Foi o filme “A Culpa é das Estrelas” que deu uma reviravolta numa temática que, desde “Love Story – Uma História de Amor”, no início dos anos 70, parecia inalterada: a doença que servirá de obstáculo à concretização do enlace amoroso. O adoecimento aparecia na metade da história, num momento de felicidade do casal.

Baseado no livro homônimo de John Green, “A Culpa é das Estrelas” já apresenta os personagens debilitados pela doença, conhecendo-se a partir deste instante de transformação radical de suas vidas. É o mesmo caminho seguido por “Depois de Tudo”, que o canal TNT (TV paga) exibe hoje, às 22h30.

Elliot (Jeremy Allen White) praticamente conhece Mia (Maika Monroe) quando descobre que está com um tumor. Fica bem claro que a doença é o que os aproxima. Mia passa a preencher um buraco na vida com a dedicação a Elliot, enquanto este se vê reconfortado por uma mulher que não se mostra preocupada com a morte dele.

Na cultura ocidental, é muito comum a ideia de proximidade da morte como um cessamento da vida. Filmes como “A Culpa é das Estrelas”, “A Cinco Passos de Você” e “Depois de Tudo” ajudam a mudar este pensamento, enxergando uma forma de esplendor sob a capa de um drama teen.

A morte entra na história como mais um elemento entre vários outros, como a descoberta do amor num hospital, a realização de seus sonhos ou de um motivo para viver. “Depois de Tudo” ocupa uma faixa etária um pouco acima, embora a interferência familiar seja praticamente idêntica aos outros dois longas.

O que nos interessa em “Depois de Tudo” é como, ao contrário do que ocorre normalmente, a doença mascará todos os problemas. É como se criasse uma espécie de oásis temporal, deixando-os em estado de permanente suspensão. Curiosamente, é o câncer de Elliot que protege e prolonga o amor com Mia. 

Pressa


Quando a doença deixa de ser a protagonista, será o momento de eles finalmente conhecerem quem são realmente. A ideia de morte vinha, até então, tornando todo o resto uma questão menor, queimando o que seriam etapas corriqueiras de uma relação. Há um certo adensamento apressado voltado para o que é essencial: o amor.

É neste ponto que “Depois de Tudo” perde o prumo, acelerando situações para mostrar um certo desgaste quando o horizonte para o casal se torna mais amplo. Os objetivos a longo prazo são muito distintos, mas o roteiro não consegue dar conta dessa crise, tratando-a com superficialidade.

Apesar da química entre Maika e White ser evidente, falta aqui uma pitada daquilo que “História de um Casamento” – indicado ao Oscar deste ano – tenha mostrado de sobra: as pequenas fissuras do dia a dia. Mesmo quando o filme não tenta se levar a sério, como nas despretensiosas cenas com os amigos da dupla.