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Ela é um dos nomes e rostos mais conhecidos da política mineira atualmente. A deputada federal Duda Salabert (PDT) é mulher, trans, professora, mas, antes de tudo, é uma política com ideias progressistas e não foge de disputas, nem aquelas que parecem mais ambiciosas. Duda teve a terceira maior votação para deputada federal em Minas Gerais, sendo a mulher mais votada. Ela assumiu o mandato na última quarta-feira (1º) e conversou com o Hoje em Dia sobre suas expectativas.
Duda quer participar e discutir pautas que passam do meio ambiente à disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2026. Ela diz que as ideias progressistas estão no DNA da cidade e que é preciso reorganizar o campo democrático para garantir essa tradição mineira na capital e no Estado.
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No caminho da parlamentar, o maior desafio é o preconceito. Segundo ela, um obstáculo antigo, mas que tem formas diferentes conforme a deputada avança em sua empreitada no mundo político.
Após se eleger como a mulher mais votada da Câmara Municipal de Belo Horizonte e ser também a mulher mineira mais votada e primeira trans a se eleger deputada federal por Minas, ela agora tem que fugir dos rótulos e mostrar que é mais do que uma defensora dos direitos dos grupos LGBT e da igualdade de gênero. Duda quer discutir “pautas estruturantes e fazer a grande política do país”, disse.
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Suas propostas vão desde a revogação da Lei Kandir, que isentou a aplicação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), chegando à criação de programas para zerar o analfabetismo no país e ao debate em torno da situação da população carcerária no Brasil. Confira:
Deputada, a senhora assume o mandato na Câmara dos Deputados como “um rosto”, uma marca com muita representatividade e vinculação a bandeiras como defesa das mulheres, do público LGBT e igualdade de gênero. Como é trabalhar com o peso dessa missão?
Quando a gente entra nesse espaço, da Câmara dos Deputados, nesse ambiente da política, há um contraste muito grande dos nossos ideais, nossas propostas e as estruturas fossilizadas que encontramos aqui. Nosso objetivo, nossa proposta é buscar o equilíbrio entre os nossos sonhos e a realidade, essa máquina de moer sonhos. Mas eu tenho uma trajetória que me permite acreditar que é possível fazer.
A senhora está no início do mandato e tem atuado em diferentes pautas. Quais são suas prioridades neste momento?
Meu mandato tem três eixos prioritários: educação, meio ambiente e direitos humanos. No caso do meio ambiente, por exemplo, é preciso pensar o Brasil no contexto das mudanças climáticas. Pensar o papel das mineradoras e do meio ambiente. Isso é mais importante ainda para Minas Gerais, que é sensível a este tema. Eu defendo discutir esse tema com a proposta de elaborar um Fundo de Diversificação Econômica que atenda aos municípios onde há mineração, auxiliando estas cidades a diversificar suas estruturas econômicas para não ficarem na dependência apenas das mineradoras. É preciso, por exemplo, revogar a Lei Kandir e criar condições para que Minas Gerais volte a crescer. São debates importantes que precisam ser feitos por nós, parlamentares mineiros. No campo dos direitos humanos, uma questão para a qual já tenho encaminhamentos é o debate sobre a população carcerária no país. Hoje as penitenciárias são universidades do crime e o debate sobre este tema precisa estar na pauta. Para a educação, uma das questões que consideramos mais urgentes é buscar a erradicação do analfabetismo entre a população brasileira. Problema que foi agravado com a pandemia e o aumento da evasão escolar.
Neste caso do combate ao analfabetismo, como a senhora pretende agir?
Primeiro, temos que atualizar nossos dados, fazendo um mapeamento desse analfabetismo no Brasil e buscando experiências internacionais que possam auxiliar na busca de caminhos. Hoje, boa parte da população adulta brasileira tem algum grau de analfabetismo. É preciso reconhecer que este é um problema grave e agir para solucionar. Esse tipo de situação é um exemplo de pautas estruturantes que serão trabalhadas durante meu mandato.
(Reprodução Redes Sociais Duda Salabert)
A senhora surgiu como representante LGBT, mas suas prioridades estão muito além dessa pauta. Esse esforço faz parte de uma estratégia para fugir de rótulos e não ser uma deputada de uma tecla só?
Moramos em um país onde o preconceito é gritante. Esse preconceito aparece também no esvaziamento da minha luta. A causa LGBT é fundamental. Eu carrego essa defesa no meu corpo. Mas eu e meu trabalho vamos muito além. Antes de ser política, sou professora, sou uma cidadã e tenho um mandato que quer contribuir para o país e ter voz nos debates da “grande política”. Queremos o diálogo com todos.
As eleições para o Senado e para a Câmara mostraram um Congresso ainda muito conservador. Como é defender essas pautas e vencer esses rótulos nesses espaços?
