivo com o Legislativo.

A relação turbulenta de Ramos com o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), é outro fator de desgaste. Cabe ao militar manter diálogo constante com líderes do governo no Congresso.

Na quarta-feira (4), a Câmara dos Deputados manteve o veto de Bolsonaro e devolveu temporariamente ao Executivo, após acerto com o governo, o controle de R$ 30,8 bilhões em recursos federais.

Agora, nova partilha está prevista para ser votada na próxima semana. O Congresso poderá ficar com, no mínimo, metade do montante. Já há, porém, resistência de parlamentares à divisão do dinheiro. Ramos foi, com a equipe de Paulo Guedes (Economia), o fiador de um primeiro acordo costurado com o Congresso para tentar resolver a briga.

Nas negociações, Ramos pautou sua atuação nas ameaças dos partidos do chamado centrão –partidos independentes como PP, PL, DEM, PSD e Republicanos–, que cogitavam derrubar o veto de Jair Bolsonaro. Se caísse, a gestão do dinheiro ficaria toda com o Congresso Nacional.

Com receio de uma derrota, Ramos negociou um pacto. Na avaliação de assessores palacianos, esse acordo foi mais generoso do que Bolsonaro pretendia ser com o Legislativo.

Inicialmente, a previsão era derrubar um dos quatro vetos. Posteriormente, seriam enviados projetos de lei para garantir ao Executivo a gestão de ao menos R$ 11 bilhões. Sobrariam ao Congresso cerca de R$ 20 bilhões.

Em contrapartida, deputados e senadores manteriam o veto a uma punição ao Palácio do Planalto caso o governo não executasse as emendas em até 90 dias.

Após a construção do trato, senadores de um grupo independente declararam ser contrários. Ele obstruíram a primeira sessão legislativa destinada a analisar os vetos.

Em seguida, houve a divulgação de um áudio do ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, em que ele sinalizava contrariedade a um acordo. Para ele, congressistas chantageiam o Executivo.

A crise ganhou nova dimensão. Manifestações pró-Bolsonaro do dia 15 de março aderiam à pauta anti-Congresso Nacional e anti-STF (Supremo Tribunal Federal).

Para assessores presidenciais, não houve improviso no vazamento da fala de Heleno. Segundo eles, o objetivo foi dar um recado, em posição referendada pelo presidente.

Em conversas reservadas relatadas à reportagem, Bolsonaro se posicionou mais de uma vez a favor de Heleno.

Antes de compartilhar um vídeo a um grupo de amigos com convocação para os protestos, Bolsonaro já havia enviado textos a aliados e auxiliares endossando a postura do general Heleno.

Para o núcleo militar, Ramos se precipitou na negociação. A avaliação é que, antes de fechar um acordo com os parlamentares, ele deveria ter feito um mapa de votação de apoio no plenário das Casas.