DEM substitui MDB no comando do legislativo e na sustentação do governo; troca de cocar não altera práticas mas tem grande significado ideológico
A vitória de Davi Alcolumbre no Senado neste sábado, um dia após a eleição de Rodrigo Maia na Câmara Federal, pôs fim à longa hegemonia do MDB no Congresso. Desde 1985 os emedebistas dominavam o poder legislativo, ocupando a presidência de uma das duas casas ou de ambas. No Senado em especial a força emedebista foi marcante: em 33 anos a sigla só não comandou a casa em três ocasiões.
O maior símbolo da decadência do MDB é a desistência na última hora de Renan Calheiros, maior cacique em mandato do partido, quatro vezes presidente do Senado. O veterano emedebista entrou na disputa como favorito e acabou jogando a toalha para não sofrer a humilhação de ser derrotado por um colega jovem (41 anos) e quase desconhecido do segundo menor estado brasileiro em eleitores (Amapá).
Com a queda do MDB ascende ao poder no Congresso o DEM, partido de ambos os novos presidentes. A legenda democrata ganha um protagonismo inédito na política nacional com a eleição de Maia e Davi. Sucedâneo do PFL, que substituiu nos anos 80 a Arena do regime militar, o DEM é tão velho de estrada como o MDB. E convive com o mesmo caciquismo. No frigir os ovos, sai um grupo de caciques para entrar outro. A mudança é de cocar. Mas há distinções.
Não há diferença entre MDB e DEM nas práticas políticas, de resto similares. Mas há na ideologia. Os antecessores do atual MDB ofereceram resistência ao regime militar enquanto os precursores do DEM apoiaram. Do ponto de vista histórico, faz todo o sentido a troca de grupo no comando do Congresso, de emedebistas para democratas. Sem dúvida, o DEM tem tudo a ver com o novo governo ultraliberal e militarizado do país.
O DEM é o novo MDB. Ou melhor, a legenda democrata deve ser para o governo Bolsonaro o que o partido emedebista foi para as gestões do PT: um aliado pragmático e complicado, mas indispensável.