Ao formalizar sua filiação ao PSDB após ter sido expulso do PSL, o deputado federal Alexandre Frota (SP) afirmou nesta sexta-feira (16) que não fica constrangido em pertencer ao partido de Aécio Neves, acusado de corrupção.
 
"Não fico [constrangido], imagina, eu estava num partido que tinha o Queiroz", disse a jornalistas, referindo-se ao escândalo de movimentações suspeitas nas contas do ex-assessor de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).


O evento de filiação teve a participação do governador paulista, João Doria (PSDB), que articulou a entrada de Frota no partido, e do presidente da sigla, Bruno Araújo.


"Não estamos filiando Alexandre Frota para fazer oposição ao governo Bolsonaro, estamos filiando Frota para ajudar a defender o Brasil", disse Doria.


"Para ajudar esse novo Brasil, nós não precisamos estabelecer nenhum tipo de antagonismo com quem quer que seja, mas defender as boas causas", completou o tucano.


Frota foi expulso do PSL, partido de Jair Bolsonaro, na terça (13), por ter feito críticas reiteradas ao presidente a a seu governo. Ele foi acusado de infidelidade partidária. 


Ao acolher o deputado, Doria dá mais um sinal de distanciamento do presidente da República.


Ambos devem se enfrentar em 2022, já que o tucano tem planos de concorrer à Presidência. Após ter colado em Bolsonaro para se eleger no segundo turno no ano passado, Doria tem feito contrapontos ao presidente e já disse não ter alinhamento político com ele. 


Frota, que já criticou o PSDB no passado, disse ter mudado de ideia em relação ao partido. "É, mudei, estou aqui", respondeu. O parlamentar já chamou o PSDB de sujo e corrupto em vídeo gravado antes da campanha eleitoral de 2018.


Na gravação, Frota critica duramente o então pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) por sua aliança com partidos do centrão. Diz que o tucano "está de quatro" e outras referências mais impublicáveis. Afirma que o PSDB e o PT são igualmente corruptos, é que a sigla tucana é "suja como a bunda do PT".


Nesta sexta, Frota afirmou que não se arrepende de nada do que disse. "Isso é coisa do passado, pra mim o PSDB começa agora."


Alckmin não esteve no evento de filiação, que teve a presença do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), de dirigentes locais e dois deputados federais. A militância tucana estava em menor número em comparação com atos semelhantes anteriores.


A chegada de Frota encontra resistência entre alguns tucanos, que estudam entrar com uma representação contra a filiação. A possibilidade de isso prosperar, porém, é baixa porque a presidência nacional do partido, nas mãos de Araújo, é alinhada a Doria. 


A filiação do deputado também foi recebida com ressalvas na bancada feminina do PSDB. Em 2015, em entrevista na televisão, ele narrou um suposto estupro que cometeu. O caso lhe rendeu uma acusação de apologia ao estupro, que terminou arquivada.


Após a expulsão, Frota disse ter recebido convites de sete partidos –DEM, PP, MDB, PSDB, Podemos, PSD e PRB. A proximidade com Doria ajudou na decisão. O deputado se reuniu com dirigente do PSDB até as 23 horas de quinta (15) para acertar a migração.


Em entrevista à Folha de S.Paulo, o deputado afirmou que Bolsonaro é um "idiota ingrato que nada sabe", que a cadeira de presidente ficou grande para ele e que o atual governante do país "se lambuzou com o mel da Presidência". Frota disse ainda que Bolsonaro foi quem pediu sua expulsão do PSL.