Brasil247 – O jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial contundente contra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, acusando-o de ecoar o discurso da “delinquência bolsonarista” ao questionar a legitimidade do processo eleitoral brasileiro. A publicação condena a postura de Tarcísio, que tem defendido Jair Bolsonaro mesmo diante das acusações criminais que podem torná-lo inelegível em 2026.

O Estadão relembra que, em 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi impedido de disputar as eleições quando liderava as pesquisas, situação que gerou críticas da presidente do PT à época, Gleisi Hoffmann, que declarou: “O que estamos denunciando é que o impedimento de Lula (de concorrer à Presidência em 2018) seria uma fraude nas eleições”.

Hoje, observa o jornal, o mesmo discurso é repetido por bolsonaristas, mesmo em situações distintas. Em recente manifestação, Tarcísio afirmou: “Não haverá paz social sem paz política, sem visão de longo prazo, sem eleições livres, justas e competitivas”. A insinuação, segundo o Estadão, é inequívoca: eleições sem Bolsonaro não seriam legítimas.

Hipocrisia escancarada

A publicação evidencia a contradição do governador paulista, lembrando que ele próprio foi eleito em 2022 em eleições que seguiram exatamente as mesmas regras. “Não há notícia de que o sr. Tarcísio tenha considerado injusta a eleição que ele mesmo venceu em 2022. Ou que tenha considerado injusta a eleição de seu padrinho, Jair Bolsonaro, em 2018, a despeito da exclusão de Lula da Silva do páreo”, pontua o editorial.

O texto reforça que o sistema eleitoral brasileiro é regido por normas claras e fiscalizado pela Justiça Eleitoral, e destaca que a inelegibilidade é consequência direta da Lei da Ficha Limpa, que impede a candidatura de políticos condenados por órgãos colegiados.

Tarcísio se alinha aos ataques contra a democracia

Para o Estadão, a postura de Tarcísio alimenta a narrativa de deslegitimação das instituições, o que é prejudicial ao país. “Se está realmente interessado na paz, o sr. Tarcísio, justamente pela responsabilidade institucional que tem, deve colaborar para dissipar as desconfianças lançadas por gente que não tem o menor compromisso com a democracia”, afirma o editorial.

O jornal também questiona o vínculo do governador com Bolsonaro, destacando que sua carreira política foi impulsionada pelo ex-presidente, mas isso não poderia justificar a conivência com atos e discursos golpistas. “Seja movido por fidelidade genuína ou cálculo eleitoral, é deplorável que o governador de São Paulo prefira ignorar a gravidade dos fatos, relativizando, na prática, os crimes de que Bolsonaro é acusado e a independência do Supremo Tribunal Federal (STF) para julgá-lo”, sentencia o texto.

O fim da ambiguidade

O editorial conclui afirmando que Tarcísio vinha mantendo uma posição ambígua, tentando parecer distante dos excessos bolsonaristas sem romper com a base radical, mas essa estratégia chegou ao limite após os ataques do clã Bolsonaro ao Brasil com pedidos de intervenção dos Estados Unidos, presidido em segundo mandato por Donald Trump.

 “Havia diversas formas politicamente hábeis para Tarcísio demonstrar seu apoio a Bolsonaro sem afronta ao Judiciário. Mas desde que Bolsonaro e seus aliados passaram a atacar o País incitando governos estrangeiros, a escolha se tornou clara: ou se está ao lado do Brasil ou de Bolsonaro. Tarcísio, como se viu, não titubeou”, conclui o Estadão.

Segundo o jornal, o que está em jogo é muito mais do que o destino político de Jair Bolsonaro: é a defesa da sanidade da democracia brasileira.