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No início da semana, o filho do presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil busca uma "aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China". Presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP) cobrou providências do Congresso e do STF


As declarações feitas pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) no início desta semana de que o Brasil apoia “uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China” foram alvo de críticas por outros parlamentares, que temem pelo futuro da diplomacia brasileira com o início de uma guerra ideológica com um dos principais parceiros comerciais do país.


O receio dos congressistas surgiu após o comunicado emitido pela Embaixada da China no Brasil, na terça-feira (24/11), em que a representação diplomática alerta que “declarações infames” como a de Eduardo “além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil”.


“Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, afirmou a embaixada chinesa.

O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), destacou que o posicionamento da representação diplomática da China é motivo de preocupação. Para ele, está na hora de o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) “tomarem providências urgentes” para evitar que Eduardo coloque em risco a relação bilateral entre os dois países.


“Até quando vamos dar asas a esse irresponsável? O pior é que o pai nada faz. Estão colocando em risco o país com essa ideologia insana. 5G e vacina chinesa: os Bolsonaros vão perder ambas batalhas, pois perderam o instrutor de loucos chamado Trump, e a cada dia os Bolsonaros perdem credibilidade e apoio, tanto no Brasil, como no mundo”, ponderou o deputado.


“Não é crível que um deputado federal irresponsável e sem noção possa colocar em risco a já combalida economia do Brasil e ninguém faz nada para cessar as calúnias postadas contra nossa maior parceira comercial, a China”, acrescentou o parlamentar.


Em uma ofensiva contra Eduardo, a oposição se mobiliza para retirar o deputado do posto de presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), líder da legenda na Casa, deve apresentar um pedido para que o filho do presidente Jair Bolsonaro seja destituído da presidência do colegiado.
 
Líder da oposição na Câmara, André Figueiredo (PDT-CE) enfatizou que “é inadmissível que o filho do presidente da República, deputado federal e presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados seja responsável, sistematicamente, por constrangimentos diplomáticos com nosso maior parceiro comercial”.


Para Figueiredo, as falas de Eduardo comprometem o comércio exterior do Brasil, pois significam “uma postura suicida, antipatriótica e muito pouco inteligente”. Ele ainda disse que as agressões do deputado denotam um “esforço patético para agradar o presidente derrotado Donald Trump”.


“Essa subserviência a um grupo político de outro país, já apeado do poder pelo próprio povo americano, é totalmente irracional. Enquanto a família Bolsonaro briga com a China, produtores americanos de carne e soja esfregam as mãos com satisfação.”


Líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR) pontuou que Eduardo foi “irresponsável e covarde”. “Esse é o deputado Eduardo Bolsonaro, capacho de Trump. Ele publicou mensagem na qual agrediu indignamente a China. Foi rechaçado à altura e o País ameaçado de sanções de quem responde por 33% das exportações brasileiras.”


Na mesma linha, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) pontuou que o fato de o filho do presidente da República exercer uma “antidiplomacia” pode trazer prejuízos ao país, ainda mais porque os Estados Unidos serão governados por Joe Biden a partir de 2021.


“Fustigar o maior parceiro comercial do Brasil custa caro. Até porque o outro lado da moeda, os EUA, elegeu um presidente que não tem alinhamento com Bolsonaro.”

 
Ataques ao Partido Comunista


Na noite de segunda-feira (23), Eduardo usou o Twitter para fazer as afirmações. Dentre as publicações, ele escreveu em uma delas que “o governo Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.


“O programa ao qual o Brasil aderiu pretende proteger seus participantes de invasões e violações às informações particulares de cidadãos e empresas. Isso ocorre com repúdio a entidades classificadas como agressivas e inimigas da liberdade, a exemplo do Partido Comunista da China”, continuou Eduardo, que excluiu as postagens no dia seguinte.
 
No início deste ano, o deputado já havia entrado em conflito com a China. Em março, ele culpou a China pela pandemia mundial do novo coronavírus. A afirmação que deu início à polêmica foi feita pelo youtuber Rodrigo da Silva, que responsabilizou o “Partido Chinês Comunista” pela crise sanitária. Eduardo retuitou o post e fez uma analogia com o vazamento da usina nuclear soviética de Chernobyl, na década de 1980.


"Quem assistiu à Chernobyl vai entender o que ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução", afirmou.