JUDICIÁRIO

A defesa do ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, espera que o cliente seja solto no começo da próxima semana. O advogado do militar, Cezar Bitencourt, ingressou com um pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). A solicitação foi enviada ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que corre na Corte em que o oficial do Exército é investigado.

Mauro Cid está preso desde 3 de maio, ou seja, há mais de quatro meses. A Polícia Federal aceitou um acordo de delação com o militar e enviou o trâmite para o Ministério Público Federal (MPF) e para Moraes, para eventual homologação, de acordo com fontes da corporação ouvidas pela reportagem.

O MPF não necessariamente precisa concordar com o tratado para que ele ocorra. Com o acordo, a expectativa é que ele tenha benefícios no processo e seja liberado para responder em liberdade. Alexandre de Moraes vai avaliar o caso na semana que vem, mas há poucas chances de deferir a soltura neste momento.

Cid forneceu informações suficientes — e indicou provas — que, na avaliação dos investigadores, sustentam as declarações que foram feitas ao longo de duas semanas de depoimentos. Os investigadores passaram os últimos dias avaliando as oitivas do militar, os elementos apontados e novas linhas de investigação que podem ser abertas no caso que envolve a venda de joias sauditas no exterior. Ele também ofereceu informações sobre a invasão dos sistemas de informática do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e da fraude no cartão de vacinação de Bolsonaro e parentes do ex-presidente.

Uma das novidades em relação ao caso é a suspeita de negociação envolvendo imóveis por parte da família Bolsonaro nos Estados Unidos entre o ano passado e o começo deste ano. As investigações em curso no Brasil apontam que parte das pedras preciosas sauditas doadas ao governo brasileiro foram objeto de uma operação para tentar burlar o fisco. A intenção seria incorporar os bens ao patrimônio pessoal de Bolsonaro e demais envolvidos. Os objetos preciosos, repassados pelo governo da Arábia Saudita, foram apreendidos no Aeroporto de Guarulhos.

A investigação envolve outros itens de elevado valor que deveriam estar no acervo do Planalto. De acordo com a legislação, os presentes têm que ser incorporados ao acervo da União. Como foram entregues em agenda internacional oficial, são de propriedade da República, e não de uso pessoal.

Um dos objetos listados, um relógio Rolex de elevado padrão, foi vendido nos Estados Unidos durante uma viagem do ex-presidente Jair Bolsonaro. A PF identificou que o relógio foi recomprado posteriormente, quando os acusados temeram que o TCU determinasse a devolução dos presentes.

A provável delação de Mauro Cid está causando apreensão em Jair Bolsonaro, na ex-primeira-dama Michelle e em aliados. O advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, que também aparece em conversas sobre as joias interceptadas pela Polícia Federal, afirmou, pelas redes sociais, que "não existe nada a ser delatado". As autoridades brasileiras esperam contar com informações do FBI (agência de informações dos Estados Unidos), em uma cooperação internacional, para conseguir elucidar o caso. A solicitação de colaboração foi enviada ao Departamento de Justiça daquele país pelo Ministério da Justiça.