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string(7465) "Apesar do esforço do presidente Jair Bolsonaro para se descolar do escândalo envolvendo o senador Chico Rodrigues (DEM-RR) — até recentemente, vice-líder do governo no Senado —, a imagem anticorrupção tão defendida desde a pré-campanha e que o elegeu a chefe do Executivo está cada vez mais arranhada.
Rodrigues foi alvo de uma operação da Polícia Federal na última quarta-feira, em que agentes o flagraram com dinheiro escondido na cueca. No dia seguinte, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento do senador do mandato por 90 dias — a decisão do magistrado será avaliada pelo plenário da Corte, na próxima quarta-feira.
Com a repercussão, Bolsonaro destituiu Chico Rodrigues da vice-liderança e enfatizou que o parlamentar não faz parte do governo. Mas, além de colegas de Câmara por mais de duas décadas, a proximidade entre os dois era visível, também, pelo fato de o senador empregar como assessor em seu gabinete, desde abril de 2019, Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, primo de filhos do presidente. Ele pediu exoneração após o escândalo.
Horas antes de ter o seu vice-líder flagrado pela PF, Bolsonaro chegou a dizer que daria uma “voadora” em quem praticasse atos ilegais no governo. Nas últimas semanas, em falas controversas, disse ter acabado com a Operação Lava-Jato, à qual mostrou apoio irrestrito no começo da gestão.
Com a repercussão da declaração, Bolsonaro afirmou que a imprensa não entende figura de linguagem. E ressaltou que a Lava-Jato não funciona para o governo porque nele não há casos de corrupção, mas continuará funcionando para o país.
O caso de Rodrigues é mais um dos que aparecem no entorno de Bolsonaro. Em agosto, segundo a revista Crusoé, a quebra do sigilo bancário de Fabrício Queiroz — assessor de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) — mostrou que ele teria repassado R$ 72 mil, em cheques, à primeira-dama Michelle Bolsonaro, entre 2011 e 2016. Além disso, a Folha de S. Paulo informou que Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, repassou R$ 17 mil para Michelle em 2011, totalizando, ao menos, R$ 89 mil depositados.
Já Flávio Bolsonaro é investigado em suposto esquema de rachadinha na Alerj — quando o parlamentar fica com parte do salário dos funcionários —, em parceria com Queiroz. O ex-assessor está em prisão domiciliar.
Já Bolsonaro é alvo de um inquérito no STF que investiga eventual tentativa de interferência dele na Polícia Federal. A Corte ainda vai decidir se o depoimento dele será feito presencialmente ou por escrito.
Na opinião do senador Major Olímpio (PSL/SP), o caso do dinheiro na cueca do então vice-líder do governo na Casa lacera a imagem do país e do Executivo ao criar condições para desvios de verbas destinadas ao combate à covid-19. Ao Correio, o parlamentar relata ter recebido, de um auxiliar do governo, proposta de R$ 30 milhões em emendas contra a doença para envio seguindo critério próprio. “Eu perguntei: ‘É para todos os senadores? E os critérios técnicos que o Ministério da Saúde usa?’ Resposta: ‘Não é para todos os senadores e não serão os critérios do ministério e, sim, os critérios políticos do senador’. E mais: ‘É só preencher a planilha e, em 30 dias, as emendas estarão na conta’. Eu denunciei”, afirma. “Usar dinheiro da covid para fazer política nas eleições municipais e, ainda mais, sem licitação. Ainda vem muito escândalo por aí.” De acordo com o parlamentar, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Tribunal de Contas União (TCU) investigam a denúncia.
Para Olímpio, Bolsonaro não cumpriu o que prometeu em relação ao combate à corrupção. “No meu entendimento, houve crime de lesa-pátria do governo em oferecer, para destinação nos currais eleitorais de senadores, R$ 30 milhões de verbas carimbadas, que deveriam ser destinadas a salvar vidas”, enfatiza. “O governo foi facilitador e provocou isso.” Consultado sobre a declaração do parlamentar, o Planalto disse que não se pronunciará.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), defende que o nome do chefe do Executivo não pode ser atrelado ao caso Rodrigues. “A investigação é da CGU (Controladoria-Geral da União). Não é uma coisa que a gente fique feliz, mas não tem nada a ver com Bolsonaro”, comenta.
Constrangimento
O caso Rodrigues é um constrangimento para o governo, opina o cientista político Rodrigo Prando. “Bolsonaro verbalizou, dias antes, que havia acabado com a Lava-Jato porque no governo dele não existia corrupção. Rodrigues não tem a ver com a condição de ministro, mas, sem dúvida, havia uma proximidade de Bolsonaro com ele”, diz. “Uma situação dessa impacta o governo. Tanto é que Bolsonaro, imediatamente, articulou para se distanciar do senador.”
Prando lembra, porém, que Bolsonaro vive seu melhor momento de aprovação, por conta do auxílio emergencial e, em contrapartida, a oposição não consegue explorar suas fragilidades.
Na visão do cientista político André Rosa, o flagrante atinge o discurso anticorrupção, mas não o suficiente para prejudicar a popularidade de Bolsonaro, que agiu rapidamente para retirar o senador do posto.
A advogada Vera Chemim analisa que o episódio envolvendo o ex-vice-líder arranha a imagem de Bolsonaro, principalmente para as classes média e alta. “Já a classe de renda baixa tende a ignorar os fatos ou não lhes dar tanta importância, por serem beneficiados com o auxílio emergencial. Bolsonaro segue firme e forte perante a grande massa da população brasileira”, acredita.