Conservadorismo não é um problema. O problema são grupos fascistas que usam o verniz do conservadorismo para atacar as instituições democráticas. É preciso ter clareza que o Congresso Nacional e o debate público têm que ser mais políticos e menos ideológicos. Nos últimos anos tivemos debates muito ideológicos. O problema nesse tipo de debate é o autoritarismo. A Câmara Municipal de Belo Horizonte já era conservadora quando eu fui eleita. Mesmo assim, conseguimos aprovar pautas importantes. Conseguimos construir pontes importantes com pessoas diferentes. É isso que a sociedade espera de nós. A derrota do bolsonarismo é um recado da sociedade brasileira que não quer mais muros se sobrepondo a pontes. É isso que o bolsonarismo fazia: construía muros dividindo a sociedade. Os brasileiros já mostraram que não querem mais isso.
Recentemente a senhora publicou dizendo que venceu “mesmo com ataques da esquerda, dos ciristas e ameaças de morte da extrema direita”. Esse preconceito dificultou seus planos para uma disputa ao governo estadual e atrapalha seus planos de futuro?
Não totalmente, ou não apenas isso. Além do preconceito existem disputas e questões partidárias. Mas o preconceito é estrutural e atravessa vários campos. O preconceito não é coisa só da direita.
Pensando nessas questões políticas da esquerda. Quais caminhos a senhora acha necessário para que esse campo retome posições e relevância política em Minas Gerais?
É preciso buscar unidade no campo progressista. Existem brigas internas que colocam pessoas e partidos acima dos interesses do campo. Mas também existe disposição para esta unidade. Já há conversas sendo feitas para disputar a Prefeitura de Belo Horizonte em 2024. Eu já fui convidada para me candidatar e participar desta disputa, mas disse que é cedo. Nem comecei como deputada. Mas mostra que existe projeto, pelo menos na capital. Belo Horizonte tem DNA progressista. É a cidade que elegeu Célio de Castro, Patrus Ananias e outros. A pessoa mais votada na cidade é uma travesti. Belo Horizonte é uma cidade de vanguarda e precisamos retomar essa característica.
Para a senhora, a palavra em relação ao futuro é medo ou esperança?
Esperança sempre. Eu uso sempre os versos do Caetano Veloso: É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte. Eu tenho esperança que essa crise que estamos enfrentando termine aproximando as pessoas e as ideias para um mundo melhor. A vitória de uma pessoa trans é a vitória da democracia. Democracia não é feita só com diversidades de pessoas e partidos, mas também pela diversidade de corpos e identidades. Quando o grupo LGBT avança, a sociedade e a democracia avançam.
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Duda quer participar e discutir pautas que passam do meio ambiente à disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) em 2026. Ela diz que as ideias progressistas estão no DNA da cidade e que é preciso reorganizar o campo democrático para garantir essa tradição mineira na capital e no Estado.
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No caminho da parlamentar, o maior desafio é o preconceito. Segundo ela, um obstáculo antigo, mas que tem formas diferentes conforme a deputada avança em sua empreitada no mundo político.
Após se eleger como a mulher mais votada da Câmara Municipal de Belo Horizonte e ser também a mulher mineira mais votada e primeira trans a se eleger deputada federal por Minas, ela agora tem que fugir dos rótulos e mostrar que é mais do que uma defensora dos direitos dos grupos LGBT e da igualdade de gênero. Duda quer discutir “pautas estruturantes e fazer a grande política do país”, disse.
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Suas propostas vão desde a revogação da Lei Kandir, que isentou a aplicação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), chegando à criação de programas para zerar o analfabetismo no país e ao debate em torno da situação da população carcerária no Brasil. Confira:
Deputada, a senhora assume o mandato na Câmara dos Deputados como “um rosto”, uma marca com muita representatividade e vinculação a bandeiras como defesa das mulheres, do público LGBT e igualdade de gênero. Como é trabalhar com o peso dessa missão?
Quando a gente entra nesse espaço, da Câmara dos Deputados, nesse ambiente da política, há um contraste muito grande dos nossos ideais, nossas propostas e as estruturas fossilizadas que encontramos aqui. Nosso objetivo, nossa proposta é buscar o equilíbrio entre os nossos sonhos e a realidade, essa máquina de moer sonhos. Mas eu tenho uma trajetória que me permite acreditar que é possível fazer.
A senhora está no início do mandato e tem atuado em diferentes pautas. Quais são suas prioridades neste momento?
