DISPUTA POR APOIO

De recepção calorosa com direito a selfie à possibilidade de ausência em cerimônia oficial do governo federal. Em quatro meses, a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), foi de um extremo ao outro.

Convidado para o anúncio de investimentos em Minas Gerais a ser feito por Lula nesta sexta-feira (28/06) em Belo Horizonte, Fuad não decidiu se comparecerá à cerimônia, conforme informações da assessoria do prefeito.

A indefinição destoa do cenário entre os dois em fevereiro, na primeira visita de Lula a Minas Gerais durante o seu terceiro mandato como presidente.

Lula, assim que desceu do avião, deixou-se fotografar ao lado de Fuad em registro feito pelo próprio prefeito, a chamada selfie, publicada em seguida nas redes sociais do prefeito. O registro foi acompanhado com a frase "vem coisa boa aí".

A fotografia fez com que o prefeito e seu grupo político se animassem com a possibilidade de apoio do presidente. Em seguida, durante cerimônia na capital com a participação de Fuad, Lula anunciou investimentos para Minas Gerais.

Especificamente para Belo Horizonte, fez comunicado de parceria entre o governo federal e a prefeitura para construção de escolas e postos de saúde no local onde funcionava o Aeroporto Carlos Prates, que foi desativado pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).

O núcleo da "guerra fria" entre Lula e Fuad é a disputa entre o PT e o PSD em Belo Horizonte pelo apoio do presidente na eleição para o comando da capital. O partido de Lula tem como pré-candidato o deputado federal Rogério Correia. Pelo PSD, Noman buscará a reeleição.

A relação começou a ficar estremecida, ao menos publicamente, em 14 de junho e envolveu exatamente a negociação em torno da área onde funcionava o Carlos Prates.

Enviado por Lula, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, visitou a área do aeroporto ao lado de Rogério Correia, que também participou das negociações sobre o destino do terreno. Fuad foi comunicado de última hora da agenda de Macêdo em Belo Horizonte e decidiu não se encontrar com o ministro.

O ápice do mal-estar entre Lula e Fuad, porém, ocorreu, na decisão sobre o que anunciar na passagem do presidente nesta sexta-feira por Belo Horizonte. Lula vai falar sobre investimentos em energia, educação e patrimônio histórico, mas nenhuma parte dos recursos, conforme auxiliares de Fuad, irá para esses setores em Belo Horizonte.

A ausência de um anúncio para a cidade, também segundo o entorno do prefeito, é o que motivou Fuad a, possivelmente, não comparecer à cerimônia. A reportagem entrou em contato com a Presidência da República e pediu informações sobre o que exatamente será anunciado na sexta e aguarda retorno.

Além de Belo Horizonte, Lula passará ainda por Contagem, na região metropolitana, e Juiz de Fora, na Zona da Mata. Ambas são governadas por mulheres filiadas ao PT - respectivamente Marília Campos e Margarida Salomão. Lula visitará Contagem nesta quinta-feira (27/06). A ida a Juiz de Fora acontece após a cerimônia em Belo Horizonte, na sexta-feira.

Esta é a quarta vez que o presidente viaja a Minas Gerais. Além da vinda em fevereiro, Lula esteve no Estado ainda em março, para inauguração de uma fábrica de insulina em Nova Lima, também na Grande Belo Horizonte, e para outra inauguração, de uma indústria de fertilizantes, em Serra do Salitre, no Triângulo Mineiro.

Zema não se encontrará com Lula

Enquanto Fuad ainda avalia se irá ou não se encontrar com o presidente, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), já tomou a decisão de não se encontrar com Lula. Nesta semana, durante encontro com jornalistas, o governador afirmou ter ficado surpreso sobre a presença do presidente no Estado a partir desta quinta.

Zema afirmou que não havia recebido convite para participar de cerimônias ao lado do presidente e que, todavia, não poderia comparecer, por compromissos assumidos no interior do Estado nos dias em que Lula estará em Minas.