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Rodrigues foi alvo de uma operação da Polícia Federal na última quarta-feira, em que agentes o flagraram com dinheiro escondido na cueca. No dia seguinte, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento do senador do mandato por 90 dias — a decisão do magistrado será avaliada pelo plenário da Corte, na próxima quarta-feira.
Com a repercussão, Bolsonaro destituiu Chico Rodrigues da vice-liderança e enfatizou que o parlamentar não faz parte do governo. Mas, além de colegas de Câmara por mais de duas décadas, a proximidade entre os dois era visível, também, pelo fato de o senador empregar como assessor em seu gabinete, desde abril de 2019, Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, primo de filhos do presidente. Ele pediu exoneração após o escândalo.
Horas antes de ter o seu vice-líder flagrado pela PF, Bolsonaro chegou a dizer que daria uma “voadora” em quem praticasse atos ilegais no governo. Nas últimas semanas, em falas controversas, disse ter acabado com a Operação Lava-Jato, à qual mostrou apoio irrestrito no começo da gestão.
Com a repercussão da declaração, Bolsonaro afirmou que a imprensa não entende figura de linguagem. E ressaltou que a Lava-Jato não funciona para o governo porque nele não há casos de corrupção, mas continuará funcionando para o país.
O caso de Rodrigues é mais um dos que aparecem no entorno de Bolsonaro. Em agosto, segundo a revista Crusoé, a quebra do sigilo bancário de Fabrício Queiroz — assessor de Flávio Bolsonaro quando ele era deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) — mostrou que ele teria repassado R$ 72 mil, em cheques, à primeira-dama Michelle Bolsonaro, entre 2011 e 2016. Além disso, a Folha de S. Paulo informou que Márcia Aguiar, mulher de Queiroz, repassou R$ 17 mil para Michelle em 2011, totalizando, ao menos, R$ 89 mil depositados.
Já Flávio Bolsonaro é investigado em suposto esquema de rachadinha na Alerj — quando o parlamentar fica com parte do salário dos funcionários —, em parceria com Queiroz. O ex-assessor está em prisão domiciliar.
Já Bolsonaro é alvo de um inquérito no STF que investiga eventual tentativa de interferência dele na Polícia Federal. A Corte ainda vai decidir se o depoimento dele será feito presencialmente ou por escrito.
Na opinião do senador Major Olímpio (PSL/SP), o caso do dinheiro na cueca do então vice-líder do governo na Casa lacera a imagem do país e do Executivo ao criar condições para desvios de verbas destinadas ao combate à covid-19. Ao Correio, o parlamentar relata ter recebido, de um auxiliar do governo, proposta de R$ 30 milhões em emendas contra a doença para envio seguindo critério próprio. “Eu perguntei: ‘É para todos os senadores? E os critérios técnicos que o Ministério da Saúde usa?’ Resposta: ‘Não é para todos os senadores e não serão os critérios do ministério e, sim, os critérios políticos do senador’. E mais: ‘É só preencher a planilha e, em 30 dias, as emendas estarão na conta’. Eu denunciei”, afirma. “Usar dinheiro da covid para fazer política nas eleições municipais e, ainda mais, sem licitação. Ainda vem muito escândalo por aí.” De acordo com o parlamentar, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Tribunal de Contas União (TCU) investigam a denúncia.
Para Olímpio, Bolsonaro não cumpriu o que prometeu em relação ao combate à corrupção. “No meu entendimento, houve crime de lesa-pátria do governo em oferecer, para destinação nos currais eleitorais de senadores, R$ 30 milhões de verbas carimbadas, que deveriam ser destinadas a salvar vidas”, enfatiza. “O governo foi facilitador e provocou isso.” Consultado sobre a declaração do parlamentar, o Planalto disse que não se pronunciará.
O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), defende que o nome do chefe do Executivo não pode ser atrelado ao caso Rodrigues. “A investigação é da CGU (Controladoria-Geral da União). Não é uma coisa que a gente fique feliz, mas não tem nada a ver com Bolsonaro”, comenta.
Constrangimento
O caso Rodrigues é um constrangimento para o governo, opina o cientista político Rodrigo Prando. “Bolsonaro verbalizou, dias antes, que havia acabado com a Lava-Jato porque no governo dele não existia corrupção. Rodrigues não tem a ver com a condição de ministro, mas, sem dúvida, havia uma proximidade de Bolsonaro com ele”, diz. “Uma situação dessa impacta o governo. Tanto é que Bolsonaro, imediatamente, articulou para se distanciar do senador.”
Prando lembra, porém, que Bolsonaro vive seu melhor momento de aprovação, por conta do auxílio emergencial e, em contrapartida, a oposição não consegue explorar suas fragilidades.
Na visão do cientista político André Rosa, o flagrante atinge o discurso anticorrupção, mas não o suficiente para prejudicar a popularidade de Bolsonaro, que agiu rapidamente para retirar o senador do posto.
A advogada Vera Chemim analisa que o episódio envolvendo o ex-vice-líder arranha a imagem de Bolsonaro, principalmente para as classes média e alta. “Já a classe de renda baixa tende a ignorar os fatos ou não lhes dar tanta importância, por serem beneficiados com o auxílio emergencial. Bolsonaro segue firme e forte perante a grande massa da população brasileira”, acredita.