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É esse caso, incrivelmente pouco conhecido nacionalmente, que chegou nesta quinta-feira (13) à HBO, na TV e no streaming, em “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, série de seis episódios dirigida por Andrucha Waddington e com Marjorie Estiano no papel título - no que provavelmente será apontada como a melhor atuação de sua carreira até agora. “Essa história estava pra ser contada há 49 anos”, disse Andrucha, em entrevista coletiva à imprensa brasileira.
Não bastasse ter sido morta com quatro tiros, Ângela foi transformada em ré no julgamento de seu assassino. Se, como mulher desquitada, ela já era malvista, depois de morta foi retratada como vagabunda, louca, péssima mãe, “uma prostituta de alto luxo da Babilônia”. Evandro Lins e Silva, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e advogado de defesa de Doca Street interpretado magistralmente por Antônio Fagundes, sustentou que ela “provocava”, “merecia”, e utilizou a tese de “legítima defesa da honra” para livrar o criminoso da cadeia.
Marjorie, que aceitou o convite para a série sem saber quem havia sido Ângela Diniz, foi - ou ainda está sendo - transformada pela personagem. “Ter feito a Ângela foi um processo psicanalítico. Uma personagem que se permite o prazer é algo muito importante na sociedade brasileira. A gente sente muita culpa de sentir prazer, de tirar férias, de se divertir, e a Ângela se autorizava a se dar prazer. A beleza da vida é viver. Eu me identifico muito com essa falta de autorização, pra mim a vida sempre foi trabalho, compromisso, então foi uma oportunidade de me experimentar na liberdade, no prazer. Essas conquistas a gente vai conseguindo com tempo e exercício”, refletiu a atriz.
Sem pedir desculpas por fazer o que quer
Camila Márdila, que faz Lulu, uma das amigas que Ângela fez quando se mudou de Belo Horizonte para o Rio, lembra que a tese da legítima defesa da honra pode até não existir mais juridicamente (foi considerada inconstitucional pelo STF em 2023), mas ainda é a origem de toda violência de gênero. Ela destacou, na coletiva, ter sido impactada pelas escolhas de Marjorie Estiano e Andrucha Waddington, que bancaram uma Ângela libertária, que não tinha dono e não se desculpava por querer viver tudo o que tinha direito. “Homens e mulheres ainda não estão preparados para isso”, afirmou.
“Normalmente, para defender a Ângela. usa-se o estereótipo de que ela era amantíssima com os filhos, uma mulher como ela deve ser. E a Marjorie não fez isso, ela fez uma mulher libidinosa, desejosa, e isso é uma libertação para nós. Usar o corpo como quer, usar a roupa como quer, sem que isso seja um convite para ninguém”, acrescentou Yara de Novaes, que, no papel de Maria, mãe de Ângela, representa alegoricamente a conservadora sociedade mineira.
“Acho que a série vai dividir opiniões, porque ainda vai ter gente que vai olhar e pensar ‘hum… mas ela merecia’”, concluiu Camila. “Estou emocionada e muito curiosa para saber como o público vai reagir a essa história e provocar a reflexão sobre o que podemos fazer sobre essa situação hoje”, afirmou Marjorie Estiano, que se disse diretamente impactada pela violência de gênero.
O encanto do diálogo silencioso
“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” tem muitos tiros, gritos, risadas, tapas. Mas o que fala mais alto, muitas vezes, é o silêncio. “Não necessariamente, na dramaturgia, a câmera tem que estar em quem fala. A estrutura narrativa tem muitos diálogos silenciosos. Tem uma coisa sendo dita e outra coisa acontecendo pelos olhares dos personagens”, explica o diretor Andrucha Waddington.
“Ângela Diniz” foi realmente gravada de forma rara para séries. “Filmamos o julgamento em quatro atos, em ordem cronológica. Ia dando uma angústia... E o tribunal era uma chacrinha, uma zona, o pessoal torcendo, chamando ela de piranha pra baixo. Foi tão real que dava nervoso”, comentou Andrucha. “Você não consegue ficar quieta na cadeira, nós ficávamos ali entre os personagens e nós mesmas, dava vontade de mandar calar a boca”, brincou Camila Márdila.
“Era como um teatro. Como o Andrucha foi filmando, a gente foi vendo os personagens emergirem. O trabalho do Emilio Dantas como Doca Street e do Antônio Fagundes como advogado de defesa foi incrível”, observou Yara de Novaes – que, na entrevista, revelou suas lembranças, ainda pequena em Belo Horizonte, do falatório sobre Ângela – que foi das capas de revistas e das colunas sociais para as páginas policiais, primeiro pelo assassinato de seu caseiro pelo namorado da época, depois por porte de maconha e pelo “sequestro” da filha, crime que foi determinante na perda da guarda.
