Treze dos 153 deputados federais que assinaram um requerimento pedindo o impeachment de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) são alvos em inquéritos na Corte, todos eles relatados pelo próprio ministro.

Na terça-feira (10), uma parte desse grupo, amparada por senadores aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), entregou ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) o documento pró-cassação do magistrado, que se junta a outros 22 com o mesmo propósito.

Se fosse levado adiante, esse seria o primeiro processo do tipo da história da República brasileira. Nos bastidores, ministros do STF acompanham a movimentação como uma "bobagem". Pacheco, no entanto, já avisou que o deixará na gaveta. 

Todos os deputados que integram o movimento pró-impeachment de Moraes e estão na mira do ministro são do PL, partido de Bolsonaro.

São eles: Alexandre Ramagem (RJ), André Fernandes (CE), Bia Kicis (DF), Carla Zambelli (SP), Carlos Jordy (RJ), Eduardo Bolsonaro (SP), Eliézer Girão (RN), Filipe Barros (PR), Junio Amaral (MG), Luiz Phillipe de Órleans e Bragança (SP), Marco Feliciano (SP), Silvia Waiãpi (AP) e Zé Trovão (SC). 

Cinco deputados são investigados por relação com os atos de 8 de janeiro
Dos 13 deputados investigados por ondem de Alexandre de Moraes, cinco estão em inquéritos que apuram atos de  8 de janeiro de 2023: André Fernandes, Carlos Jordy, Eliézer Girão, Silvia Waiãpi e Zé Trovão.

Passados 15 dias daquele domingo de invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, o ministro mandou investigar se Fernandes e Waiãpi estimularam seus apoiadores a vandalizar os prédios públicos. A suposta incitação aos ataques está sendo apurada na ação de tentativa de golpe de Estado, relatado pelo ministro do STF.

Isso porque em 6 de janeiro daquele ano, André Fernandes fez uma divulgação do ato em seu perfil nas redes sociais. "Neste final de semana acontecerá, na Praça dos Três Poderes, o primeiro ato contra o governo Lula. Estaremos lá", escreveu o deputado, que depois ainda compartilhou uma foto da porta do armário de togas de Moraes, que fica atrás do plenário do STF e foi arrancada pelos vândalos. Na legenda, a frase: "Quem rir vai preso".

Já Silvia Waiãpi publicou vídeos dos ataques também em seu perfil nas redes sociais. Em uma delas escreveu que o "povo", contrariado com a eleição do presidente Luyiz Inácio Lula da Silva (PT), estaria tomando o poder. "Povo toma a Esplanada dos Ministérios nesse domingo! Tomada de poder pelo povo brasileiro insatisfeito com o governo vermelho", declarou.

Girão teria estimulado invasões dos Três Poderes
Em julho, Moraes autorizou a Polícia Federal (PF) a apurar se Eliézer Girão "antecipou" a suposta tentativa de tomar o poder pela força um mês antes dos ataques aos Três Poderes.  A inclusão do parlamentar no inquérito foi motivada por uma série de publicações dele entre novembro de 2022 e janeiro de 2023.

Nelas, a PF aponta que Girão incitou a hostilidade entre as Forças Armadas e as instituições republicanas. "Casa do Povo pertence ao povo. O Brasil pertence aos brasileiros. A Justiça pertence a Deus. #Vamos Vencer", escreveu em uma das mensagens.

Inquérito das fake news investiga outros deputados
Os deputados Bia Kicis, Eduardo Bolsonaro, Filipe Barros, Marco Feliciano e Junio Amaral são alvos do inquérito das fake news, que apuram casos de propagação de notícias falsas sobre as eleições presidenciais de 2022 pelas redes sociais. 

Ainda em 2020, Luiz Phellipe de Órleans e Bragança já havia começado a ser investigado pelo mesmo inquérito em razão de postagens com supostas mentiras e ataques ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Zé Trovão é investigado por manifestações no 7 de Setembro
Em outubro de 2021, o deputado Zé Trovão foi preso após o ministro Alexandre de Moraes apontá-lo como um dos organizadores de um movimento de caminhoneiros que resultaria em manifestações violentas no feriado do Dia da Independência.

Já o deputado Jordy esteve na mira da operação Lesa Pátria, da PF, que investiga a atuação de financiadores, executores e incentivadores dos atos após as eleições de 2022. Ele foi o principal alvo, após a PF suspeitar de um envolvimento dele com atos ocorridos no Rio após a derrota de Bolsonaro.

Zambelli e a espionagem ilegal com contratação de hacker para invadir CNJ
Indiciada pela PF, a deputada Carla Zambelli está sendo investigada no inquérito da tentativa de golpe e pela invasão hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O objetivo, segundo investigadores, seria descredibilizar a Justiça brasileira.

A parlamentar ainda teria contratado o hacker Walter Delgatti Neto para inserir alvarás de soltura e um mandado de prisão falso contra Moraes no sistema do CNJ assinado pelo próprio ministro. Em julho deste ano o ministro autorizou a apurar se ela intermediou a viagem de uma influenciadora digital à Espanha, onde foi feita uma conversa com o militar venezuelano Hugo Carvajal, ex-agente do ex-ditador venezuelano Hugo Chávez, para a produção de um dossiê contra o PT e o presidente Lula.

Candidato do PL à prefeitura do Rio, Alexandre Ramagem, por sua vez, é o principal alvo da investigação do STF que apura se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), órgão que ele chefiou durante o governo Bolsonaro, foi utilizada para espionar opositores do ex-presidente, incluindo ministros do STF e jornalistas. O caso ficou conhecido como "Abin paralela".