Meu mandato tem três eixos prioritários: educação, meio ambiente e direitos humanos. No caso do meio ambiente, por exemplo, é preciso pensar o Brasil no contexto das mudanças climáticas. Pensar o papel das mineradoras e do meio ambiente. Isso é mais importante ainda para Minas Gerais, que é sensível a este tema. Eu defendo discutir esse tema com a proposta de elaborar um Fundo de Diversificação Econômica que atenda aos municípios onde há mineração, auxiliando estas cidades a diversificar suas estruturas econômicas para não ficarem na dependência apenas das mineradoras. É preciso, por exemplo, revogar a Lei Kandir e criar condições para que Minas Gerais volte a crescer. São debates importantes que precisam ser feitos por nós, parlamentares mineiros. No campo dos direitos humanos, uma questão para a qual já tenho encaminhamentos é o debate sobre a população carcerária no país. Hoje as penitenciárias são universidades do crime e o debate sobre este tema precisa estar na pauta. Para a educação, uma das questões que consideramos mais urgentes é buscar a erradicação do analfabetismo entre a população brasileira. Problema que foi agravado com a pandemia e o aumento da evasão escolar.
Neste caso do combate ao analfabetismo, como a senhora pretende agir?
Primeiro, temos que atualizar nossos dados, fazendo um mapeamento desse analfabetismo no Brasil e buscando experiências internacionais que possam auxiliar na busca de caminhos. Hoje, boa parte da população adulta brasileira tem algum grau de analfabetismo. É preciso reconhecer que este é um problema grave e agir para solucionar. Esse tipo de situação é um exemplo de pautas estruturantes que serão trabalhadas durante meu mandato.
(Reprodução Redes Sociais Duda Salabert)
A senhora surgiu como representante LGBT, mas suas prioridades estão muito além dessa pauta. Esse esforço faz parte de uma estratégia para fugir de rótulos e não ser uma deputada de uma tecla só?
Moramos em um país onde o preconceito é gritante. Esse preconceito aparece também no esvaziamento da minha luta. A causa LGBT é fundamental. Eu carrego essa defesa no meu corpo. Mas eu e meu trabalho vamos muito além. Antes de ser política, sou professora, sou uma cidadã e tenho um mandato que quer contribuir para o país e ter voz nos debates da “grande política”. Queremos o diálogo com todos.
As eleições para o Senado e para a Câmara mostraram um Congresso ainda muito conservador. Como é defender essas pautas e vencer esses rótulos nesses espaços?
Conservadorismo não é um problema. O problema são grupos fascistas que usam o verniz do conservadorismo para atacar as instituições democráticas. É preciso ter clareza que o Congresso Nacional e o debate público têm que ser mais políticos e menos ideológicos. Nos últimos anos tivemos debates muito ideológicos. O problema nesse tipo de debate é o autoritarismo. A Câmara Municipal de Belo Horizonte já era conservadora quando eu fui eleita. Mesmo assim, conseguimos aprovar pautas importantes. Conseguimos construir pontes importantes com pessoas diferentes. É isso que a sociedade espera de nós. A derrota do bolsonarismo é um recado da sociedade brasileira que não quer mais muros se sobrepondo a pontes. É isso que o bolsonarismo fazia: construía muros dividindo a sociedade. Os brasileiros já mostraram que não querem mais isso.
Recentemente a senhora publicou dizendo que venceu “mesmo com ataques da esquerda, dos ciristas e ameaças de morte da extrema direita”. Esse preconceito dificultou seus planos para uma disputa ao governo estadual e atrapalha seus planos de futuro?
Não totalmente, ou não apenas isso. Além do preconceito existem disputas e questões partidárias. Mas o preconceito é estrutural e atravessa vários campos. O preconceito não é coisa só da direita.
Pensando nessas questões políticas da esquerda. Quais caminhos a senhora acha necessário para que esse campo retome posições e relevância política em Minas Gerais?
É preciso buscar unidade no campo progressista. Existem brigas internas que colocam pessoas e partidos acima dos interesses do campo. Mas também existe disposição para esta unidade. Já há conversas sendo feitas para disputar a Prefeitura de Belo Horizonte em 2024. Eu já fui convidada para me candidatar e participar desta disputa, mas disse que é cedo. Nem comecei como deputada. Mas mostra que existe projeto, pelo menos na capital. Belo Horizonte tem DNA progressista. É a cidade que elegeu Célio de Castro, Patrus Ananias e outros. A pessoa mais votada na cidade é uma travesti. Belo Horizonte é uma cidade de vanguarda e precisamos retomar essa característica.
Para a senhora, a palavra em relação ao futuro é medo ou esperança?
Esperança sempre. Eu uso sempre os versos do Caetano Veloso: É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte. Eu tenho esperança que essa crise que estamos enfrentando termine aproximando as pessoas e as ideias para um mundo melhor. A vitória de uma pessoa trans é a vitória da democracia. Democracia não é feita só com diversidades de pessoas e partidos, mas também pela diversidade de corpos e identidades. Quando o grupo LGBT avança, a sociedade e a democracia avançam.