A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), em entrevista, apontou que a pauta de costumes em discussão no Congresso Nacional, por exemplo em relação ao casamento homoafetivo, é utilizada pelos bolsonaristas para desviar a atenção das denúncias envolvendo Jair Bolsonaro e para tentar manter uma base que vem perdendo apoio.

"A pauta de costumes tem dois sentidos. Uma é criar debate nesse momento intenso dentro do Congresso Nacional para nublar tudo o que está ocorrendo com os bolsonaristas e o próprio Bolsonaro. (...) O segundo é manter uma base que está caindo. Bolsonaro perde seguidores aos milhões todos os dias", afirmou a deputada.

Feghali destacou a dificuldade de avançar em questões como a descriminalização do aborto no Congresso Nacional e ressaltou a importância de entender o problema como uma questão de classe e de saúde pública. Ela defendeu que a descriminalização não implica em uma obrigação, mas sim em oferecer uma escolha às mulheres em determinadas condições.

"A possibilidade de uma mulher em determinadas condições poder se fazer valer de aborto não é aqui no Congresso Nacional já. Nós já passamos por muito espaço de dificuldades em relação a esse tema. É muito difícil aprovar esse tema no Congresso Nacional, por isso que isso acabou chegando no Supremo", explicou a parlamentar.

Ao abordar a atuação do Supremo Tribunal Federal sobre o tema, a deputada manifestou incerteza quanto ao resultado final do julgamento. Ela pontuou a importância de uma decisão progressista que esteja em sintonia com avanços já ocorridos em países da América Latina e do Sul. "A América Latina e a América do Sul inteira já evoluíram. Só falta o Brasil chegar numa posição melhor para reduzir o número de mortes de mulheres ou de complicações para elas e não permitir que uma mulher que tenha outros filhos deixe esses filhos órfãos pela ilegalidade do procedimento do aborto", concluiu Feghali.

A deputada também abordou a obstrução bolsonarista ao funcionamento da CPMI do 8 de Janeiro e as estratégias adotadas para avançar nas investigações. Ela ressaltou a importância dos depoimentos e da obtenção de dados por meio da quebra de sigilos para a conclusão do relatório. "Eu acho que não precisa alongar a CPMI para essa investigação porque não são só os depoimentos, são os dados que chegam também. Sigilos telemáticos, quebrados, telefônicos, quebrados, sigilo bancário quebrado", destacou a parlamentar.