INDÍGENAS E TRANS

A bancada feminina terá, pela primeira vez na história da Câmara dos Deputados, duas parlamentares trans: Duda Salabert (PDT-MG) e Erika Hilton (Psol-SP). Elas já passaram por cargos dos legislativos locais antes de chegar à Câmara, com votações recorde em seus estados.

A mineira Duda Salabert foi a vereadora mais votada da história de Belo Horizonte, nas eleições municipais de 2020, feito que repetiu em 2022 como a deputada mais votada de Minas Gerais.

Professora, trans e ativista, ela celebrou em suas redes sociais: “duas travestis subindo a rampa do Congresso” – um marco da política brasileira. Depois do trabalho na Câmara de Vereadores de BH, Duda agora tem planos bem mais ambiciosos como deputada federal.

“O Brasil é um país com um preconceito estrutural que aparece também na tentativa de reduzir minhas pautas políticas às questões LGBT. Minha luta LGBT está no meu corpo, mas meu mandato é maior, temos pautas para a economia, para a educação, para o meio ambiente. Queremos contribuir para mudanças estruturais do país, fazendo grande política”, enfatiza a deputada.

“A vitória de uma pessoa trans é uma vitória da democracia. Democracia requer também uma diversidade de corpos e identidades. Quando o grupo avança, a sociedade avança ”Duda SalabertPrimeira deputada federal trans eleita por Minas.
 

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Ao lado de Erika Hilton (Psol-SP), a mineira Duda Salabert (PDT) celebra o fato inédito de duas trans subirem a rampa do Congresso (Reprodução Redes Sociais Duda Salabert)
 

Bancada do Cocar

Como primeira deputada federal indígena eleita por Minas Gerais, Célia Xakriabá (Psol) celebrou intensamente a posse nesta quarta-feira (1º). Os indígenas elegeram a maior bancada para uma mesma legislatura da Câmara na história – são quatro representantes que se declaram de alguma etnia. Dentre eles, o também mineiro Paulo Guedes (PT).

Apesar da festa ao assumirem o cargo, a promessa é de muita luta em plenário. E ela já começa com a tragédia humanitária do povo Yanomami. Depois da posse, Sônia Guajajara se licencia do mandato para assumir o recém-criado Ministério dos Povos Indígenas. Célia Xakriabá seguirá na Câmara e já conta com uma agenda de luta.

A parlamentar mineira afirma que ainda ontem iniciaria o processo de instauração de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a situação do povo Yanomami. “Neste momento, as pessoas que não conseguem se sensibilizar com esse crime humanitário em relação ao povo Yanomami já perderam o princípio de humanidade”, diz.

Célia adianta que também pretende recriar a Frente Parlamentar dos Povos Indígenas, que na legislatura anterior foi comandada pela ex-deputada Joenia Wapichana (RR). Célia Xakriabá diz ainda que irá articular a apresentação de uma medida provisória para que o Ministério da Educação garanta educação escolar indígena e quilombola, além de criar uma secretaria dos povos indígenas no MEC.

 

Sub-representação

Apesar do aumento do número de deputadas, os 17,7% ainda apontam uma sub-representação feminina no Parlamento em relação aos dados globais. A participação das mulheres nos parlamentos é de 26,4% em média, segundo a União Interparlamentar (UIP), organização global que reúne 193 países. Se fosse seguir esse padrão, a bancada feminina na Câmara seria de 135 deputadas.

Ranking da mesma instituição coloca o Brasil no 146° lugar na participação de mulheres entre os 193 países analisados. Na América Latina, Cuba e México têm os melhores desempenhos, com 53,4% e 50% dos assentos parlamentares ocupados por mulheres. Os dados são de agosto de 2022.


* Com informações da Agência Câmara de Notícias e colaboração de Hermano Chiodi