A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), uma das principais defensoras do antigo governo de Jair Bolsonaro (PL) faz hoje reparos à atuação do presidente após a derrota para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e e se diz hoje contrária ao impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", ela confirmou ter procurado Moraes para criar novas pontes e disse que está tendo mais cuidado após o dia 8 de janeiro e que agora o foco deve agora ser de críticas a Lula.

"Tenho dito que, como deputada, minha briga não pode ser a mesma da legislatura passada. Eu tinha o papel de defender Bolsonaro e governo, qualquer um que os atacasse tinha que virar um alvo meu. Nesta legislatura, Bolsonaro não é mais presidente, então nosso alvo tem que ser Lula, seus feitos e desfeitos", disse ela na entrevista.

De acordo com Zambelli, Lula já cometeu crime de responsabilidade ao não fazer licitação para compra de móveis para o Palácio da Alvorada. Contudo, ela afirma que é preciso que haja um crime de aderência política. "Acredito que logo ele vai cometer. O Congresso vai perceber que ele não está fazendo o que prometeu. A economia vai começar a dar errado, e ele vai ficar impopular", disse Zambelli.

Apesar das críticas a Lula, a deputada também faz reparos à atuação de Bolsonaro após sua derrota nas urnas. "Bolsonaro, mesmo perdendo, tinha um papel fundamental na oposição. Discordo da maneira como ele levou aquele tempo todo (para falar após a derrota) e o silêncio que teve. Ele tinha que organizar a oposição, orientar a gente. Ele tinha 28 anos de Câmara. Tínhamos que mostrar nosso descontentamento até para incentivá-lo a ser a voz da oposição", critica.

23 de fevereiro

Segundo ela, na live que promoveu no dia 30 de dezembro, Bolsonaro "tinha que ter deixado claro o que pensava". "Ele seria um remédio se tivesse dito que era para as pessoas saírem dos quartéis", afirma a parlamentar.

Apesar de não considerar que a ida de Bolsonaro para os Estados Unidos tenha sido uma fuga, ela avalia que o ideal é que eles estivesse presidente. "Não acho que seja fugir. Passar um tempo fora para pensar no que vai fazer é legítimo. Mas concordo que ele deveria estar aqui para liderar a oposição. A gente teria mais condições, capacidade e força", afirmou.

Para Zambelli, com o risco de Bolsonaro ficar inelegível, é preciso preparar alternativas. "Ele pode ser candidato, mas a gente tem que preparar uma nova alternativa. A direita tem que ter quatro, cinco alternativas. Tem que ter Bolsonaro, Michelle, os filhos do Bolsonaro, Tarcísio e outros", destacou.

Na entrevista, ela também confirma ter procurado o ministro Alexandre de Moraes, como relatado pelo portal "Metrópoles", e afirmou que a liberação de suas redes sociais pode ter sido um aceno.

"Liguei e mandei um e-mail. Alguns dias depois, minha rede foi devolvida. Pode ter sido um gesto. Estou à disposição dele para conversar. porque ele vai ser um alvo do PT daqui a pouco. O PT não vai se contentar em indicar somente os dois ministros que vão se aposentar", afirma.

Para Zambelli, o impeachment de Moraes não ajudaria a direita hoje. "Não (acho que deveria haver impeachment de Moraes). Bolsonaro não ganhando, a gente tem que virar a chave. Qualquer impeachment no STF, o substituto vai ser indicado por Lula. Pode entrar uma pessoa que faça as maldades do Alexandre de Moraes parecerem uma criança chupando picolé", disse.

A deputada federal disse ainda que chegou a avaliar o risco de ser presa em razão dos embates mais duros com o STF para defender Bolsonaro. "Medo não é a palavra, mas expectativa, sim. Não como uma boa expectativa. Várias vezes fui dormir pensando que ia ter que acordar às 6h com a Polícia Federal na minha porta", disse, afirmando porém que nunca excedeu os limites de sua liberdade de se manifestar.