Deputado André Janones e senador Carlos Viana não se entendem sobre o tipo de comissão que deve ser criada para apurar a tragédia em Brumadinho
A instalação de uma ou mais comissões parlamentares de inquérito (CPI) para investigar a tragédia provocada pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, já provoca bate-boca e troca de acusações na bancada mineira.
O barraco começou com o deputado federal André Janones (Avante) e o senador Carlos Viana (PSD), mas logo envolveu outros deputados, como Marcelo Aro (PHS), e já se espalhou pelo Facebook e WhatsApp.
O conflito se desdobrou a partir da disputa entre a bancada federal mineira e Viana em torno do tipo de comissão parlamentar de inquérito que será instalada para investigar as responsabilidades.
Enquanto os deputados federais defendem uma comissão parlamentar mista (CPMI) – com a participação da Câmara e do Senado –, Viana postula que cada casa legislativa instale a sua CPI.
Para o próximo dia 11, portanto, após o carnaval, o Senado vai anunciar a instalação de sua CPI, da qual, Carlos Viana postula e deverá ser confirmado relator e o presidente o senador Otto Alencar (PSD-BA), autor do requerimento.
“O orçamento inicial de cada CPI é de R$ 100 mil. Mas por que Viana bate o pé e não quer a CPMI? Porque o terceiro maior doador para a campanha dele foi Luís Fernando Franceschini da Rosa, advogado que é dono de mineradora e prestava serviços para a Vale no Córrego do Feijão, em Brumadinho. Ele doou R$ 100 mil para o senador. Como ele vai investigar?”, criticou Janones.
Segundo o deputado, Franceschini é sócio de três empresas que operam na região da tragédia: Neometal Brumadinho, Greenmetal Brumadinho Processamentos Sustentáveis e Green Metals Brumadinho Soluções Ambientais.
Carlos Viana devolve o insulto: “Franceschini é advogado, professor, foi encaminhado à minha campanha por meio de pessoas ligadas ao meu antigo partido. Não o conheço. Nunca estive com ele. Veio por pessoas do PHS. O Janones está insistindo nesta história, mas ele é quem é financiado por Luiz Fernando Faria (deputado federal pelo PP), que na campanha em 2014 recebeu R$ 1,3 milhão só de mineração. O padrinho dele é que é o homem da mineração”, acusou o senador.
A briga começou na terça-feira passada. A acusação de Janones foi lançada diante de Viana, quando uma comissão de 12 deputados mineiros foi procurá-lo, após conversar com o presidente do Senado e dele ouvir que a possível unificação das CPIs dependeria de Carlos Viana.
Depois de defender a CPMI a Viana, a comissão de deputados mineiros ouviu dele que iria levar o caso aos outros seis senadores que já tinham sido indicados para integrar a CPI do Senado.
Viana ressalvou, contudo, que pessoalmente defendia uma CPI, por considerá-la mais rápida. Neste momento, Janones o questionou: “Mas se o senhor não é a favor da CPMI não precisa nem conversar com os outros senadores. Da minha parte eu dispenso. Estou cheio de mimimi, quero resultado concreto. E se prepare para o desgaste”. Viana interpelou-o: “Qual desgaste?”. Janones retrucou: “O senhor foi financiado por uma mineradora, o Brasil vai saber”. Viana instou-o a provar e o bate-boca se intensificou quando o deputado federal Fabinho Liderança (MDB) colocou panos quentes.
Enquanto Janones postava a briga, toda filmada, por um lado, Viana não tardou a devolver o veneno, lançando ao ar o seu próprio vídeo. Nele, Viana chamou Janones de “desequilibrado”, “descontrolado”, “que deveria estar num manicômio, não na Câmara”, além de “hipócrita que engana seguidores nas redes”. Na mesma gravação, Viana anunciou que pretende processar Janones para que ele prove as suas acusações. “Vamos para a Justiça saber quem fala a verdade”, disparou.
Em meio à disputa entre o mar e o rochedo, sobrou para a ostra. O deputado federal Marcelo Aro resolveu se manifestar, depois de Viana afirmar desconhecer Luís Fernando Franceschini da Rosa e que teria recebido o recurso do PHS, partido de Viana durante a campanha, então presidido por Aro.
Pelo grupo de WhatsApp da bancada federal mineira, Aro lançou a nota, que obviamente, agora se tornou pública. “O senador está faltando com a verdade ao afirmar isso. Uma mentira que me incomodou tanto que decidi escrever este texto”, disse, depois de uma longa explanação em que relatou o seu rompimento político com Viana, ex-aliado a quem ajudou durante a campanha.