Cinco anos depois do fim de sua terceira temporada, Sessão de terapia voltou com novos episódios e nova configuração, a começar pela figura central da série. Diretor das temporadas anteriores, Selton Mello assume agora também o papel de terapeuta, substituindo o ator Zécarlos Machado, que vivia o psicólogo Theo Cecatto. Outra novidade é que a série estreou primeiro no Globoplay, na última sexta-feira (30), e só no ano que vem chegará ao GNT, canal que exibiu as três primeiras temporadas (entre 2012 e 2014), agora disponíveis na plataforma de streaming da Globo.
 
 
Aos 46 anos, Selton Mello tem experiência em estar, ao mesmo tempo, atrás e na frente das câmeras. Em produções como os longas O palhaço (2011) e O filme da minha vida (2017), por exemplo, ele já se dividia entre a atuação e a direção. "Esse é um processo mais doido para quem está de fora. A (atriz) Fabiula (Nascimento, que está no elenco da nova temporada), por exemplo, falou que, nos primeiros dias, ficava mais me assistindo fazer essa maratona do que qualquer outra coisa", conta o ator e diretor. 
 
"Quem está de fora fica assim: ‘Peraí, ele virou a câmera para ele, está emocionado, já virou para mim, está me dirigindo’. Mas acho que é porque faço isso desde criança. Para mim, não tem mistério, principalmente essa série, que já tinha um tom, um ritmo, um jeito de contar. Isso eu não mudei."

Mas a dupla jornada de Selton não foi algo planejado quando ele, o produtor Roberto d’Ávila e o GNT decidiram retomar a série. Eles esbarraram numa questão: Zécarlos Machado é contratado da Record. "Isso foi um certo drama: cancela, não dá. Mas o Roberto e o GNT falaram: 'Não, vamos nessa. É sua série, a gente troca o terapeuta, de repente um cara mais novo, com outras questões, outro jeito de trabalhar", lembra.
 
Selton partiu, então, em busca de seu novo protagonista. Outro impasse. Atores que ele sondou, como Alexandre Nero, estavam com agenda cheia, mas fizeram a mesma sugestão: que o próprio Selton interpretasse o papel. "Aconteceu igualzinho no Palhaço: levei para o (Rodrigo) Santoro, ele falou: 'Selton, O palhaço é uma história linda, mas estou ocupado, tenho que filmar, mas esse personagem é teu, você escreveu, é a tua cara, faz'. Foi igualzinho agora."
 
O novo psicanalista é Caio Barone, que tem um vínculo com Theo – Caio fazia terapia com ele na adolescência. "Caio tem um pouco mais de humor, talvez o Theo, mais velho, fosse um pouco mais sisudo", comenta Selton. Baseada na série israelense BeTipul, Sessão de terapia, com roteiro de Jaqueline Vargas, tem como cenário principal o consultório. É ali que se concentra a história: a relação entre terapeuta e paciente, a complexidade dos personagens, as tensões, os dramas sendo expostos aos poucos.

 

Pacientes

Globoplay/Divulgação
(foto: Globoplay/Divulgação)

 

No GNT, cada personagem ocupava um dia da semana específico, de segunda a sexta, no divã do consultório. No Globoplay, essa estrutura se mantém, mas todos os 35 episódios desta quarta temporada já estão disponíveis para ser “maratonados”. Os novos pacientes, com diferentes perfis e idades, são: Haidée Ortiz (Cecília Homem de Mello), Guilhermina Nowak (Lívia Silva), Nando Batista (David Junior) e Chiara Ferraz (Fabiula Nascimento). Frente a frente com o terapeuta, eles trazem à tona temas como depressão, vitimização e abuso. 
 
Caio também enfrenta uma tragédia pessoal, mas não deixa que isso interfira em seu trabalho. O terapeuta também precisa de ajuda e conta com o suporte de Sofia, sua supervisora, personagem vivida por Morena Baccarin, que entra no lugar da atriz Selma Egrei. Conhecida por seu trabalho em produções como Gotham e Deadpool, a atriz foi convidada pelo amigo Selton para entrar no projeto.
 
Nascida no Brasil, Morena vive desde criança nos Estados Unidos, onde construiu sua carreira. Sessão de terapia é o primeiro trabalho da atriz no Brasil e em português. Selton e Morena se conhecem desde que o ator rodou os EUA mostrando seu filme O palhaço, que buscava uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro como representante do Brasil.
 
"Mantivemos contato, ela trabalhando pra caramba, eu também. Eu falava: 'Você tem que vir um dia'. Ela dizia: 'Sempre me chamam para fazer trabalhos, mas não conheço as pessoas. Muitas vezes, eu não posso'. Agora, juntou tudo, ela confiava em mim, amou o roteiro, amou a ideia de fazer a terapeuta do terapeuta", conta ele.
 
"Sofia é uma terapeuta/supervisora excelente, que ajuda muito Caio nas questões, apesar de ele lutar contra muitas coisas que está sentindo e, no meio dessa confusão, ele fica encantado por ela. E ela coloca todas as barreiras nisso, porque pode ser que ele esteja só querendo tapar algum buraco emocional."

Volta às novelas

Enquanto divulga Sessão de terapia, Selton Mello se prepara para voltar às novelas depois de 20 anos. Seu último trabalho num folhetim foi em Força de um desejo, exibido entre 1999 e 2000 – também em 1999, ele fez sucesso como Chicó na minissérie O auto da compadecida, que virou filme. Em 2020, Selton Mello viverá dom Pedro II na novela das 18h Nos tempos do imperador, continuação de Novo mundo, também dos autores Alessandro Marson e Thereza Falcão.
 
"Estou vendo Novo mundo agora. Um dos estudos que estou fazendo é, às vezes, ficar assistindo aos capítulos da novela. Sou filho de Leticia Colin e Caio Castro. Adoro produção de época, estudar um outro período, os figurinos, a direção de arte, e fiz muito. Sou um especialista nisso, Os Maias, Ligações perigosas, a própria  Força de um desejo era uma novela de época", diz ele, que já reservou seu próximo ano para a novela. "Fiquei fascinado com a ideia de fazer dom Pedro II, agora que estou lendo os livros, entendendo quem foi, e mergulhando mais, aos poucos. E achei fascinante também voltar para esse formato. É um formato tão tradicional, tão brasileiro, e eu não fazia há muito tempo." Nesse período, Selton se dedicou ao cinema e às séries. "O motivo de eu ter saído (das novelas) é o mesmo pelo qual estou voltando. Quis experimentar formatos. O cinema estava bombando, e estavam me chamando muito. Fiz filme comercial, fiz comédia, fiz Julio Bressane, fiz Carlão Reichenbach, Árido movie. Testei várias formas de fazer cinema: com dinheiro, sem dinheiro, velha-guarda, novos diretores. Depois comecei a dirigir. Aí depois veio o streaming, a TV a cabo. Agora olho e falo: ‘Já fiz isso tudo, o que teria de novidade agora?’. Novela é uma (opção), teatro é outra, que não faço há mais de 10 anos. Atuar em outras línguas, por exemplo, é uma outra coisa. Essas são as novidades para mim. O resto eu já fiz um pouco de tudo." (Agência Estado)