INVESTIGAÇÃO

A convocação do governador Romeu Zema (Novo) para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) será votada nesta quinta-feira (4/12). O anúncio foi feito pelo presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), nas redes sociais nesta terça-feira (2/12).

A medida obriga a presença do chefe do Executivo mineiro. Além de Zema, também estão na pauta para serem convocados: o presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro; a presidente da Crefisa, Leila Pereira; e o ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias.

Todos devem prestar esclarecimentos sobre operações financeiras e concessões de crédito relacionadas ao esquema que esvaziou aposentadorias de milhões de brasileiros e abriu um rombo superior a R$ 6 bilhões no INSS.

A inclusão de Zema na lista de convocados vem sendo articulada desde a semana passada. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) antecipou ao Estado de Minas que apresentaria um requerimento para ouvir o governador e aprofundar investigações sobre a Zema Financeira, empresa do Grupo Zema.

Correia explicou ao EM que o consignado para beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e do Auxílio Brasil foi aberto ainda no governo Jair Bolsonaro e que apenas 12 instituições receberam autorização para operar, entre elas a Zema Financeira. O que motivou um pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal da empresa, da qual Zema é herdeiro e ex-administrador. 

À reportagem, o deputado argumentou que a investigação é necessária para identificar “eventuais conflitos de interesse, favorecimentos, tráfico de influência ou vantagens econômicas envolvendo decisões do governo federal e atividades da financeira”.

O nome de Zema também dominou um debate acalorado no Congresso no mesmo dia. Durante a discussão, Correia acusou o governador de “roubar demais”, provocando reação do deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS), que saiu em defesa do colega de partido.

“Não dá para o deputado chegar aqui e acusar o melhor governador do Brasil. Um vagabundo falar do melhor governador do Brasil”, retrucou van Hattem, pedindo que o petista “lavasse a boca” antes de citar Zema.

Próximos passos

A CPMI iniciou seus trabalhos em agosto e dividiu a apuração em duas frentes. A primeira, já praticamente concluída, trata dos descontos associativos irregulares. A segunda investigará empréstimos consignados fraudulentos.

“A primeira fase está muito bem concluída. O núcleo que roubou a Previdência e distribuiu o dinheiro via laranjas e empresas fantasmas está praticamente todo preso. Estamos agora finalizando os operadores de laranjas. Queremos terminar agora no final do ano”, afirmou o senador Carlos Viana em entrevista ao EM.

Viana ainda adiantou que a comissão já tem uma delação premiada fechada e negocia outra. “Há uma segunda delação em andamento. Ela deve trazer informações relevantes para avançarmos ainda mais na responsabilização”, adiantou.

A etapa seguinte, prevista para começar em fevereiro de 2026, vai mirar os bancos responsáveis pelos pagamentos. A CPMI tem prazo para encerrar em março de 2026, mas pode ser prorrogada. “Nessa última fase agora, nós também temos a questão política”, completou.

Segundo as investigações, o núcleo do esquema operava a partir de Brasília, mas se espalhou pelo país. “À medida que os operadores, especialmente Antônio Carlos Camilo, foi ganhando espaço, foi se sentindo protegido, inclusive, pelos políticos, ele foi trazendo novos casos, novas associações. Isso ramificou para Sergipe, para o Ceará, para o Maranhão, Pará, Amazonas, e por aí vai. O núcleo operativo era Brasília. Mas existem braços do país todo”, detalhou.

A estrutura envolvia federações e sindicatos ligados a organizações nacionais, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Em Minas, documentos e ações judiciais mostram participação da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado (Fetaemg) e de seus cerca de 540 sindicatos.

Os descontos, de cerca de 2% do benefício mensal, eram feitos sem conhecimento dos aposentados, como mostrou reportagem exclusiva do Estado de Minas, publicada em maio deste ano.