Preste atenção
Viagem no tempo
Direção de arte, figurino e fotografia levam nota 10 na retratação do lado luminoso e glamouroso do Rio de Janeiro dos anos 1970. Carros, telefones, piscinas, comidas, tudo está a serviço da época.
Vai ter playlist
A música é um objeto de cena, um personagem, fruto da equação entre extensa pesquisa de época e o tamanho do orçamento.
Onde assistir
“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” – no canal HBO e no streaming HBO Max, foi exibido nesta quinta (13), com os dois primeiros episódios. Os demais saem toda quinta, às 21h.
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Não bastasse ter sido morta com quatro tiros, Ângela foi transformada em ré no julgamento de seu assassino. Se, como mulher desquitada, ela já era malvista, depois de morta foi retratada como vagabunda, louca, péssima mãe, “uma prostituta de alto luxo da Babilônia”. Evandro Lins e Silva, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e advogado de defesa de Doca Street interpretado magistralmente por Antônio Fagundes, sustentou que ela “provocava”, “merecia”, e utilizou a tese de “legítima defesa da honra” para livrar o criminoso da cadeia.
Marjorie, que aceitou o convite para a série sem saber quem havia sido Ângela Diniz, foi - ou ainda está sendo - transformada pela personagem. “Ter feito a Ângela foi um processo psicanalítico. Uma personagem que se permite o prazer é algo muito importante na sociedade brasileira. A gente sente muita culpa de sentir prazer, de tirar férias, de se divertir, e a Ângela se autorizava a se dar prazer. A beleza da vida é viver. Eu me identifico muito com essa falta de autorização, pra mim a vida sempre foi trabalho, compromisso, então foi uma oportunidade de me experimentar na liberdade, no prazer. Essas conquistas a gente vai conseguindo com tempo e exercício”, refletiu a atriz.
Sem pedir desculpas por fazer o que quer
Camila Márdila, que faz Lulu, uma das amigas que Ângela fez quando se mudou de Belo Horizonte para o Rio, lembra que a tese da legítima defesa da honra pode até não existir mais juridicamente (foi considerada inconstitucional pelo STF em 2023), mas ainda é a origem de toda violência de gênero. Ela destacou, na coletiva, ter sido impactada pelas escolhas de Marjorie Estiano e Andrucha Waddington, que bancaram uma Ângela libertária, que não tinha dono e não se desculpava por querer viver tudo o que tinha direito. “Homens e mulheres ainda não estão preparados para isso”, afirmou.
“Normalmente, para defender a Ângela. usa-se o estereótipo de que ela era amantíssima com os filhos, uma mulher como ela deve ser. E a Marjorie não fez isso, ela fez uma mulher libidinosa, desejosa, e isso é uma libertação para nós. Usar o corpo como quer, usar a roupa como quer, sem que isso seja um convite para ninguém”, acrescentou Yara de Novaes, que, no papel de Maria, mãe de Ângela, representa alegoricamente a conservadora sociedade mineira.
“Acho que a série vai dividir opiniões, porque ainda vai ter gente que vai olhar e pensar ‘hum… mas ela merecia’”, concluiu Camila. “Estou emocionada e muito curiosa para saber como o público vai reagir a essa história e provocar a reflexão sobre o que podemos fazer sobre essa situação hoje”, afirmou Marjorie Estiano, que se disse diretamente impactada pela violência de gênero.
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“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” tem muitos tiros, gritos, risadas, tapas. Mas o que fala mais alto, muitas vezes, é o silêncio. “Não necessariamente, na dramaturgia, a câmera tem que estar em quem fala. A estrutura narrativa tem muitos diálogos silenciosos. Tem uma coisa sendo dita e outra coisa acontecendo pelos olhares dos personagens”, explica o diretor Andrucha Waddington.
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“Era como um teatro. Como o Andrucha foi filmando, a gente foi vendo os personagens emergirem. O trabalho do Emilio Dantas como Doca Street e do Antônio Fagundes como advogado de defesa foi incrível”, observou Yara de Novaes – que, na entrevista, revelou suas lembranças, ainda pequena em Belo Horizonte, do falatório sobre Ângela – que foi das capas de revistas e das colunas sociais para as páginas policiais, primeiro pelo assassinato de seu caseiro pelo namorado da época, depois por porte de maconha e pelo “sequestro” da filha, crime que foi determinante na perda da guarda.
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Viagem no tempo
Direção de arte, figurino e fotografia levam nota 10 na retratação do lado luminoso e glamouroso do Rio de Janeiro dos anos 1970. Carros, telefones, piscinas, comidas, tudo está a serviço da época.
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