A MP da Grilagem, que teve sua votação adiada na última terça, 12/5, corre o risco de caducar. É mais um limite da Câmara Federal aos arroubos autoritários do presidente Bolsonaro, que pretende, com o projeto, legalizar milhares de imóveis rurais, inclusive de invasores de terras da União.

Até agora, o presidente tem governado dentro de um cercadinho institucional, com a autoridade cerceada pelos outros poderes, em especial pela Câmara e pelo STF.  Mas isso está para mudar, com o assalto à Câmara que o presidente prepara através do acordo com o Centrão.

A ideia vai além de afastar qualquer ameaça de impeachment criando uma maioria aliada, como fez seu antecessor Michel Temer. O plano é acabar mesmo com o parlamentarismo branco que permitiu a Rodrigo Maia e companhia controlarem a pauta no Congresso, votando apenas o que querem e barrando o projeto ditatorial de Bolsonaro.

Ao tomar o controle da Câmara, Bolsonaro mata dois coelhos com uma cajadada: livra-se de um eventual impeachment e acelera sua pauta conservadora, trazendo reais benefícios para igrejas evangélicas, ruralistas, madeireiros, mineradores, desmatadores e armamentistas que, não por acaso, compõem suas principais bases eleitorais.

Coincidência ou não, os beneficiados estão todos lá no Centrão, representados nas bancadas da bala, da bíblia e do boi e aguardando com ansiedade o que lhes foi prometido em campanha. São prejuízos claros, por exemplo, ao meio ambiente, área da qual saem projetos, portarias e medidas provisórias autorizando garimpo de ouro em terras indígenas e desmate em áreas protegidas como a Mata Atlântica.

Estão lá também agrados aos eleitores armamentistas como menos controle sobre a produção e comercialização de armas e a permissão para compra de doze vezes mais munição. Para os pastores e suas igrejas, está na pauta o perdão de suas dívidas com a Receita Federal.

Segundo o ex-ministro José Dirceu, em artigo publicado por Os Novos Inconfidentes, o acerto com o Centrão – do qual não escapou nenhum presidente da crônica política recente – inclui ainda eleger em fevereiro do ano que vem um presidente da Câmara alinhado com o governo e  ao mesmo tempo esperar as aposentadorias no STF para tentar anular sua ação constitucional.

De uma tacada só, o presidente conseguiria neutralizar as duas forças que hoje contêm seu projeto e avançar ainda mais na pauta conservadora, inclusive nas questões de costumes. Ter uma câmara pra chamar de sua é um plano ambicioso, cujo objetivo básico é reforçar o apoio dos 30% da população que já são dele. Se vai dar certo, não se sabe, afinal é um longo caminho a percorrer. Mas se der, aí, como diria o presidente em uma reunião ministerial….fudeu.